Igreja e o jovem

Christus Vivit completa três anos e é esperança das juventudes hoje

Documento celebra três anos de entrega pelo Papa; Igreja no Brasil articula-se com entusiasmo na aplicação concreta na vida das comunidades

Ronnaldh Oliveira,
Da Redação

Papa saúda grupo de peregrinos franceses, entre eles jovens, ao final da audiência geral de 20 de abril passado / Foto: Vatican Media/IPA/Sipa USA via Reuters Connect

A Exortação Apostólica Christus vivit, escrita pelo Papa Francisco para os jovens e todo o povo de Deus, é fruto do Sínodo dos bispos sobre o tema dos Jovens, da fé e do discernimento vocacional, ocorrido no Vaticano de 3 a 28 de outubro de 2018. O documento lançado em 2 de abril de 2019 comemora neste mês de abril três anos e a Igreja está a todo vapor em sua implementação.

Após dois anos da primeira carta aos jovens, em 2017, o Papa, confiando à Nossa Senhora de Loreto, entregou a Exortação Apostólica pós-sinodal, em forma de Carta. Um sinal concreto da escuta, do diálogo, do caminho conjunto desejado pelos participantes do Sínodo dos jovens.

Três anos depois da Exortação Apostólica, o Jornalismo Canção Nova entrevistou o presidente da Comissão da CNBB para a Juventude, Dom Nelson Francelino Ferreira, bispo da Diocese de Valença (RJ), padre Magno Fonzar Albuquerque, sdb, pároco em Itaquera, zona leste de São Paulo e o jovem Pedro Francisco Giovanni, universitário, residente em Lavras (MG). A proposta é compreender a vivência do documento nas respectivas realidades hoje.

A abertura que o documento proporciona

Dom Nelson abre o diálogo acreditando que a Exortação Apostólica é um verdadeiro Evangelho para as juventudes, não só pela atualidade presente na escrita, mas nas propostas que a envolve concretamente. Padre Magno acrescenta que a Igreja fala aos jovens e quer ouvi-los, porque ama os jovens.

“Então, três anos depois, o documento é como quem puxa a cadeira para sentarmos e conversarmos. A roda de conversa foi aberta, sim. E quem acolheu o convite vibra com isso. O jovem vibra sim com a abertura para ele, porque é próprio das juventudes sonhar e somar. Eles querem sonhar e somar com a Igreja.”, explica o sacerdote. 

Pedro salienta que a Igreja em saída, proposta pelo pontificado do Papa Francisco, tem surtido efeito em meio aos jovens. “Por ela ter saído das sacristias e ido ao nosso encontro, recebeu a devolutiva rápida do diálogo. Essa mentalidade assumida pelas comunidades muda de fato relações. A Exortação Apostólica olha pra nós jovens com carinho.”

Padre Magno Fonzar sendo presença significativa em meio aos jovens. Faz a experiência da cultura do encontro e do diálogo / Foto: Arquivo pessoal Padre Magno Fonzar, SDB

Os desafios enfrentados pela Igreja

O presidente da Comissão Episcopal para a Juventude abriu espaços para as discussões acerca dos envolvimentos eclesiais com as diversas juventudes. “Não podemos falar de sinodalidade e evangelização hoje, dentro do pontificado do Papa Francisco, olhando apenas para uma direção, olhando apenas para uma vertente juvenil. O Papa nos faz um grande desafio de sairmos da zona de conforto e ir ao encontro dessa multiplicidade de desafios juvenis.

Dando continuidade à reflexão acerca das diversidades, o bispo enfatiza que a juventude é plural, seja no âmbito intra-eclesial, seja no âmbito social. E os jovens convivem bem com essa realidade. “Quem aposta apenas em um conceito de juventude, em um único processo de evangelização dos jovens, está mesquinhamente deixando de fora um número significativo de pessoas que precisa ser ouvido e ter voz, como também nossa atenção e acolhida” enfatizou o bispo.

O jovem Pedro, graduando em Agronomia e missionário do Grupo de Animação Missionária (GAM) em São José dos Campos (SP), apontou que muitos jovens ainda não encontraram seu espaço dentro da Igreja. “Encontramos portas abertas para nos receber, mas as barreiras culturais e sociais dificultam por vezes o envolvimento relacional dos que chegam com os que já estão na comunidade. Christus vivit tem influenciado muito nessa quebra de paradigmas conosco. Também queremos ser Igreja, e somos!”

O acompanhamento eclesial das Juventudes

“Muitos jovens não possuem acompanhamento adequado de adultos leigos, sacerdotes e religiosos que saibam lidar com as juventudes, que tenham habilidade de conversar, orientar, caminhar junto.”, opina Pedro.

Em acréscimo, padre Magno destacou que “Não se pode apenas ‘bater no peito’ e dizer ‘eu sei’ do que o jovem precisa. É preciso contemplar o jovem: estar com ele para percorrer um caminho conjunto. O que eu acredito está já no alerta de São João Bosco: “não basta amar, é preciso ao jovem que ele saiba que é amado”, e isso está em quem se coloca ao lado sem pretensões.”

Jovens em experiência profunda de comunidade e espiritualidade. A santidade no cotidiano / Foto: Arquivo pessoal Pedro Francisco Giovanni

Olhando para o tempo de pandemia, como um fator deficitário da implementação concreta do documento, Dom Nelson afirma que a Igreja foi desafiada a ir por outros meios e tem conseguido acompanhar as juventudes no formato on-line.

“As mídias oportunizaram avançar em muitas coisas, inclusive no acompanhamento dos jovens. A volta progressiva dos grupos gera em nós empolgação vislumbrando a conscientização social. Essa é a grande aposta do pontificado de Francisco. Acreditar na empolgação, na fé e na coragem dos jovens na mudança concreta das realidades. Christus vivit contribui de forma pedagógica para o nosso aperfeiçoamento junto aos jovens.”

O grito das juventudes

Os jovens gritam, mesmo estando em silêncio. O aprofundamento nas realidades juvenis contidas no documento abre a discussão para o que dizem a vida das juventudes. “Temos uma missão gigantesca de resgatar nossa cidadania cristã e dilatarmos o Reino de Deus que nos impede de ficar presos aos egoísmos, ao nosso próprio ego e jeito de ser. Temos muitos jovens feridos, que vivem um prolongado calvário em suas vidas, nesta cultura de morte, suicídio, drogas e promiscuidade, acabam por perderem o próprio sentido de viver”, lembra Dom Nelson.

“Aquele jovem que de algum modo é tocado por Deus, é acolhido em sua comunidade de fé e consegue vivenciar sua relação com o Sagrado, livra muitos de problemáticas como a solidão e a perca de sentido. Compreendem que não estão sozinhos, que há alguém por eles e com eles”, acrescenta Pedro à discussão.

Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB em reunião no ano de 2019 / Foto: Arquivo Jovens Conectados

O que está por vir

“Olhando para os três anos da Exortação Apostólica, precisamos sim, como comunidade eclesial, acompanhar, orientar e se fazer presente como Igreja. A efervecência que esperamos das juventudes se dará concretamente em junho quando repensaremos toda a reestruturação da pastoral juvenil nacional. Nos reuniremos em Niterói (RJ) com a Christus vivit na mão. Ela será o nosso norte. Nos organizaremos para serem eles os protagonistas de uma verdadeira mensagem pascal que impregne as relações sociais e eclesiais” finalizou Dom Nelson.

“O documento, como disse, é como quem puxa a cadeira e chama para conversar, e quando a conversa é boa, ela delonga e por fim, agrega, de muitos modos. Vai chegando mais gente, vamos afastando as cadeiras, abrindo a roda para que mais pessoas entrem e participem. Penso que ainda estamos nisso, abrindo a roda. Então, que não faltem ocasiões de estudo e reflexão do documento, há ainda muito para se aproveitar dele. Há muita coisa boa por vir!”, disse o padre salesiano em sua conclusão.

O documento propõe santidade aos jovens. “Sim podemos ser santos hoje, quando olhamos para a coerência de vida daqueles que estão à nossa frente, na amizade sincera que construímos, na dedicação aos estudos, na valorização da vida! Tenho muita esperança no que está por vir. Papa Francisco fala ao nosso coração de Jovem!” disse Pedro entusiasmado.

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