Os incêndios no campo de refugiados da Grécia mostram a urgência de uma política justa para os migrantes, destaca
Da redação, com Vatican News
A Grécia começou a organizar tendas nesta sexta-feira, 11, para milhares de migrantes que ficaram sem abrigo na ilha de Lesbos após um incêndio destruir o maior campo de refugiados do país há três dias.
Com mais de 12 mil refugiados que ocupavam o conhecido campo de Moria agora estão espalhados pelo campo ou pelas estradas, ameaçados por uma possível onda de infecção causada pelo novo coronavírus, a necessidade de uma solução se tornou urgente.
O desastre — que segundo especialistas era previsível por conta das condições insustentáveis do campo — destaca a incapacidade da Europa de chegar a um acordo sobre uma política comum que proteja os migrantes ao mesmo tempo que partilha a responsabilidade por uma nova localização deles.
Líderes e grupos religiosos, além de organizações humanitárias pedem uma resposta rápida à crise, enquanto trabalhadores humanitários estão ajudando a entregar comida e água para aqueles que ficaram sem um teto sobre suas cabeças.
Como afirma Silvia Sinibaldi, Diretora Humanitária da Caritas Europa, a organização apela à segurança dos que se deslocam e à solidariedade europeia. Sinibaldi descreveu a situação na ilha de Lesbos como “bastante tensa”, com milhares de habitantes que estavam em Moria presos nas ruas sem água ou abrigo. Ela disse que um grande número deles está tentando entrar na principal cidade da ilha, Mitilene, mas estão sendo barrados pela polícia.
A diretora humanitária disse ainda que a equipe da “Caritas Hellas” está coordenando com o Ministro da Migração grego “que é o líder da resposta em coordenação com o ACNUR”. “Eles ofereceram apoio na distribuição de água e sacos de dormir, se necessário — mas esperemos que não — porque isto significaria que os migrantes seriam realocados no continente ou em outro lugar na ilha. Eles também estão informando, ajudando com traduções e orientando cerca de 10 mil migrantes que estão presos nas ruas ”, disse ela.
A União Europeia deve agir e encontrar uma solução
Sinibaldi falou da frustração das testemunhas de uma emergência que era tão previsível: “as condições no campo de Moria têm sido insanas nos últimos 5 anos”, disse ela, e isso porque o problema não pode ser enfrentado apenas e somente pelo governo grego.
“É preciso encontrar uma solução europeia: é uma questão de solidariedade e responsabilidade partilhada”, afirmou.
Ela explicou que a União Europeia está atualmente trabalhando em um novo pacto sobre asilo e migração e expressou sua esperança de que este acidente seja um sinal de alerta “que o modelo atual está fadado ao fracasso e de forma alguma deva ser reproduzido”, ponderou.
“Deve ser implementado um sistema de recolocação justo e permanente que garanta a solidariedade e a responsabilidade e tudo isto respeitando os direitos humanos, colocando a pessoa no centro, a dignidade da pessoa no centro e sabendo que nesta situação todos acabam vivendo em situação de vulnerabilidade, não apenas aqueles que são tradicionalmente considerados vulneráveis. Esta situação exige total solidariedade para todos”, disse ela.
Papa Francisco pede ‘acolhida, proteção e integração’ dos migrantes
Sinibaldi lembrou a visita do Papa Francisco à ilha de Lesbos e ao campo de Moria em abril de 2016, destacando que já, naquela ocasião, as más condições nos campos de migrantes e refugiados estavam sob os holofotes para todos. “É preocupante ver que desde então muito pouco foi feito em termos de relocação”, lamenta.
A diretora humanitária disse que desde o incêndio de terça-feira, 8, 400 crianças foram realocadas pelo continente e a Alemanha está clamando por um sistema justo de realocação.
Ela também lembrou uma audiência papal nesta quinta-feira, 10, na qual o Papa Francisco se dirigiu aos membros de uma organização que trabalha para apoiar os migrantes, “lembrando-nos de nossa responsabilidade de acolher, proteger, promover e integrar os migrantes, e que de forma alguma as pessoas devem morrer em busca de esperança e um lugar seguro.”
“Eu diria que Moria é um claro exemplo de que paramos nas duas primeiras fases de acolher e proteger, e não fomos além disso”.
Isso, continuou a diretora da entidade, deve servir como uma reflexão nítida para os líderes europeus que são chamados a encontrar uma solução comum.
Imediatamente após o incêndio, o Cardeal Hollerich, Presidente da Comissão das Conferências Episcopais da UE, disse que “a dignidade da Europa ardeu em chamas no campo de Moria”.