Rezando em casa

Comunhão espiritual: nosso coração é onde Deus habita, explica padre

Com isolamento social, fiéis vivem comunhão espiritual ao participarem da Santa Missa em casa, pelos meios de comunicação

Thiago Coutinho,
Da redação

Participando da Missa pelos meios de comunicação, fiéis são convidados à comunhão espiritual / Foto: Paula Dzaró – Canção Nova

A chegada da pandemia causada pelo Coronavírus mudou tudo. A rotina diária das pessoas entrou em colisão com um vírus que as impediu de realizar atividades básicas, como ir à escola, trabalhar, ir às compras e até ir à Igreja.

O momento pede cautela, fé e discernimento e a Igreja está atenta a isso. “É um tempo de obediência aos nossos médicos, às autoridades constituídas. Já percebemos uma mobilização a essas normas aqui no Brasil, em nossa Igreja, sobretudo pelas pessoas que constituem o grupo de risco”, pondera o padre Uélisson Pereira dos Santos, da Comunidade Canção Nova.

O sacerdote recorda a época em que a Igreja deu seus primeiros passos, nas casas das famílias, em que os cristãos se reuniam nas residências. “Acompanhamos muito isto no livro dos Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas. Nele, a Igreja se reunia nas casas, ali a Eucaristia era celebrada, a Palavra era partilhada, onde os cristãos educavam os filhos na fé. Essa realidade de se reunir em casa percebemos, especialmente, no momento em que a Igreja era perseguida. E lembremos: onde dois ou mais estão reunidos no nome do Senhor, ali Ele está presente”, afirma padre Uélisson.

Hoje, diante da necessidade de isolamento social, a opção é participar da Santa Missa em casa, acompanhando pelos meios de comunicação. O Papa Francisco, por exemplo, tem celebrado a Santa Missa diariamente, com transmissão ao vivo pela internet, e convidado os fiéis à comunhão espiritual

“Este é um momento para exercitarmos a caridade espiritual”, adverte padre Uélisson. “Se olharmos para a história da Igreja, os Santos já viviam muito bem esta realidade [de Comunhão Espiritual]. É o desejo de se estar em comum união com Jesus Cristo”, reitera.

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Ajuda da mídia

Graças aos avanços tecnológicos — como a transmissão de áudio e vídeo via internet, redes sociais, por exemplo — a Igreja pode, em um momento excepcional como este, em que todos precisam ficar em casa, chegar aos fiéis sem que eles tenham que se deslocar até ela.

“Muitas emissoras católicas, dioceses, estão transmitindo as missas por meio das mídias sociais, que são uma bênção. Entendemos que dentro de casa é mais difícil, mas é bom que as pessoas se organizem para ouvir um pouco da Palavra, como se estivessem ali, na Igreja. Especialmente aos domingos, que todos se reúnam, acendam uma vela, como se realmente a Eucaristia fosse chegar a elas de maneira espiritual”, aconselha o padre.

Elthon César da Cunha, sua esposa Flávia e seus três filhos / Foto: Arquivo Pessoal

E é assim que muitas famílias têm feito. Elthon César da Cunha, casado com Flávia e pai de Stella, Calleb e Chiara, de 12, 8, 3 anos respectivamente, entendeu a importância de se manter o isolamento social, mas não se esqueceu seu compromisso com Deus.

“Estamos vivendo uma experiência fantástica com Deus”, exalta Elthon. “Toda a noite, juntos, celebramos a Palavra. As crianças também participam, depois, meditamos. Percebemos que, mesmo em tempos difíceis, Deus vem em nosso auxílio e nos surpreende com amor e misericórdia”, reitera.

Ana Maria Coli de Freitas, casada há 31 anos com Marcelo de Santos, vive em Santos, litoral norte de São Paulo. Para Ana Maria, esta quarentena chegou junto com a Quaresma e, a seu ver, o sacrifício exigido por ambas é produtivo — e não chegaram por acaso. “Estamos vivendo tudo isso muito juntos, enquanto católicos. A Quaresma já tem esta disposição da penitência, do sacrifício, da caridade, da vida de oração, e estamos vivendo este tempo numa intensidade até maior do que seria em outros anos. A comunhão espiritual tem sido o alicerce nestes momentos de distância do Sacramento da Eucaristia”, diz.

Ao centro, Ana Maria Coli de Freitas e seu marido, Marcelo de Santos / Foto: Arquivo Pessoal

Esta Comunhão Espiritual, segundo padre Uélisson, pode ser realizada diariamente. Ele cita, por exemplo, Santo Agostinho e Santa Faustina, para justificar seu pensamento. “Santa Faustina diz: ‘o meu coração é o sacrário em que Deus habita’. Santo Agostinho também vivia esta experiência e dizia: ‘eis que eu procurava fora aquele que estava dentro de mim’. O nosso coração é o lugar que Deus habita por excelência”, ratifica o sacerdote.  “Somos templos vivos de Deus, recebemos a Trindade e ela está em nós pelo santo Batismo”, acrescenta. 

Padre Uélisson dá algumas dicas para a Comunhão Espiritual. O primeiro ponto: estar receptivo a Deus. “Primeiro lugar, deseje realmente receber essa Comunhão, esse ato de fé. Que receberei pela misericórdia e bondade de Deus os mesmos frutos”, ensina.

Outro ponto é a necessidade de um exame de consciência. “Pedir ao Senhor para recebê-Lo de maneira espiritual. Este é um tempo para fazermos um exame de consciência. A Comunhão não pode ser feita de qualquer jeito, em pecado grave. Ela acontece, mas os efeitos, os frutos, é como se estivéssemos colocando uma barreira para que as graças e bênçãos de Deus aconteçam em nossa vida. Esteja arrependido de seus pecados e, numa oportunidade próxima, confesse-se de maneira individual”, finaliza.

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