Francisco recebeu comunidade italiana que preserva memória de um desastre ambiental há 60 anos e refletiu sobre a necessidade de cuidar da criação
Da Redação, com Vatican News
O Papa Francisco recebeu uma delegação da Diocese de Belluno-Feltre, situada na região italiana do Vêneto, nesta sexta-feira, 19. A audiência foi motivada pelo aniversário de 60 anos da “tragédia do Vajont”, que marcou a história do local onde vive a comunidade.
Em 9 de outubro de 1963, uma onda causada por um deslizamento de terra levou ao rompimento da barragem do rio Vajont. Aldeias e vilarejos inteiros foram varridos, em uma tragédia que causou 1910 mortes.
Em seu discurso, o Pontífice afirmou que, se há 60 anos uma onda catastrófica ceifou tantas vidas, as pessoas que responderam à tragédia com a “coragem da memória e da reconstrução” são “uma onda de esperança”.
“Penso em todas as gotas silenciosas que formaram essa grande onda de bem: os socorristas, os reconstrutores, os muitos que não se deixaram aprisionar pela dor, mas souberam como começar de novo. Vocês são os artífices e as testemunhas dessas sementes de ressurreição, que podem não aparecer muito nas manchetes, mas são preciosas aos olhos de Deus, o ‘especialista em recomeçar’”, declarou o Santo Padre.
“A ganância destrói”
Ele também observou que, ao refletir sobre o desastre, percebe-se que ele não foi causado erros no projeto ou na construção da represa, mas na escolha equivocada do local da barragem artificial. Diante disso, Francisco apontou para a sobreposição da lógica do lucro em relação ao cuidado com o meio ambiente. “Se a onda de esperança de vocês é impulsionada pela fraternidade, a onda que trouxe o desespero foi impulsionada pela ganância. E a ganância destrói, enquanto a fraternidade constrói”, expressou.
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O Papa comentou que este comportamento é extremamente atual. Neste contexto, disse que a comunidade dá testemunho da necessidade de cuidar da criação. “Isso é essencial hoje, quando a casa comum está desmoronando, e o motivo é mais uma vez o mesmo: a ganância pelo lucro, um delírio de ganho e posse que parece fazer com que o homem se sinta onipotente”, reforçou.
O lugar do homem na criação
Contudo, o Pontífice alertou que este é um grande engano, visto que os homens são criaturas que precisam se mover no mundo com respeito e cuidado. Sob esta perspectiva, ele recordou que, neste ano, se completam 800 da composição do Cântico das Criaturas por São Francisco de Assis.
“Precisamos do olhar contemplativo e respeitoso de São Francisco para reconhecer a beleza da criação e saber como dar às coisas a ordem correta, para parar de devastar o meio ambiente com lógicas mortais de ganância e para colaborar fraternalmente no desenvolvimento da vida. Vocês fazem isso preservando a memória e testemunhando como a vida pode ressurgir exatamente ali, onde tudo foi engolido pela morte”, concluiu.