Entrevista

Visita do Papa à ONU deixará marcas profundas, diz Dom Auza

O Papa visitará a ONU no próximo dia 25; Observador Permanente da Santa Sé na Onu, Dom Bernardito Auza, disse que essa visita deixará marcas profundas na organização

Da redação, com Rádio Vaticano

“Uma viagem histórica que deixará marcas profundas”. Assim se expressa o Observador Permanente da Santa Sé na ONU, Dom Bernardito Auza, sobre a visita do Papa na próxima sexta-feira, 25, à sede das Nações Unidas (ONU).

Esta semana foi inaugurada a 70ª Assembleia Geral da ONU, que até os primeiros dias de outubro estabelecerá o programa dos trabalhos dos próximos 15 anos.

Francisco, o 4º Papa na ONU, será o primeiro Pontífice a fazer um pronunciamento no contexto da programação da agenda das Nações Unidas. Acompanhe entrevista do Dom Bernardito sobre o assunto.

Leia a entrevista

“A visita do Papa é histórica. Será feita com a participação de muitos chefes de Estado e de governo e ministros provenientes do mundo inteiro, que vieram para o Encontro de cúpula para o desenvolvimento sustentável pós-2015, durante o qual será adotado o documento contendo 17 Objetivos de desenvolvimento sustentável. Será a primeira vez que as delegações oficiais dos 193 membros da Onu e dos observadores permanentes, capitaneadas pelas máximas autoridades nacionais, estarão sentadas na sala da Assembleia Geral para ouvir o Papa Francisco.”

Como a Assembleia das Nações Unidas se preparou para este evento?

“Para permitir a visita pontifícia a Assembleia Geral teve que mudar o horário de abertura do Encontro de cúpula. Muitas outras coisas administrativas e logísticas foram mudadas pela Assembleia Geral e por toda a ONU para facilitar a visita fortemente auspiciada pelo secretário-geral, Ban Ki-moon. Podemos dizer que nesse sentido todo o programa geral foi redesenhado em função da visita do Santo Padre. Houve grandes e intensos preparativos para esta visita do Papa. É uma visita complicada, por assim dizer, dada a presença de um alto número de chefes de Estado e de governo e somos gratos à Assembleia Geral por essa disponibilidade a organizar a visita do Santo Padre.”

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A visita do Papa se insere entre dois Sínodos sobre a família. Várias vezes Francisco reiterou a centralidade dessa célula fundamental da sociedade

“De fato, a Igreja católica e algumas outras religiões explicitamente consideram a família o coração da sociedade. Além disso, sempre insistimos que a família é também um protagonista, um agente do desenvolvimento, sobretudo do desenvolvimento integral: ou seja, não somente material mas também do desenvolvimento humano, do amadurecimento humano. E esse aspecto foi retomado especialmente nestes três últimos anos de debates sobre a agenda pós-2015, a agenda para o desenvolvimento. Porém, também as Nações Unidas reconhecem a família como agente principal do desenvolvimento.”

Porém, a ONU é muito dividida sobre a definição da família

“Vimos isso inclusive no voto para aquela resolução apresentada ao Conselho para os direitos humanos. Vê-se, ainda, que essa divisão é muito presente. Há um forte grupo em que a União Europeia desempenha um papel de primeiro plano que refuta o termo ‘família’ porque, afirmam, se refere somente à família tradicional, formada por um esposo e uma esposa, com os filhos. E insistem sobre o termo ‘todos os tipos de famílias’ ou ‘todas as formas de famílias’ para compreender todos os tipos de união, as uniões entre pessoas do mesmo gênero. Portanto, digamos que os países que pensam como nós têm uma grande expectativa de que o Papa Francisco reitere a centralidade da família e o seu significado.”

Os pobres e os sofredores estão no coração do Papa. Que espaço essas realidades têm ordinariamente no debate nas Nações Unidas?

“É um tema predominante, sobretudo nestes últimos oito meses, em que se trabalhou sobre esse grande documento para o desenvolvimento sustentável. Há um consenso universal sobre a prioridade a ser dada no combate à pobreza. Nesse sentido, os pronunciamentos na Assembleia dos países pobres foram ouvidos. E isso foi importante não somente porque se apresentou uma realidade, mas para insistir, propor e buscar nivelar a pobreza. Este é um ano de grandes conferências: a conferência sobre o financiamento para o desenvolvimento que se realizou na Etiópia, depois temos esse Encontro de cúpula sobre o desenvolvimento e, depois ainda, em dezembro, sobre as mudanças climáticas. São todos temas que giram em torno da questão da pobreza e das ajudas que podem chegar dos países mais desenvolvidos e tecnicamente evoluídos.”

Olhando também para a Conferência que se realizará em dezembro em Paris, entre os desafios lançados pelo Papa encontram-se o de uma economia que não prevaleça sobre o homem e, em sua última encíclica, a ‘Laudato si’, o respeito pela Criação. Qual foi a repercussão que essas palavras do Papa tiveram na ONU?

“A encíclica ‘Laudato si’ teve uma repercussão muito forte aqui na ONU. Desde o secretário-geral até as muitas delegações, sobretudo em vista da Conferência de Paris – marcada para dezembro próximo –, todos evidenciaram fortemente o cerne desse documento, que mais do que sobre as mudanças climáticas, é um documento sobre a justiça social. Por exemplo, um grande facilitador dessas negociações na Onu abriu os últimos pronunciamentos da negociação utilizando a ‘Laudato si’, convidando todos, católicos e não-cristãos, a ler o documento, dizendo: ‘tudo aquilo que tratamos aqui se encontra na ‘Laudato si’’. Portanto, nesse sentido o efeito é grande.”

Pessoalmente, quais são seus votos para essa viagem do Papa?

“Seguramente, que deixe pegadas profundas no seio da Onu sobre as grandes questões de hoje, sobretudo na questão da segurança internacional. Basta pensar na Síria, no Iraque, todas essas pessoas em movimento através dos desertos, os mares perigosos… Esse é o cerne da questão. A expectativa da Assembleia é também de que deixe marcas profundas sobre a questão das relações entre pobreza, justiça social e ambiente, coração da ‘Laudato si‘.”

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