Primeira religiosa da Congregação das Mensageiras do Amor Divino a chegar nesta idade, Irmã Margarida aconselha: “Cumpra com o dever de cada dia!”
Julia Beck
Da redação
Com pouco mais de 100 anos de idade, recém completos em dezembro de 2020, Irmã Maria Margarida Pereira dá testemunho de vida e fé em meio à pandemia. Primeira religiosa da Congregação das Mensageiras do Amor Divino a chegar nesta idade, a religiosa aconselha: “Cumpra com o dever de cada dia!”.
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“Eu sempre pensei assim: viva o dia de hoje, o amanhã não nos pertence. Procure viver bem o dia de hoje! O que vai acontecer semana que vem ou mês que vem está nas mãos de Deus, e do jeito que vier vai ser. Esse sempre foi meu lema de vida. Nunca fui muito filósofa, apenas viva o momento presente! E com isso vivi toda minha vida!”, comenta Irmã Margarida.
A religiosa nasceu no dia 10 de dezembro de 1920. É natural de Guaratinguetá, interior de São Paulo. Filha de Maria de Lourdes Novaes Pereira e Manoel Pereira da Silva Junior, é a mais velha de seus cinco irmãos.
Contribuição e discrição
A superiora geral, Irmã Katia Regina Segateli, afirma que Irmã Margarida sempre contribuiu com a congregação, mas é uma consagrada discreta. “Vive quase no escondimento, porém tem uma presença de qualidade”.
Irmã Margarida é também uma conselheira maravilhosa, muito culta, segundo Irmã Katia. “Ela educou gerações em várias cidades do estado de São Paulo mesmo como irmã. Seu testemunho de otimismo, tranquilidade e de oração nos anima e encanta”.
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“Quando iniciei minha missão como superiora geral, em 2014, sempre a procurava para pedir sua opinião sobre grandes decisões”, frisa Irmã Katia. A superiora geral afirma que Irmã Margarida é muito sábia e sempre a ajudava a discernir pela paz e boa relação.
Vida longa: um dom
A vida longa é apontada pela superiora geral como um dom, que precisa de cooperação. Irmã Katia frisa que é preciso agradecer o dom da vida todos os dias, procurar viver uma vida saudável, buscar em Deus o início e fim de tudo.
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“Amar a todos sem distinção, recomeçar sempre mesmo com nossas fragilidades, rir muito e principalmente dos nossos erros. Ser apaixonada pela pessoa de Jesus Cristo e viver a leveza da vida, o amanhã será melhor”, completa.
100 anos na pandemia
O centenário de Irmã Margarida não passou despercebido pela congregação. As religiosas que vivem junto de Irmã Margarida fizeram questão de comemorar a data.
Uma revista sobre a anciã das Mensageiras do Amor Divino foi preparada pela congregação. Nela, é contada a história de vida da religiosa, suas principais lembranças, feitos e experiências.
Segundo Irmã Katia, o desejo da publicação foi de propagar a vida de Irmã Margarida, com a intenção de que seu exemplo servisse para todos.
A congregação também inaugurou uma biblioteca, um sonho de Irmã Margarida. “Hoje, temos mais de 10 mil livros, todos catalogados e expostos na biblioteca. Uma conquista que leva o nome de Irmã Margarida”, conta a superiora geral.
Lembranças
Ao fazer uma retrospectiva de seus 100 anos, Irmã Margarida destacou dois momentos importantes. São eles: sua primeira comunhão e o período que antecedeu seu ingresso no convento.
Sobre a primeira comunhão, a religiosa afirma que o momento marcou sua vida inteira, pois foi o início de sua vida eucarística.
Antes de ingressar no convento, o período que passou em São Paulo também foi marcante para Irmã Margarida. “Foi uma mudança de vida. Depois desse tempo, eu voltei para Guaratinguetá e minha vida foi se encaminhando para a Vida Religiosa”.
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A vida religiosa era algo que encantava Irmã Margarida desde a infância. A religiosa conta que tinha duas primas que foram Dominicanas. “Morreram com mais de 90 anos as duas”, relata.
“Tinha um retrato delas em casa e eu ficava olhando-as com aquele hábito branco e pensando: ‘que lindas’. E sempre a ideia de vida religiosa me acompanhou, nunca a perdi. Nem mesmo em tempos de estudo, nem mesmo quando tive namorado ou quando tive um casamento pensado. A vida religiosa nunca sumiu da minha cabeça!”.
Tempo na Itália e santos de devoção
Como religiosa, Irmã Margarida viveu por três ano na Itália. Conhecer o país era um desejo que foi concretizado e deixou boas lembranças.
“Não conheci toda a Europa, mas consegui conhecer um pedaço da Itália, e já me satisfez muito. Também tive a oportunidade de ir a Lourdes, e isso me marcou na época. Conheci Roma, a capela de São Pedro, revi o Papa São João XXIII, que já havia conhecido em Curitiba. Conheci alguns castelos medievais”, descreve.
A centenária conta que é devota de São Francisco, onomástico do Papa atual. Ela acrescenta que já leu diversas biografias do santo e que acredita que a devoção tenha nascido da catequese que recebeu dos padres franciscanos.
Sobre São José, que a Igreja celebra durante todo este ano, a religiosa destaca a capela dedicada ao santo, que ficava localizada na residência dos padres franciscanos. A devoção e admiração surgiu ao frequentar o local.
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Fé e longevidade
“Eu acredito que a fé faz parte da vida longa”, revela a religiosa centenária. Irmã Margarida conta a história de uma tia que também viveu mais de 90 anos. “Quando ela já estava bem velhinha, de cama, foram visitá-la e estava bem tranquila, dizendo que estava esperando a sua hora”, revela.
Para Irmã Margarida, a serenidade na hora da morte é uma demonstração de fé. “Viveu cada dia de uma vez e cumpriu com o dever de cada dia”. A religiosa acredita que, ao viver bem cada dia, é possível alcançar com fé a serenidade diante da morte.