Em audiência

Devemos mudar a forma de ver a migração, afirma o Papa

Francisco recebeu, em audiência, os participantes do projeto “Vozes e experiências das fronteiras”, que se dedicam à questão migratória

Da Redação, com Santa Sé

Migrantes  esperam por resgate no Mar Mediterrâneo, na costa da Líbia/ Foto: Laila Sieber – Sea Watch via Reuters

O Papa Francisco recebeu, nesta quinta-feira, 10, em audiência na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do projeto europeu “Vozes e experiências das fronteiras”, acompanhados pelo prefeito de Lampedusa e Linosa, região italiana da Sicília.

O Pontífice agradeceu a visita do grupo que se dedica à questão migratória, um drama vivido de modo intenso na região e conta com o auxílio de diversas entidades católicas.

Francisco destacou que o cenário atual da migração é complexo e, muitas vezes, tem implicações dramáticas. As interdependências globais que determinam os fluxos migratórios devem ser estudadas e melhor compreendidas.

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“Os desafios são muitos e interpelam a todos. Ninguém pode ficar indiferente às tragédias humanas que continuam ocorrendo em diferentes regiões do mundo. Dentre estas, nos interrogam muitas vezes as tragédias cujo teatro é o Mediterrâneo, um mar de fronteira, mas também de encontro de culturas”, afirmou o Papa.

Segundo o Papa, o trabalho realizado pelo projeto “Vozes e experiências das fronteiras” promove uma compreensão profunda da migração, permitindo às sociedades europeias dar uma resposta mais humana e coordenada aos desafios da migração contemporânea. “A rede de autoridades locais e organizações da sociedade civil, que nasceu deste projeto, visa contribuir positivamente para o desenvolvimento de políticas migratórias que respondam a este fim”, disse o Pontífice em seu discurso.

Sinais de esperança

Francisco recordou o encontro com os bispos do Mediterrâneo realizado, em fevereiro passado, em Bari, definindo-o como “muito positivo”, afirmando que “dentre os que mais lutam na região do Mediterrâneo, estão os que fogem da guerra ou deixam suas terras em busca de uma vida digna do ser humano”.

“Estamos conscientes de que em diferentes contextos sociais há um sentimento generalizado de indiferença e até de rejeição. A Comunidade internacional se detém nas intervenções militares, mas deveria construir instituições que garantam a igualdade de oportunidades e lugares onde os cidadãos tenham a possibilidade de assumir o bem comum. Ao mesmo tempo, nunca aceitamos que aqueles que buscam esperança pelo mar morram sem receber socorro”, comentou o Papa.

Neste contexto –prosseguiu –, acolhimento e uma integração digna são etapas de um processo que não é fácil. No entanto, é impensável enfrentá-lo levantando muros. Perante esses desafios, é evidente que a solidariedade concreta e a responsabilidade partilhada são indispensáveis, tanto no âmbito nacional quanto internacional. A atual pandemia mostrou a nossa interdependência: estamos todos ligados uns aos outros, tanto no mal quanto no bem. Devemos agir juntos, não sozinhos.

Mudar a forma de ver a migração

Francisco sublinhou que “é fundamental mudar a maneira como vemos e contamos a migração. Trata-se de colocar pessoas, rostos e histórias no centro. Portanto, é importante projetos, como o que vocês promovem, que propõem diferentes abordagens, inspiradas na cultura do encontro, que são o caminho para um novo humanismo. Quando digo ‘novo humanismo’ não me refiro apenas como filosofia de vida, mas também como espiritualidade e estilo de comportamento”.

Francisco lembrou que os habitantes das cidades e territórios fronteiriços, as sociedades, as comunidades e as Igrejas, são chamados a serem os primeiros atores desta virada, através das contínuas oportunidades de encontro que a história lhes oferece.

“As fronteiras, que sempre foram consideradas barreiras de divisão, podem se tornar ‘janelas’, espaços de conhecimento mútuo, de enriquecimento recíproco, de comunhão na diversidade. Lugares onde os modelos são experimentados para superar as dificuldades que os recém-chegados representam para as comunidades autóctones”, concluiu o Pontífice.

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