Secretário de Estado do Vaticano estará presente na assinatura do acordo que deve colocar fim a mais de 52 anos de conflito
Rádio Vaticano
Esta segunda-feira, 26, é um dia histórico para a Colômbia, pois o presidente Juan Manuel Santos e a cúpula das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) assinam um tratado de paz que colocará fim a 52 anos de conflito entre as forças governamentais e a guerrilha de matriz socialista.
O país chega a este resultado depois de 4 anos de negociações, em Havana, que contou com a contribuição da Santa Sé. O momento oficial de hoje vem confirmar o acordo efetivo alcançado um mês atrás, na capital cubana, e que foi ratificado por unanimidade pelas Farc na última sexta-feira, 23.
Esta guerra civil abalou a Colômbia desde 1964, causando 220 mil mortos, 45 mil pessoas desaparecidas, 7 milhões de deslocados e milhares de crianças-soldado. As Farc controlam regiões inteiras da nação sul-americana autofinanciando-se com o narcotráfico e sequestros de pessoas: cerca de 25 mil.
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A assinatura do tratado de paz se realizará na cidade de Cartagena de Indias e contará com a presença de autoridades da comunidade internacional, dentre as quais o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, o Secretário de Estado Estadunidense, John Kerry, a Alta Representante da UE para Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, o presidente do Banco Mundial (Bird), Jim Yong Kim, e chefes de Estado dos seguintes países: México, Guatemala, Honduras, El Salvador, Costa Rica, Panamá, Cuba, Venezuela, República Dominicana, Equador, Peru, Chile e Paraguai. Estará também presente na cerimônia o Secretário de Estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. O Papa Francisco manifestou o desejo de ir à Colômbia em 2017.
O desafio para o presidente colombiano será agora o de reintegrar milhares de milícias na vida civil. Não será fácil, mesmo porque muitos colombianos ainda olham com ceticismo os acordos que serão ratificados com o referendo marcado para o domingo, 2 de outubro, em que os colombianos darão a última palavra. Se pelo menos 13% dos colombianos votarem no plebiscito e se prevalecer o ‘sim’, os acordos se tornarão irreversíveis e operacionais.
Encontro com a história
“A Colômbia está diante de um encontro com a história, um divisor de águas entre o antes e depois da paz. O país pode começar a mudar, a resolver seus problemas”, disse o arcebispo de Tunja, Dom Luis Augusto Castro Quiroga, presidente da Conferência Episcopal Colombiana.
A campanha do referendo está se revelando áspera e o ex-presidente Alvaro Uribe Vélez está conduzindo uma batalha dura pelo ‘não’, pintando o acordo como uma concessão aos guerrilheiros. O ‘sim’ é dado quase como certo, mas as enquetes são discordantes.
“A Colômbia sofreu 52 anos de guerra. Agora, estamos muito próximos à paz, ou melhor, estamos muito próximos a por fim à guerra. Este momento constitui uma alegria e uma grande graça. Para alcançar a meta falta somente um passo: o referendo de 2 de outubro”, frisou ainda o arcebispo.
Segundo Dom Quiroga, não é uma coincidência que o acordo de paz se realize no Ano da Misericórdia. “Neste caminho é preciso dizer que a misericórdia tem um papel muito importante. As vítimas desta guerra foram acompanhadas pelas instituições, sobretudo pela Igreja. Iniciamos percursos de perdão e reconciliação. As pessoas que sobreviveram ao conflito podem iniciar uma nova história e quem sai da guerrilha é o filho pródigo que volta para casa. Deve ser acolhido e reinserido na sociedade por um caminho positivo”, frisou o Presidente da Conferência Episcopal Colombiana.
Papel da Igreja
Sobre o papel da Igreja na campanha do referendo, o arcebispo de Tunja disse que a intenção é a de “convidar todos os cidadãos colombianos a refletir, a entender melhor, a fim de que tomem consciência da importância deste caminho de paz. É um discernimento importantíssimo. Se nós disséssemos como votar, talvez muitos nos ouviriam, mas sem refletir, sem entender. Nós convidamos os colombianos a votar e esperamos que seja um voto consciente.”
Dom Castro Quiroga deseja que se realize um acordo com o outro grupo guerrilheiro, o Exército de Libertação Nacional (Eln). “Estamos num momento difícil. Os esforços empreendidos para dar vida a uma fase pública da tratativa prosseguem e penso que nas próximas semanas será possível saber quando iniciarão os diálogos para alcançar a paz. Para obter isso, é preciso deixar de lado os grandes discursos e depor as armas”, concluiu.