Dia Mundial das Missões

Padre aos batizados: “Somos missionários, portanto somos missão”

Diante da proximidade do Dia Mundial das Missões, padre exorta fiéis a evangelizarem; seminaristas relatam experiência missionária no Xingu

Julia Beck
Da redação

Seminarista Eduardo da Diocese de Lorena, durante missão na Prelazia do Xingu/ Foto: Eduardo Augusto – Arquivo Pessoal

Ser católico é ser missionário? Diante da proximidade do Dia Mundial das Missões, celebrado pela Igreja Católica, neste domingo, 20, o missionário redentorista e secretário nacional da Pontifícia União Missionária, padre Antônio Niemiec, esclarece: “Somos missionários, portanto somos missão”. Segundo o sacerdote, pelo Batismo e demais sacramentos de iniciação à vida cristã, os católicos são inseridos no corpo de Cristo para serem seus discípulos missionários e testemunhas de Jesus Cristo, na vida eclesial e nos diferentes setores da sociedade.

Padre Antônio Niemiec /Foto: POM

Sobre a missão indelegável dos batizados, padre Antônio citou o trecho da Exortação Apostólica do Papa Francisco, Evangelii Gaudium, no qual o Pontífice fala sobre a dimensão existencial da missão: “Ser discípulo missionário está além de cumprir tarefas ou fazer coisas. Está na ordem do ser. É existencial, identidade, essência e não se reduz a algumas horas do dia. (…) Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão”.

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Para o secretário nacional da Pontifícia União Missionária, na cultura atual, a identidade religiosa católica, anteriormente recebida pela herança familiar, tem perdido força e necessita de atenção. “Se antes a identidade religiosa era herdada, normalmente pela família, agora é cada vez mais construída pelos indivíduos a partir de opções pessoais. Essa perspectiva traz consigo uma oportunidade de construir uma identidade religiosa mais consciente e fundamentada numa verdadeira opção pelo Evangelho. Todavia, pode trazer o perigo da construção de um catolicismo a ‘la carte’, pelo qual cada um escolhe o que ‘gosta’ e lhe ‘faz bem’”, afirmou.

“A fé corre o perigo de perder sua objetividade”, alertou padre Antônio. De acordo com o sacerdote, um grande desafio para a evangelização atual da Igreja é criar formas de iluminar as demandas subjetivas dos batizados, por meio da objetividade da fé cristã e do seguimento a Jesus. A preocupação em descobrir novas linguagens, métodos e ardor pela evangelização permanece viva nos tempos atuais, mesmo 93 anos após a instituição do Dia Mundial das Missões. A missão na vida da Igreja é, também, segundo o secretário nacional da Pontifícia União Missionária, uma das prioridades do pontificado do Papa Francisco.

Uma Igreja em missão

Seminarista Ailton durante Ano Missionário no Xingu/ Foto: Ailton Evangelista – Arquivo Pessoal

Impulsionados pelo ardor missionário, frequentemente exortado pelo Santo Padre e incentivado por Dom João Inácio Müller — que exerceu seu episcopado na Diocese de Lorena, entre 2013 e 2019, os seminaristas Ailton Evangelista e Eduardo Augusto vivem, como parte da formação sacerdotal, o ano missionário. Os seminaristas foram enviados em missão para a Prelazia do Xingu (PA), onde permanecem até janeiro de 2020. A Prelazia é um território da Igreja Católica que está situada na região Norte do Brasil e é considerada a maior prelazia do mundo, sua sede fica na Cidade de Altamira-PA.

“Confesso que, no início, tive medo, mas o chamado falou mais alto. A vivência missionária me faz tocar em um tempo de muitas graças em minha vida e vocação. Primeiro, porque existe uma força vinda de Deus que nos faz ir muito mais além do que imaginávamos; segundo, porque um sentimento que me acompanha é de saber que fazemos parte de algo muito maior do que nós. Estar em Missão é tocar na graça de Deus”, revelou Ailton.

Para o seminarista, o fator cultural conta muito sobre a forma como a Igreja se expressa no mundo: “É muito rica, embora ela seja una, a mesma traz suas peculiaridades e acentos diferentes que podem variar de região para região mostrando assim sua pluralidade”.

Seminarista Ailton durante atividade de evangelização com as crianças do Xingu/ Foto: Ailton Evangelista – Arquivo Pessoal

Eduardo relata que a missão lhe proporciona a vivência de experiências únicas, como a visita às aldeias indígenas, as danças, as músicas, mas também muitos desafios ligados à alimentação, comunicação, cultura e deslocamento. O seminarista divide a missão com dois padres italianos, também missionários: “Eles têm uma visão de mundo muito boa, eles me acrescentam muito e ampliam a minha visão”, completou.

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A fé do povo e a disposição dos missionários, que atuam na localidade, foram apontados pelo seminarista Eduardo como fatores marcantes da missão. Nas celebrações Eucarísticas, o jovem revelou renovar seu desejo de viver o sacerdócio e doar sua vida à missão: “Quero dar meu corpo e meu sangue por amor a Deus e ao povo”. O seminarista completou: “Eu quero sair de mim para ir ao encontro do outro, está aí a realização humana. Eu acredito na missionariedade na família, no bairro, na paróquia, na comunidade, até que se torne ad gentes e expanda pelo mundo. (…) O ser humano não foi feito para se fechar, mas foi chamado a sair de si para o outro, e o Papa Francisco é um grande motivador quando se fala de missão e vocação”.

Seminarista Eduardo durante Celebração da Palavra no Xingu/ Foto: Eduardo Augusto – Arquivo Pessoal

Neste período missionário, Ailton diz se recordar do início do Cristianismo: “Aqueles acontecimentos narrados nos Atos do Apóstolos aonde os mesmos avançavam para lugares distantes, traziam uma sede de levar Jesus até os confins do mundo, mesmo passando por tribulações o tempo todo eles permaneciam fiéis ao chamado e davam sempre graças a Deus por tudo, de certa forma, posso dizer que pude tocar nesta mesma força e ânimo que os motivavam”.

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O seminarista concluiu: “Eu me sinto muito feliz e agradecido a Deus por poder viver este tempo em minha vocação e, mais ainda, por saber que faço parte de algo muito maior que a Igreja vive hoje. Antigamente, pensava que missão era coisa de religiosos, e que missionários eram aqueles que iam para longe de suas casas e viviam o tempo todo em prol da missão. Com o tempo, entendi que a identidade da Igreja é missionária na sua essência, e que missionário são todos aqueles que foram batizados, e, onde estivermos, ali seremos missionários. Entender-se como missionário tem a ver com o nosso sentimento de participação da missão de Cristo, se nós fazemos parte desta Igreja, da qual Cristo é a Cabeça, a nossa participação deve ser a de continuidade na missão como membros compromissados. Desejo a todos que possamos nos encontrar com a nossa identidade missionária”.

Coleta do Dia Mundial das Missões

Nas celebrações deste final de semana (dias 20 e 21 de outubro) a Igreja Católica realizará a Coleta do Dia Mundial das Missões. As ofertas serão enviadas às Pontifícias Obras Missionárias (POM), que as repassarão ao Fundo Universal de Solidariedade para apoiar projetos missionários em todo o mundo.

Assista também ao Documentário: ‘Leigos, protagonistas de uma Igreja em saída’:

 

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