Iniciando sua Viagem Apostólica à Hungria, Francisco falou a autoridades do país sobre a necessidade de construir a comunidade com a colaboração de todos, mas sem perder as individualidades
Da Redação, com Santa Sé
No ex-mosteiro carmelita dentro do Palácio Sàndor, em Budapeste, o Papa Francisco encontrou-se com autoridades húngaras nesta sexta-feira, 28. Este é seu primeiro discurso nesta viagem à Hungria, que começou hoje e termina no domingo, 28. Entre os presentes estavam a presidente da Hungria, Katalin Novák, e seu primeiro-ministro, Viktor Orbán, além de outros membros do governo, do corpo diplomático e representantes da sociedade.
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Recebendo o ilustre peregrino, a presidente Katalin Novák discursou ao Papa. Citou que este “é o momento e o local oportuno para soar os sinos e proclamar uma paz justa” e pediu que Francisco interceda por uma paz justa o quanto antes.
Após esse momento, o Santo Padre realizou seu discurso sobre Budapeste, capital e única cidade do país incluída nesta visita. Na definição de Francisco, é uma “cidade de história, cidade de pontes e cidade de santos”.
Budapeste, cidade de história
Abordando a história de Budapeste, o Pontífice falou sobre sua fundação há 150 anos. Descreveu como a união das cidades separadas pelo rio Danúbio – Buda e Óbuda em uma margem, Peste em outra – “faz lembrar o caminho rumo à unidade empreendido pela Europa”.
Como contraponto, Francisco destacou que a política atual parece ter se esquecido de sua função comunitária, tão fortemente expressada após a 2ª Guerra Mundial. Se no passado a Europa empreendia esforços para se unir no pós-guerra, hoje parece que a política internacional mais tem inflamado os ânimos e promovido conflitos que solucionado problemas.
“Ora a paz não virá jamais da prossecução dos próprios interesses estratégicos, mas de políticas capazes de olhar ao conjunto, ao desenvolvimento de todos: atentas às pessoas, aos pobres e ao amanhã; e não apenas ao poder, aos lucros e às oportunidades do presente”, ressaltou o Papa.
Neste contexto, o Santo Padre exortou o “reencontro da alma europeia”, em referência ao papel de unir os povos e de não deixar que ninguém seja inimigo para sempre. Enquanto “memória da humanidade”, a Europa não pode permitir que os conflitos permaneçam. A esta altura, Francisco voltou seu pensamento à Ucrânia, que sofre com os perigos da guerra: “onde estão os esforços criativos de paz?”
Budapeste, cidade de pontes
O Papa Francisco abordou também um dos principais aspectos de Budapeste: a presença de inúmeras pontes. A harmoniosa configuração dessas construções à cidade e ao meio-ambiente foi elogiada pelo Santo Padre, que felicitou o cuidado ecológico empenhado pelo povo húngaro.
Prosseguindo, Francisco assinalou que “as pontes, que unem realidades diversas, sugerem também refletir sobre a importância de uma unidade que não signifique uniformidade”. Da mesma forma, o Pontífice afirmou a necessidade da Europa de construir pontes com a “contribuição de todos sem diminuir a singularidade de ninguém”.
O sucessor de Pedro também alertou sobre o perigo de uma política populista autorreferencial, que se fecha aos outros, mas também sobre o problema de chegar a um supranacionalismo em que se fique alheio às individualidades dos povos. A esta altura, o Papa citou a ameaça das “colonizações ideológicas”, citando a ideologia de gênero e o aborto, definido como “uma trágica derrota”.
“Como é belo construir uma Europa centrada na pessoa e nos povos, onde haja políticas eficientes para a natalidade e a família, cuidadosamente implementadas neste país, onde nações diversas sejam uma família em que se preserva o crescimento e a singularidade de cada um”, destacou Francisco, citando também o caráter ecumênico verificado na Hungria.
Budapeste, cidade de santos
No último aspecto da capital húngara citado em seu discurso, o Papa conta a história de Santo Estêvão, primeiro rei da Hungria. E vai além, citando também a esposa do monarca, a Beata Gisela, e seu filho, Santo Emerico, que recebeu do pai uma espécie de testamento espiritual riquíssimo. “Deste modo, a história húngara nasce marcada pela santidade, não só de um rei, mas de uma família inteira”, enfatizou o Santo Padre.
Esses fatores marcam profundamente a identidade do povo húngaro, solidificando-a. Esses aspectos transparecem na Constituição húngara, da qual Francisco separa e ressalta alguns trechos com uma “perspectiva verdadeiramente evangélica”. Entre eles, está a obrigação da “assistência aos necessitados e aos pobres”, verificada na história de outra figura húngara citada: Santa Isabel da Hungria..
O Papa agradeceu às autoridades húngaras pelo apoio a obras de caridade e aos cristãos em todo o mundo, especialmente na Síria e no Líbano. Contudo, o Papa alertou que é preciso distinguir bem Estado e Igreja, vivendo “uma sã laicidade, que não descaia naquele laicismo generalizado que se mostra alérgico a todo e qualquer aspecto sacro”, a fim de “dar testemunho e a caminhar com todos, cultivando um humanismo inspirado pelo Evangelho”.
Por fim, Francisco falou da temática do acolhimento, em alusão aos migrantes e refugiados. “Vendo Cristo presente em tantos irmãos e irmãs desesperados que fogem de conflitos, pobreza e mudanças climáticas, é preciso enfrentar o problema sem desculpas e sem demora”, declarou o Papa, indicando que essa responsabilidade é de toda a Europa.
O Papa então citou mais alguns santos e “figuras insignes” húngaros, e agradeceu a escuta dos presentes. Finalizou dizendo Isten, áldd meg a magyart (“Ó Deus, abençoai os húngaros”, em português), e se retirou acompanhado da presidente da Hungria.
Próximo compromisso
Ainda hoje, o Papa terá um encontro com os bispos, padres, diáconos, consagrados, seminaristas e agentes pastorais na Concatedral de Santo Estêvão. O encontro será transmitido ao vivo pela TV Canção Nova a partir das 12h, pelo horário de Brasília.
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