Nesta terça-feira, 7, a guerra entre Israel e Hamas completa um mês; outubro foi marcado pelos apelos de paz do Papa, iniciativas de oração e esforços da Santa Sé na mediação do conflito
Da redação, com agências
Há exato um mês, Israel foi surpreendido por um ataque do grupo radical islâmico Hamas. O bombardeio, somado à invasão de homens armados ao país, matou ao menos 200 israelenses, além de marcar uma infiltração sem precedentes em Israel por um número desconhecido de pessoas pertencentes ao grupo.
De 7 de outubro para cá, uma guerra foi instaurada e o governo de Israel passou a atacar o lado palestino, mais precisamente a Faixa de Gaza. Já são mais de 10 mil mortos – entre israelenses e palestinos.
Até o momento, um balanço das Forças de Defesa de Israel afirma que há 242 reféns israelenses em poder do grupo Hamas, destes, mais de 30 crianças. O grupo islâmico libertou 4 reféns desde o início do conflito. Cerca de 145 são estrangeiros ou têm dupla nacionalidade. A Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que há 5 mil palestinos, incluindo 160 crianças, detidos sem acusação por Israel, que alega que a ação foi realizada por razões de segurança.
Apelos do Papa
Desde o início da guerra, o Papa Francisco tem se pronunciado semanalmente pedindo por paz. A primeira fala pública do Pontífice foi em 8 de outubro – um dia após o início da guerra, depois de rezar o Angelus com os fiéis reunidos na Praça São Pedro. Na ocasião, o Santo Padre salientou: “Por favor, parem com os ataques e as armas! E se compreenda que o terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução, mas apenas à morte e ao sofrimento de muitas pessoas inocentes. A guerra é uma derrota: toda guerra é uma derrota! Rezemos pela paz em Israel e na Palestina”.
Em 11 de outubro, após a Audiência Geral, Francisco afirmou que continuava acompanhando “com dor e apreensão” o que estava acontecendo em Israel e na Palestina. “Tantas pessoas mortas, outras feridas”, disse. “O Oriente Médio não precisa de guerra, mas de paz, uma paz construída sobre a justiça, o diálogo e a coragem da fraternidade”, indicou o Pontífice.
O Santo Padre afirmou rezar “pelas famílias que viram um dia de comemoração se transformar em um dia de luto”. E acrescentou um pedido: “a libertação imediata dos reféns”. Ao comentar sobre o terrorismo e o extremismo, Papa frisou sua preocupação com a situação. “Aqueles que estão sendo atacados têm o direito de se defender, mas estou muito preocupado com o cerco total sob o qual os palestinos vivem em Gaza, onde também houve muitas vítimas inocentes. O terrorismo e o extremismo não ajudam a chegar a uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos, mas alimentam o ódio, a violência e a vingança e só fazem com que os outros sofram”.
O último apelo do Pontífice aconteceu no domingo, 5, após o Angelus. Ele voltou a pedir pela paz em Gaza, diante do conflito travado entre Israel e o grupo radical Hamas. “Continuo pensando na grave situação na Palestina e em Israel, onde tantas pessoas perderam a vida. Peço-lhes que parem, em nome de Deus: cessar-fogo! Espero que todos os caminhos sejam percorridos para evitar absolutamente uma ampliação do conflito, que os feridos possam ser socorridos e a ajuda chegue à população de Gaza, onde a situação humanitária é gravíssima”.
Da mesma forma, ele também fez um novo apelo pela libertação dos reféns que ainda estão sendo mantidos nesta situação, especialmente as crianças. “Dentre eles também há muitas crianças, que elas voltem para suas famílias! Sim, pensemos nas crianças, em todas as crianças envolvidas nesta guerra, assim como na Ucrânia e em outros conflitos: isso está matando o futuro delas. Rezemos para que se tenha a força de dizer ‘basta’”.
Oração e jejum pela paz
Em 17 de outubro, Francisco motivou os fiéis a se unirem na iniciativa de oração e jejum pela paz – proposta pelo Patriarca Latino de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, em nome dos bispos locais da Terra Santa. “Que os reféns sejam libertados, os civis não sejam vítimas do conflito, o direito humanitário seja respeitado e não se derrame mais sangue inocente”, desejou o Papa em convite feito em sua conta oficial no X (antigo twitter).
Em sintonia com este pedido, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) organizou um dia de oração na sede da entidade e que foi transmitido pelas redes sociais. A Comunidade Canção Nova também aderiu ao Dia de Jejum e Oração pela Paz na Terra Santa.
Depois, o Santo Padre convocou para o dia 27 de outubro um dia de oração pela paz no mundo. Os fiéis das várias denominações cristãs, pertencentes a outras religiões e “quantos tenham no coração a causa da paz no mundo” foram também convocados para participarem do momento. A oração aconteceu na Basílica de São Pedro, com recitação do terço – em que foram refletidos os mistérios dolorosos – e a ladainha a Nossa Senhora.
Em sua prece pela paz, Francisco dirigiu-se à Rainha da Paz, pedindo que viesse socorrer os homens “nestes tempos dilacerados pelos conflitos e devastados pelas armas”. “Voltai o vosso olhar de misericórdia para a família humana, que perdeu a senda da paz, preferiu Caim a Abel e, tendo esquecido o sentido da fraternidade, não reencontra a atmosfera de casa. Intercedei pelo nosso mundo em perigo e tumulto. Ensinai-nos a acolher e cuidar da vida – de toda a vida humana! – e a repudiar a loucura da guerra, que semeia morte e apaga o futuro”.
Conversas telefônicas de Francisco
Neste um mês da guerra entre Israel e Hamas, o Papa Francisco conversou por telefone com o pároco de Gaza, padre Gabriel Romanelli, nos dias 10 e 14 de outubro. Na primeira ligação, ele manifestou sua proximidade e suas orações, e agradeceu os membros da Igreja em Gaza pelo apelo ao cessar-fogo e contra toda violência, todo terrorismo e toda guerra. O Santo Padre, disse o sacerdote, expressou a sua presença e manifestou seu desejo de saber mais sobre os refugiados na paróquia em Gaza.
Na segunda vez que entrou em contato com padre Romanelli, Francisco assegurou novamente suas orações e proximidade. De acordo com o sacerdote, desta vez o Santo Padre enfatizou seu desejo de que a Igreja proteja as crianças, além de conceder sua benção apostólica.
Além destes dois telefonemas, o Papa ligou para o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A conversa se concentrou em situações de conflito no mundo e na necessidade de busca de caminhos para a paz.
O Pontífice também recebeu ligações de alguns líderes internacionais, entre eles o presidente palestino, Mahmoud Abbas, que manifestou seu apreço pelo papel e pelo empenho de Francisco em apoiar os esforços de construção da paz na região e no mundo. Com o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, o Santo Padre expressou “sua tristeza pelo que está acontecendo”. Já na última ligação recebida – desta vez do presidente do Irã, Ebrahim Raisi – o líder iraniano declarou que apreciou os apelos do Papa para um cessar-fogo em Gaza.
Líderes católicos pedem pela paz
No dia 12 de outubro, cardeais, bispos, padres, religiosos e leigos que participavam da primeira sessão do Sínodo sobre a sinodalidade (que teve sua conclusão no dia 29 de outubro) se uniram em oração pela paz no mundo. Durante o momento de preces, o Patriarca de Bagdá dos Caldeus, Cardeal Louis Raphaël Sako, convidou todos os presentes a “rezar pela paz no mundo, especialmente na Terra Santa, mas também na Ucrânia. A violência no Iraque, no Irã, no Líbano”. “As pessoas estão esperando com grande esperança para viver com dignidade e fraternidade e não sempre com medo e preocupação. Solidariedade também significa solidarizar-se com todos aqueles que têm medo e sofrem”, disse o purpurado iraquiano.
O secretário de estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, tem se colocado à disposição na mediação do conflito. Em 13 de outubro, o purpurado visitou a embaixada de Israel junto à Santa Sé levando solidariedade e proximidade espiritual ao embaixador Raphael Schutz. No dia seguinte, o cardeal fez uma ligação telefônica para o primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Shtayyeh. Na ligação, o cardeal expressou a tristeza da Santa Sé pela situação do conflito em Gaza.
No dia 17 de outubro, o secretário de estado visitou a embaixada da Palestina junto à Santa Sé, onde reiterou sua condenação ao ataque terrorista do Hamas e sua séria preocupação com os reféns. O cardeal reafirmou que o ocorrido não contribui para a paz e expressou novamente a preocupação da Santa Sé com a situação humanitária em Gaza.
No final do último mês, o secretário do Vaticano para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, Dom Paul Gallagher, também contribuiu para ajudar na mediação do conflito. Ele conversou por telefone com o Ministro das Relações Exteriores da República Islâmica do Irã, Hossein Amir-Abdollahian.
A ligação foi solicitada pelo ministro iraniano e, no diálogo, Gallagher expressou a séria preocupação da Santa Sé com o que está acontecendo em Israel e na Palestina, reiterando a necessidade absoluta de evitar a ampliação do conflito e de alcançar uma solução de dois Estados para uma paz estável e duradoura no Oriente Médio.