ENCÍCLICA

Cardeal Michael Czerny: a paz requer esforço e dedicação

Marcando o 60º aniversário da encíclica ‘Pacem in Terris’ do Papa João XXIII, o Cardeal Czerny discursou em um evento no qual destacou os ensinamentos da encíclica no mundo contemporâneo e como o Papa Francisco os carregou ao longo de seu pontificado

O cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral / Foto: Reprodução Twitter

Da redação, com Vatican News

Marcando o 60º aniversário da encíclica Pacem in Terris do Papa São João XXIII, o Cardeal Michael Czerny falou no evento “Profecia e artesanato da paz”, promovido pela Fundação para as Ciências Religiosas, a Faculdade Teológica da Emilia Romagna e a Unesco.

O cardeal, Prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, destacou três grandes áreas, e começou por referir que a Encíclica Pacem in Terris (11 de abril de 1963) faz parte de uma longa série de documentos magistrais com os quais os pontífices do século XX voltaram sua atenção para o tema da paz. O primeiro ponto que o cardeal Czerny escolheu para focar foi “Pacem in Terris: do coração do homem ao repensar da sociedade”.

Um sinal dos tempos

O cardeal observou que esta encíclica parecia querer registrar as mudanças que já haviam ocorrido na configuração geopolítica mundial, dada a construção do Muro de Berlim (1961) e a Crise dos Mísseis de Cuba (1962), que “marcaram fortemente a opinião pública”.

O desejo de paz sempre surgiu na humanidade, escreve o Papa João XXIII, mas numa época histórica em que as populações, já severamente provadas pelas guerras mundiais, são ainda mais oprimidas pela oposição dos dois grandes blocos, de ideologias totalitárias com efeitos desastrosos sobre os direitos das pessoas e dos povos, o anseio pela paz constitui um sinal dos tempos’.

O Cardeal Czerny disse ainda que João XXIII escolheu o ponto de partida da encíclica lembrando que a paz é necessária para que a humanidade cresça e prospere na plenitude da vida.

“A paz, não como ausência de guerra”, explicou, “mas como resultado da consolidação das relações e das relações entre os povos, entre os indivíduos e as comunidades, entre as comunidades e as nações, entre as nações e os continentes”.

A paz tem a ver com a qualidade da vida social, acrescentou, “com a vivência concreta, porque é uma das condições indispensáveis para que a vida de cada homem se realize plenamente no respeito da sua dignidade fundamental”.

Ensinamentos do Papa Francisco

O segundo ponto destacado pelo Cardeal Czerny sublinhou os ensinamentos do Papa Francisco decorrente da encíclica e como, em particular, eles “delinearam o contexto histórico e alguns aspectos essenciais da Pacem in Terris”.

Ele observou que um dos aspectos mais marcantes da leitura do Papa Francisco da encíclica de João XXIII é “a lição que ele tira dela a respeito da própria função da doutrina social da Igreja”.

“De Pacem in Terris, argumenta o Papa Francisco, devemos aprender que postura assumir como Igreja diante dos novos desafios de hoje. Problemas como a emergência educacional, a influência da mídia nas consciências, o acesso aos recursos da terra, o bom ou mau uso dos resultados da pesquisa biológica, a crise econômica mundial”, observou o cardeal.

Migração

O Papa Francisco também enfatiza a importância da paz ao abordar a questão da migração. O Cardeal Czery explicou que o Santo Padre nos exorta a “enfrentar sua complexidade na perspectiva da paz”, pois “não basta administrar a emergência, garantir uma recepção digna para migrantes e refugiados, mas para enfrentar o problema da migração adequadamente, há a necessidade de construir um mundo em que haja paz para todos”.

A relevância do ‘Fratelli tutti’

O terceiro e último ponto levantado pelo Cardeal Czerny foi a importância da encíclica do Papa Francisco, Fratelli tutti, na esteira da Pacem in Terris.

De fato, continuou, esta encíclica “parece fazer eco e reavivar o anseio expresso por João XXIII na Pacem in Terris pela paz e pela fraternidade.

O Papa Francisco indica dois níveis diferentes para realizar o compromisso pela paz: “o ‘político’, que é prerrogativa das instituições e cujo trabalho consiste na arte da negociação e o ‘pessoal’, que diz respeito à contribuição oferecida por cada pessoa de boa vontade no incremento da cultura da convivência social pacífica”.

“A paz”, concluiu o Cardeal Czerny, “é bela porque contraria a feiura do egoísmo e do individualismo e é fruto de uma prática que exige esforço e dedicação”. Finalmente, disse, na perspectiva da fé cristã, a paz “aparece não como produto de um esforço heroico do indivíduo, mas como um acontecimento de comunhão”.

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