Nota da Santa Sé

Secretário do Dicastério para a Cultura fala sobre ética no uso da IA

Dom Paul Tighe ilustra o documento do Vaticano sobre a IA, enfatiza seu potencial e destaca a necessidade de orientar o desenvolvimento responsável da tecnologia

Da redação, com Vatican News

Dom Paul Tighe, secretário do Dicastério para a Cultura / Foto: Reprodução Youtube

Uma contribuição para o debate sobre o tema da inteligência artificial (IA), oferecendo um guia ético e pontos para a reflexão. É assim que Dom Paul Tighe, secretário do Dicastério para a Cultura e a Educação, resume o documento Antiqua et nova: Nota sobre a relação entre inteligência artificial e inteligência humana, publicado nesta terça-feira, 28, pelo seu Dicastério e pelo Dicastério para a Doutrina da Fé. O documento está disponível em três idiomas: italiano, inglês e espanhol (acesse aqui). 

Tighe enfatizou que o novo documento tem o objetivo de contribuir para o debate sobre o tema da IA, oferecendo um guia ético e pontos para a reflexão. “Há uma compreensão mais ampla da inteligência que tem a ver com nossa capacidade humana de encontrar um propósito e um significado em nossas vidas, e essa é uma forma de inteligência que as máquinas simplesmente não são capazes de substituir”, disse.

Ainda sobre o novo documento, Dom Tighe explicou que as reflexões ali contidas foram desenvolvidas nos últimos anos. E essas reflexões querem inspirar um pensamento crítico sobre como utilizar a IA e os benefícios que ela pode oferecer ao mundo. “Depois queremos alertar as pessoas sobre o que precisamos prestar atenção para garantir que não criemos inadvertidamente algo que possa ser prejudicial à humanidade e à sociedade”, observou.

Polarização, fake news e redes sociais

De acordo com o prelado, a absorção do uso da IA foi rápida, especialmente por conta das redes sociais. Por outro lado, não houve um uso crítico da tecnologia e seus “possíveis efeitos contraproducentes”, como descreveu. “Talvez não tenhamos percebido as desvantagens em termos de polarização, fake news e outros problemas. Queremos abraçar algo que tem um enorme potencial para os seres humanos: queremos ver esse potencial, mas, ao mesmo tempo, prestar atenção aos possíveis efeitos contraproducentes. E acho que é isso que estamos tentando fazer aqui. Em um dia, lemos nas manchetes que a IA será a salvação de todos nós e, no dia seguinte, que ela causará a aniquilação e o fim do mundo. Tentamos oferecer às pessoas uma abordagem mais equilibrada”, ponderou.

O bispo também foi veemente em uma afirmação: por mais inovadoras que sejam, essas tecnologias não substituem diversos aspectos da humanidade. “O que incentiva o bem-estar dos seres humanos? E essa é uma forma de inteligência que as máquinas simplesmente não são capazes de substituir. Na tradição católica, a maneira como entendemos a inteligência é mais do que apenas raciocínio, cálculo e processamento, mas também inclui nossa capacidade de buscar propósito, significado e direção em nossas vidas. Acho que o que sempre nos preocupa é a busca pela verdade suprema, o que é que dá forma, propósito e significado à vida. Portanto, podemos usar a IA para nos ajudar em alguns aspectos, mas, em última análise, nossa dimensão intelectual vai além de algo que pode ser feito simplesmente por uma máquina”, definiu o sacerdote.

Uma visão antropológica

Dom Tighe ressaltou que a Antiqua et nova reúne questões éticas e diversas outras iniciativas a fim de tornar o tema mais antropológico. “O documento é resultado disso e reúne muitas outras iniciativas. Ele também oferece uma unidade de visão, que busca unir as questões éticas e vinculá-las à visão antropológica mais fundamental do que nos torna humanos”, explicou.

Outro problema, de acordo com o secretário do Dicastério para a Cultura, pode ser o aprofundamento das desigualdades sociais que a IA pode criar. “Uma área em que a IA tem um potencial extraordinário é a da saúde. Mas sabemos que a assistência médica já tende a ser distribuída de forma desigual. A IA levará a mais desigualdades nessa área? Grande parte de nossas reflexões aborda essas questões”.

Um documento universal

O bispo ainda reforçou que o novo documento do Vaticano tem um caráter universal — e pode ser estudado inclusive por não católicos. “O que eu gostaria de dizer às pessoas que lerão este documento é que, sejam elas católicas ou não, o objetivo é estar o mais informado possível sobre o que está acontecendo no momento, sem se sentir impotente ou excluído”, salientou o prelado.

Outro aspecto importante que o documento apresenta, para dom Tighe, é o uso responsável da tecnologia. “Todos devem pensar sobre seu próprio grau de responsabilidade — e isso também diz respeito e se estende ao usuário — e se perguntar: vou começar a compartilhar conteúdo que sei que é duvidoso ou que imagino que possa incitar o ódio? E, assim, assumir a responsabilidade pela forma como uso a IA”.

Para ler a entrevista original, em inglês, clique aqui.

 

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