Documento da instituição internacional católica e da ACN foi divulgado nesta terça-feira, 20
Da redação, com ACN
Foi divulgado, nesta terça-feira, 20, o Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo 2021, produzido pela instituição internacional católica e fundação pontifícia ACN (Aid to the Church in Need/Ajuda à Igreja que Sofre).
Segundo dados atualizados, a liberdade religiosa é violada em um em cada três países. De acordo com o relatório, o direito fundamental à liberdade religiosa não foi respeitado em 62 (31,6%) dos 196 países do mundo, entre 2018 e 2020.
De acordo com o Relatório de Liberdade Religiosa, em 26 desses países as pessoas sofrem perseguição. Em 95% deles, a situação ficou ainda pior durante o período analisado.
Leia mais
.: Parolin: a liberdade religiosa é uma marca da diplomacia do Vaticano
.: Em discurso, Dom Gallagher comenta liberdade religiosa na pandemia
Novos países na categoria “perseguição religiosa”
Nove países aparecem nesta categoria (Perseguição Religiosa) pela primeira vez: sete na África (Burkina Faso, Camarões, Chade, Comores, República Democrática do Congo, Mali e Moçambique) e dois na Ásia (Malásia e Sri Lanka).
Radicalização do continente africano
As estatísticas refletem uma das principais conclusões do relatório: a radicalização do continente africano, especialmente na África Subsaariana e Oriental, onde houve um aumento dramático na presença de grupos jihadistas.
Violações da liberdade religiosa – incluindo perseguições extremas, como assassinatos em massa – estão ocorrendo agora em 42% de todos os países africanos. São eles: Burkina Faso e Moçambique são apenas dois exemplos marcantes.
A radicalização afeta não apenas o continente africano: o Relatório de Liberdade Religiosa revela uma ascensão de redes islamistas transnacionais que se estendem do Mali a Moçambique, na África Subsaariana, às Comores, no Oceano Índico, e às Filipinas no Mar do Sul da China. O objetivo é de criar um chamado “califado transcontinental”.
Abuso da tecnologia
O relatório destaca outra nova tendência: o abuso da tecnologia digital, das redes cibernéticas e da vigilância em massa baseada em inteligência artificial (IA) e tecnologia de reconhecimento facial.
Tal ação visa aumentar o controle e a discriminação em algumas das nações com o pior histórico de liberdade religiosa. Isso é mais evidente na China, onde o Partido Comunista Chinês tem oprimido grupos religiosos com a ajuda de 626 milhões de câmeras de vigilância aprimoradas em IA e scanners de smartphones.
Leia também
.: Papa pede coerência cristã e reza pela liberdade religiosa
.: Bispo explica como unir liberdade religiosa e ecumenismo
.: Liberdade religiosa é prioridade para Igreja, diz cardeal
Grupos jihadistas também estão usando tecnologia digital para a radicalização e recrutamento de seguidores.
Renúncia ou mudança de religião
O Relatório mostrou que em 42 países (21%), renunciar ou mudar a religião pode levar a graves consequências legais e/ou sociais. Estes atos vão desde o ostracismo dentro da família até mesmo à pena de morte.
Aumento da violência sexual
Outro destaque é para o aumento da violência sexual usada como arma contra minorias religiosas – crimes contra mulheres e meninas que são sequestradas, estupradas e forçadas a se converter.
Minorias religiosas: as mais visadas
Hoje, cerca de 67% da população mundial, ou cerca de 5,2 bilhões de pessoas, vivem em países onde há graves violações da liberdade religiosa, incluindo as nações mais populosas – China, Índia e Paquistão.
Em muitos deles, as minorias religiosas são as mais visadas. Segundo o Relatório, a perseguição religiosa por governos autoritários também se intensificou.
A promoção da supremacia étnica e religiosa em alguns países de maioria hindu e budista na Ásia levou a uma maior opressão das minorias, muitas vezes reduzindo, de fato, seus membros a cidadãos de segunda classe.
A Índia é o exemplo mais extremo, mas políticas semelhantes se aplicam no Paquistão, Nepal, Sri Lanka e Mianmar.
Perseguição educada
No Ocidente, conclui o Relatório, houve um aumento da “perseguição educada”. O termo, cunhado pelo Papa Francisco, descreve como novas normas e valores culturais entram em profundo conflito com os direitos individuais à liberdade de consciência.
Estes valores consignam a religião “aos distritos fechados de igrejas, sinagogas ou mesquitas”.
Pandemia
O Relatório também aborda o profundo impacto da pandemia Covid-19 sobre o direito à liberdade religiosa.
ACN
Refletindo sobre a gravidade das descobertas do Relatório de Liberdade Religiosa, o presidente executivo internacional da ACN, Dr. Thomas Heine-Geldern, afirma:
“Lamentavelmente, apesar das iniciativas da ONU e dos embaixadores da liberdade religiosa, até hoje, a resposta da comunidade internacional à violência baseada na religião e à perseguição religiosa em geral, pode ser categorizada como muito pouco, ou tardia demais”.
Conclusão sobre a Liberdade Religiosa no Brasil
Em conformidade com os relatórios anteriores, as religiões afro-brasileiras continuam sendo as mais perseguidas no país. Em seguida estão as religiões esotéricas e animistas.
A grande diferença no momento atual é a politização da religião e as suas consequências para toda a vida social.
Leia também
.: Liberdade religiosa continua sendo violada no mundo
.: Liberdade religiosa cada vez mais em risco no mundo, diz secretário vaticano
Atualmente, existe uma nova escalada de agressividade associada à intolerância religiosa no país.
Está havendo uma politização dos valores tradicionais, das crenças religiosas e do ressentimento diante do cancelamento cultural às comunidades cristãs conservadoras.
Apresentação do relatório no Brasil
O Relatório de Liberdade Religiosa contará com um evento de apresentação no Brasil, no dia 27 de abril, a partir das 19h.
Uma transmissão será realizada pelos canais da ACN Brasil no Youtube e no Facebook. O evento contará com as participações de Dom Walmor de Oliveira, Presidente da CNBB; Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo; Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro; e Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil.
Desde 1999
Publicado pela primeira vez em 1999, o relatório bienal analisa até que ponto o direito humano fundamental à liberdade religiosa, protegido pelo artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é respeitado por todas as religiões dos 196 países do mundo.