Último adeus

Bispos: gratidão pelo legado deixado pelo Papa Emérito Bento XVI

Dom Ricardo Hoepers, Dom Gil Antônio, Dom Severino Clasen e Dom Edgar Madi destacaram contribuições do Pontífice para a Igreja e recordaram momentos com o Santo Padre; Funeral de Bento XVI acontece nesta quinta-feira, 5

Julia Beck
Da redação

Foto: REUTERS/Tony Gentile

O funeral do Papa Emérito Bento XVI será nesta quinta-feira, 5, às 9h30 (horário de Roma). A cerimônia presidida pelo Papa Francisco na Basílica São Pedro contará com a presença das delegações oficiais da Alemanha e Itália. 

Diante do último adeus ao Papa Emérito, o bispo do Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Ricardo Hoepers; o arcebispo maronita no Brasil, Dom Edgar Madi; o arcebispo de Maringá (PR), Dom Severino Clasen; e o arcebispo de Juiz de Fora (MG), Dom Gil Antônio, comentaram sobre as contribuições do Pontífice para a Igreja e, de forma particular, para o ministério episcopal de cada um.

Dom Ricardo Hoepers /Foto: CNBB

“Quero louvar e bendizer a Deus pelos dons que concedeu ao Papa Bento XVI durante sua vida e seu pontificado. De maneira especial, ainda como cardeal, a frente da Congregação da Doutrina da Fé, onde foi um exímio guardião da fé e testemunhou em sua vida a fidelidade à Tradição e ao Magistério da Igreja. Com essa experiência o Papa Bento XVI teve a coragem de enfrentar o forte secularismo da Europa, evidenciando os perigos, mas também apontando caminhos”, comenta Dom Ricardo.

Para o bispo do Rio Grande, o pontificado de Bento XVI indicou a necessidade de um retorno ao essencial: a fé, esperança e a caridade (Deus caritas est, 2005; Spe salvi, 2007). “Esse é seu grande legado: só iremos superar o secularismo se nos voltarmos ao essencial da fé, que é um encontro com uma pessoa: Jesus Cristo”, reforça.

“Pessoalmente, o legado do Papa Bento XVI é um exemplo de que sempre devemos perscrutar a verdade e cooperar com ela” – Dom Ricardo Hoepers

Em seu sacerdócio, Dom Ricardo afirma que Papa Bento XVI deixa uma marca de paternidade. “Lembro-me, quando tive a oportunidade de cumprimentá-lo pessoalmente, na breve conversa, recebi um longo aperto de mão. Ele se interessou pelos meus estudos, pela minha pesquisa e me incentivou dizendo que os temas da moral e da bioética são fundamentais para os nossos dias”, recorda o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB. Após o encontro, o bispo frisa que sentiu a paternidade do Papa Emérito inspirar sua vida sacerdotal e o fez nunca mais parar de estudar.

“Pessoalmente, o legado do Papa Bento XVI é um exemplo de que sempre devemos perscrutar a verdade e cooperar com ela, este é o seu lema, “Cooperatores veritatis”, e também é o caminho que todo cristão é chamado a percorrer. Eternamente grato, amado Papa Bento XVI”, conclui.

Lembranças

Dom Edgar afirma que o Papa Emérito é um “Doutor da Igreja Católica”. O prelado conta que conheceu o Pontífice em 2006, quando ele assinou sua nomeação como eparca Maronita do Brasil.

Dom Edgard Madi /Foto: Eparquia Maronita do Brasil

“Comecei a frequentar o Vaticano e o Dicastério para as Igrejas Orientais. Naquela época o povo falava: “temos dois papas, João Paulo II e Bento XVI”. Não foi fácil para o Papa Bento XVI conquistar seu espaço depois de 26 anos do pontificado de São João Paulo II, mas, depois de 7 anos, ele beatificou João Paulo II, e foi então que o Papa (agora santo) conquistou seu lugar no céu e Bento XVI o seu lugar na terra”, destaca Dom Edgar.

O arcebispo maronita do Brasil relembra que a última viagem apostólica de Bento XVI para fora de Roma foi ao Líbano, em 14 setembro de 2012. Na ocasião, o prelado frisa que o Papa assinou a Exortação Apostólica para as Igrejas Orientais. “Que ele descanse em paz!”, sublinha.

“Lembro-me dele como uma pessoa terna, que acolhia a todos”, destaca Dom Severino. O arcebispo de Maringá ressalta o vigor do Papa Emérito, além de sua sensibilidade. “É evidente que ele é o grande teólogo dos últimos tempos”.

A sabedoria, amor pela Igreja e a visão eclesial de Bento XVI também são qualidades atribuídas por Dom Severino ao Papa Emérito. “Ele sempre foi muito sereno, com diálogos fraternos e muito respeitoso”, disse.

Rico legado

O sentimento é de gratidão diante do “riquíssimo legado que Bento XVI deixa para os cristãos e para toda a humanidade”, comenta Dom Gil. O arcebispo de Juiz de Fora ressalta que está unido ao coração do Papa Francisco e de toda a Igreja nesta hora tão significativa.

Segundo Dom Gil é possível subdividir a vida do Papa Emérito e contemplá-la da seguinte forma: “O Mestre e o Teólogo”, “O colaborador da Verdade como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé” e “O papado”.

“Durante 25 anos, antes de ser eleito bispo, Ratzinger foi eminente professor de teologia em sua diocese, na Alemanha. Estudioso profundo da fé, iniciou suas publicações que hoje correspondem a uma grande coleção de livros e artigos teológicos que podem ser classificados como as publicações acadêmicas mais sólidas dos últimos tempos”, reforça o arcebispo.

Dom Gil afirma que Bento XVI era dotado de uma inteligência privilegiada, e sobretudo de uma fé inabalável, vigorosa e exemplar. Suas publicações acadêmicas, ainda de acordo com o arcebispo, somadas aos textos do seu Magistério Papal, correspondem hoje a um alicerce para os ensinamentos da Igreja nos tempos atuais.

“Sua atuação como perito no Concílio Ecumênico Vaticano II também foi importante para as renovações e atualizações da Igreja nesta época moderna”, comenta.

Colaborador da Verdade

Dom Gil Antônio, arcebispo da Arquidiocese de Juiz de Fora (MG) /Foto: Arquivo Pessoal – Dom Gil

Com sua competência, e ao mesmo tempo com sua humildade, Bento XVI serviu à Igreja de forma segura e serena como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, por 23 anos, durante o pontificado de São João Paulo II.

Nesta ocasião, Dom Gil sublinha que Ratzinger pôde auxiliar teólogos e reorientar aqueles que corriam perigo de equívocos ou excessos. “Se alguma vez teve que aplicar penas medicinais previstas no Direito Canônico, o fez com suavidade, sendo motivo de críticas daqueles que o achavam brando demais. Seguro na doutrina, fidelíssimo à fé, deixa para a Igreja um enorme serviço neste importante campo da Igreja”, opina.

Pastor admirável

Como Papa, o arcebispo de Juiz de Fora acredita que Bento XVI foi um “pastor admirável” e um “missionário incansável”. De acordo com Dom Gil, o Pontífice falava, ao mesmo tempo, com profundidade teológica e simplicidade paterna.

“Enfrentou problemas difíceis e desafiadores do mundo moderno, sejam no âmbito da moral, sejam no campo teológico, mas nunca deixou de tomar medidas exatas para a soluções necessárias, sem se preocupar com sua própria imagem, mas apenas com a santidade eclesial”, pontua.

A única preocupação de Bento XVI, segundo o arcebispo, era, de fato, ser fiel a Deus e aos ensinamentos da Igreja. Dom Gil prossegue: “Seu gesto de humildade e coragem de renunciar no oitavo ano de seu pontificado fica na história como exemplo de quem entende a autoridade como um serviço que deve ser prestado até o momento exato de suas condições pessoais para tal”.

“Seu gesto de humildade e coragem de renunciar no oitavo ano de seu pontificado fica na história como exemplo de quem entende a autoridade como um serviço que deve ser prestado até o momento exato de suas condições pessoais para tal” – Dom Gil Antônio

Sobre a emeritude papal de Bento XVI, Dom Gil destaca que ela estava “longe de ser inerte”, se tornando uma eloquente pregação pela mística de uma vida orante, na qual ele afirma que foram evidentes o extraordinário amor eucarístico e a filial devoção a Maria, Mãe do Senhor e Mãe da Igreja.

“Ficam também como exemplo modelar seu relacionamento fraterno e imensamente respeitoso com seu sucessor, o Papa Francisco, com quem mantinha autêntica amizade”, indica.

Nomeação

Dom Gil recorda que teve a graça de ter sido nomeado arcebispo por Bento XVI e dele recebeu o pálio em celebração em Roma. “Pude estar pessoalmente com ele algumas vezes, destaco a audiência pessoal na Visita ad Limina de 2010 e os encontros informais ou litúrgicos na sua visita ao Brasil no ano de 2007, quando aqui esteve para a Conferência de Aparecida”.

“Diante de sua vida rica de serviços à Igreja e à humanidade e diante de sua morte serena e santa, me curvo para agradecer por esse dom que nos ofereceu como base sólida para a fé e a prática do amor de Cristo”, finaliza.

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