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Comissão para Estudos de Abusos na Igreja em Portugal divulga balanço

No primeiro trimestre de trabalhos, Comissão Independente recebeu 290 testemunhos válidos

Gracielle Reis
De Lisboa

Coletiva de imprensa / Foto: Gracielle Reis

A Comissão Independente para Estudos de Abusos contra crianças e adolescentes na Igreja em Portugal divulgou o balanço do primeiro trimestre de trabalhos nesta terça-feira, 12.

Segundo o coordenador da comissão, Pedro Strecht, do total de testemunhos recebidos, 290 foram validados. Estes relatos apresentaram consistência interna, com informações credíveis, além daquelas cruzadas em que diferentes pessoas relataram situações semelhantes.

Os relatos indicam que a maior parte dos agressores são homens, religiosos ou leigos a serviço da Igreja.

“Temos testemunhos de pessoas que viveram situações de abuso em escolas católicas em Portugal. São vários. Também temos situações que aconteceram dentro de ordens religiosas e que atingiram tanto pessoas do sexo masculino, como do sexo feminino”, disse Strecht.

Metodologia e ações

A metodologia em Portugal é checar dados não apenas das instituições, mas também ouvindo as próprias vítimas. Contudo, a Comissão entrou em contato com inúmeras organizações civis e religiosas e foi constituída uma equipe científica para pesquisar os arquivos das dioceses de 1950 até os dias de hoje.

A Comissão Independente também está realizando reuniões com 21 bispos portugueses a fim de levar o conhecimento dos abusos ocorridos nas dioceses. A socióloga Ana Nunes de Almeida afirmou que é evidente que a contribuição dos bispos portugueses é fundamental.

Foi divulgada a realização, em maio, de conferências com renomados especialistas com o objetivo de alargar a discussão sobre o tema. Um importante passo dado foi o envio de 16 inquéritos ao ministério público, pois cabe a este órgão a investigação criminal e análise de prescrição dos casos.

Romper o silêncio

A Comissão Independente reforça o pedido aos meios de comunicação e dioceses a fim de incentivarem as vítimas a darem o seu testemunho, até mesmo uma divulgação internacional devido aos emigrantes das últimas décadas.

Os membros da comissão acreditam que romper o silêncio é um desafio perante as raízes da cultura portuguesa e garantem a confidencialidade dos nomes das vítimas e abusadores.

A realizadora e designer, Catarina Vasconcelos, afirmou que as vítimas não estão sozinhas. “Estão com vocês muitas pessoas que passaram pela mesma situação e nós estamos aqui para resolver. Estamos com vocês!”.

Ao se dirigir à sociedade, Vasconcelos defendeu que as pessoas vítimas são familiares, irmãos, irmãs, tios, tias, pais, mães, filhos, filhas, vizinhos e vizinhas daquelas aldeias, cidade e país.

Catarina citou a cultura do silêncio que envolve esses casos e a definiu como difícil. “Esta é a razão pela qual muitas dessas vítimas falaram só agora pela primeira vez”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

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