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Em live, bispos do Brasil comentam Relatório de Liberdade Religiosa 2021

Apresentação do relatório no Brasil aconteceu na noite desta terça-feira, 27

Julia Beck
Da redação

Jornalista e bispos brasileiros durante live da ACN Brasil desta terça-feira, 27 /Foto: Reprodução Youtube – ACN Brasil

Cardeais e bispos brasileiros participaram da live promovida pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) para a apresentação do Relatório de Liberdade Religiosa 2021 no Brasil.

O evento, apresentado pelo jornalista Aldo Quiroga, foi uma iniciativa da ACN Brasil. A transmissão contou com a participação do Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor de Oliveira.

Também contribuíram para a live o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), Cardeal Orani Tempesta; o arcebispo de São Paulo (SP), Cardeal Odilo Pedro Scherer; e o arcebispo de Salvador (BA), Cardeal Sérgio da Rocha.

Mensagem do assistente eclesiástico da ACN Brasil

A abertura do evento on-line contou com uma mensagem do assistente eclesiástico da ACN Brasil, Frei Rogério Lima. O religioso afirmou que o momento era significativo e lembrou que o Relatório de Liberdade Religiosa é lançado desde 1999 a cada dois anos.

A nova edição conta com 800 páginas e, segundo o frei, não tem o objetivo de defender uma ou outra religião. “O objetivo é defender o direito fundamental de cada ser humano de ter ou não ter nenhuma religião”, frisou.

O relatório engloba realidades existentes em mais de 196 países do mundo. O importante, segundo Frei Rogério, é que o trabalho seja acolhido como um serviço à toda a sociedade.

Conclusões do relatório

Em breve conclusão, a ACN apontou alguns dados constatados pelo relatório. Em 26 países, cerca de quatro bilhões de pessoas sofrem ataques mais intensos contra a liberdade religiosa. Desses 26 países, 50% estão localizados na Ásia.

Na China e na Coreia do Norte, a liberdade religiosa é inexistente. Nesses locais, encontra-se os piores criminosos.

Mianmar sofreu ataques por militares e outros grupos contra a liberdade religiosa. No Paquistão, mulheres e meninas são sequestradas, estupradas e obrigadas a mudar de fé. Elas se tornam escravas sexuais.

Em 36 países não ocorre liberdade religiosa plena. A pandemia da Covid-19 teve profundas implicações. Grupos militantes têm aproveitado que os governos estão ocupados com a crise sanitária para perseguir minorias religiosas.

Na África, extremistas islamistas intensificaram ataques. O continente africano, juntamente com a Ásia e o Oriente Médio, apresentaram aumento do genocídio.

Nas mudanças positivas está o progresso de diálogo, a atuação de lideres religiosos na ajuda da resolução de conflitos e os frutos da visita do Papa Francisco aos Emirados Árabes Unidos. Também o Documento sobre a Fraternidade Humana foi citado.

Perseguição religiosa extrema

A representante da ACN junto à União Europeia, Marcela Szymanski, comentou dados sobre a perseguição religiosa extrema.

Os locais que registram grandes ameaças à liberdade religiosa abrigam cerca de 2/3 da população do mundo. “Uma a cada três pessoas vive nesses países onde as violações ocorrem”, observou. Esse número corresponde a 5 bilhões de pessoas.

“Todos que cometem violação tem como objetivo eliminar a diversidade religiosa no território. A China é o exemplo mais chocante” – Marcela Szymanski

De acordo com a representante da ACN, a China tem um governo autoritário que persegue e elimina os fiéis muçulmanos. “Ela cometeu o pior crime contra a humanidade”.

O mundo não pode se calar

Na Índia, Marcela constatou que houve um aumentou da violência sexual contra minorias religiosas. Segundo a representante da ACN, há um disfarce para falar do crime como uma “confissão forçada”. O termo, “confissão forçada” é considerado errado, pois não há consenso da vítima.

Junto ao crime contra a liberdade religiosa, Marcela observa que muitos outros crimes civis são desrespeitados. Ela citou a escravidão sexual que existe sob o pretexto de afinidade religiosa e o crescimento de grupos terroristas. “Avançam como praga de gafanhotos”.

“A diversidade religiosa desapareceu”, destacou. Para a representante da ACN, governos do mundo não podem se calar.

Liberdade religiosa é inegociável

Em sua participação, Dom Walmor de Oliveira sublinhou que a liberdade religiosa é garantia inegociável do direito que cada pessoa tem.

A religião, explicou o presidente da CNBB, é uma necessidade humana, uma dimensão essencial à vida. “O ser humano não depende apenas de bens, razão, ciência, mas também da fé”, frisou.

O credo é uma forma que homens e mulheres encontram respostas profundas para dar sentido ao próprio viver, disse o bispo. Logo, Dom Walmor ressaltou que a dimensão religiosa é imprescindível.

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“A beleza singular do encontro com o transcendente fortalece o coração humano”, destacou.

Para o arcebispo de BH, a religião deve ser ponte que une. Diferenças não deveriam ser motivo de violência e preconceito. E a liberdade religiosa não é uma simples concessão, mas essencial nas relações comunitárias e familiares.

“A liberdade religiosa é dom, direto, necessidade e caminho inegociável” – Dom Walmor de Oliveira

Lei sobre liberdade religiosa

Cardeal Odilo comentou sobre a diferença entre um país ser declarado laico e ser declarado não religioso. O Brasil, recordou, é um estado laico e a constituição deixa muito claro: não adota e não impõe uma religião.

O país respeita a religião e também a “não religião”, ou seja, zela e garante essa liberdade, apontou o arcebispo de São Paulo.

Sobre as nações antirreligiosas, elas usam seu poder e autoridade para impedir os cidadãos de desempenharam suas crenças religiosas. “Privilegia uma religião e pretende impô-la a todos”, constatou.

O purpurado afirmou que é preciso agradecer a sabedoria da nossa constituição. “Ela tem desdobramentos como a livre expressão, prática e manifestação religiosa”.

Religiões afro-brasileiras

Cardeal Orani comentou sobre as muitas religiões afro-brasileiras que sofrem alguns tipos de perseguição no Brasil. O arcebispo do Rio de Janeiro comentou como a igreja local atua neste caso.

Comissões de combate à intolerância religiosa são uma realidade na Arquidiocese do RJ. De acordo com o bispo, muitas denúncias são recebidas.

Uma realidade percebida é o aumento do fanatismo religioso – consequência de grupos religiosos que atuam no estado.

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O purpurado citou também o importante trabalho da Comissão para o Diálogo Ecumênico e Inter-religioso. Segundo ele, encontros presenciais e agora, com a pandemia, virtuais, são realizados.

“Encontramos com membros de várias religiões para termos projetos em comum. Lives semanais sobre o tema também são realizadas”, recordou.

Dom Orani conta que a Igreja no Rio de Janeiro acolhe vítimas de ataques religiosos e busca fazer sua parte. “Trabalhamos contra a intolerância e em favor da liberdade. Esse diálogo faz com que conheçamos o outro, suas convicções e ideias. Isso não tira a nossa fé”, sublinhou.

Sincretismo religioso

O sincretismo religioso, mais comum na Bahia, é também um tipo de religião que sofre preconceito e intolerância. Cardeal Sérgio da Rocha revelou que é preciso enxergar que esta realidade de ameaça da liberdade religiosa acontece em situações próximas a nós.

“É preciso atenção. Não só as violações extremas fazem sofrer, mas aquelas também que ocorrem de maneira disfarçada no dia a dia” – Dom Sérgio da Rocha

De acordo com o purpurado, não se deve jamais concordar ou fortalecer a intolerância religiosa. “Não desrespeitar, fazer comentários pejorativos”, complementou.

“O relatório serve de alerta para não reproduzirmos ou justificarmos violações à liberdade religiosa entre nós. É preciso favorecer o respeito ao outro, à convivência e ao diálogo”.

Política e religião

Sobre autonomia da política na religião, Dom Walmor sublinhou que é importante a comunidade católica testemunhar o evangelho com autenticidade no mundo da política.

Segundo o arcebispo de BH, é preciso respeitar a laicidade do estado e buscar consolidar a amizade social.

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“Católicos não podem deixar-se enganar por proselitismo, por quem age com violência ou desrespeita os pobres e mais vulneráveis, por quem desrespeita a vida”, argumentou.

Buscar caminhos que permitam a superação da radicalização especialmente as que se fundamentam em confrontos relacionados à religião é importante.

“O ocidente tem menosprezado as ferramentas que diminuem a radicalização”, comentou.

Violência combatida sem violência

A pichação de igrejas e destruição de imagens são realidades que atingem diretamente os católicos no Brasil. Diante da situação que pode gerar revolta e mais violência, Cardeal Sérgio ressaltou que a violência não deve ser combatida com mais violência.

“Na própria oração do Pai-Nosso, dizemos: perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Somos chamados a vivenciar essa oração e perdoar sempre”, frisou.

Cultivar relacionamentos fraternos, respeitosos e jamais justificar a violência, esse foi o pedido do cardeal.

“Queremos ser respeitados, por isso devemos respeitar e contribuir para a cultura do diálogo. As lideranças religiosas têm papel fundamental”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

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