Pesquisa mostra que sem mais esforços urgentes, a comunidade internacional não vai cumprir o objetivo de erradicar a fome até 2030
Da redação, com ONU News
O número de pessoas subnutridas aumentou de 804 milhões em 2016 para cerca de 821 milhões no ano passado. O relatório “Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo em 2018”, divulgado nesta terça-feira, 11, revela que o mundo regressou a níveis registados há 10 anos. A situação piorou nos últimos três anos, com uma em cada nove pessoas afetada no mundo. No Brasil e Angola situação melhorou, mas piorou em Moçambique e Guiné-Bissau.
A especialista em segurança alimentar e nutrição da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, Anna Kepple, explicou que é preciso mudar para resolver este problema. “É preciso melhorar a coordenação entre os órgãos internacionais e intergovernamentais, visando fortalecer as capacidades dos governos para que eles mesmos definam e implementem as políticas mais adequadas para a sua própria realidade. E é preciso implementar ações que fortaleçam a resiliência dos meios de subsistência e dos sistemas alimentares, inclusive as estratégias que visam a resiliência face aos eventos climáticos extremos.”
Segundo o relatório, a situação está a piorar na América do Sul e em algumas regiões de África. A tendência de descida na Ásia também está a desacelerar de forma significativa. Quanto aos países lusófonos, Anna Kepple diz que a situação é difícil. “A prevalência de subalimentação, que é o indicador de fome que a FAO usa desde longa data, aponta para quadros piores em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste. Nesses países, é estimado que entre 24% e 30% da população pode estar sem acesso à energia alimentar suficiente para uma vida sã e ativa.”
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Entre o biênio 2004–2006 e o biênio 2015–2017, a percentagem de pessoas subnutridas em Moçambique passou de 7,7 milhões para 8,8 milhões. Na Guiné-Bissau, subiu de 300 mil pessoas para 500 mil. Em Angola a situação melhorou, passando de 10,7 para 6,9 milhões, e o mesmo se passou no Brasil, descendo de 8,6 milhões para 5,2 milhões.
Em São Tomé e Príncipe, e em Cabo Verde, a situação manteve-se, com menos de 100 mil pessoas subnutridas nos dois países. Em Portugal, os números também não mudaram, com menos de 300 mil pessoas nesta situação.
Segundo a pesquisa, a variação do clima e os eventos climáticos extremos, como secas e cheias, são os principais responsáveis pelo aumento da fome, além dos conflitos e da desaceleração econômica. O relatório afirma que pouco progresso tem sido conseguido em outras áreas, como desenvolvimento retardado de crianças e obesidade de crianças, colocando a saúde de centenas de milhões de pessoas em risco.
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Existiam 151 milhões de crianças com menos de cinco anos com crescimento retardado no ano passado, comparado com 165 milhões em 2012. Cerca de 39% destas crianças estão na Ásia e mais de metade, 55%, estão na África.
Além da FAO, o relatório foi preparado por outras quatro agências da ONU: Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Fida, Programa Mundial de Alimentos, PMA, Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e Organização Mundial da Saúde, OMS.
Em nota conjunta, as agências dizem que os dados do relatório são um sinal claro de que existe muito trabalho para ser feito para alcançar o objetivo de não deixar ninguém para trás em relação à segurança alimentar e nutrição.