Em discurso aos executivos de empresas de energia, petróleo e gás natural, Francisco pediu que olhem pelos pobres e pelo meio ambiente
Da redação, com Boletim da Santa Sé
“Somos afetados por crises climáticas. No entanto, os efeitos das mudanças climáticas não são distribuídos uniformemente. São os pobres que mais sofrem com os estragos do aquecimento global”. A frase foi um alerta do Papa Francisco aos executivos de empresas do setor de petróleo, gás natural e outras atividades relacionadas à energia, reunidos na manhã deste sábado, 9, no Vaticano. Em Roma para o simpósio dedicado aos temas da transição energética e do cuidado do lar comum, os executivos ouviram do Santo Padre sobre o importante papel que desempenham em sociedade e sobre a necessidade de estarem cercados de boas orientações antes de tomadas de decisão.
Sobre a energia gerada pelas empresas e os principais desafios de tal processo, o Pontífice alertou: “Muitas das áreas de nossas vidas são condicionadas pela energia, e infelizmente ainda há muitas pessoas que não têm acesso à eletricidade: fala-se até de mais de um bilhão de pessoas. Daí o desafio de ser capaz de fornecer a enorme energia necessária para todos, de forma que a exploração dos recursos evitem desequilíbrios ambientais ou que causem um processo de degradação e poluição, a partir do qual toda a humanidade hoje e amanhã seria gravemente ferida”.
Durante seu discurso, o Santo Padre afirmou também sobre as muitas formas de degradação provenientes do consumo desenfreado de energia. “A qualidade do ar, o nível dos mares, as reservas de água doce, o clima e o equilíbrio dos ecossistemas não podem sofrer por causa das modalidades com que os seres humanos saciam sua ‘sede’ de energia”, reforçou. Sobre este tipo de consumo, Francisco foi categórico: “Para satisfazer esta ‘sede’, não é lícito aumentar a verdadeira sede de água, pobreza ou exclusão social”.
A necessidade de dispor de quantidades crescentes de energia para o funcionamento das máquinas não pode, segundo o Papa, ser satisfeita ao preço de envenenar o ar e comprometer seriamente a existência de todas de espécies de seres vivos na Terra. Francisco citou um trecho de sua Encíclica Laudato Si para explicar a nocividade da falta de informação e compromisso com o ambiente: “É falso o pressuposto de que existe uma quantidade ilimitada de energia e meios utilizáveis, que a sua regeneração imediata é possível e que os efeitos adversos da manipulação da natureza podem ser facilmente absorvidos”.
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Diante de tantas questões delicadas, o Pontífice reconheceu a complexidade da demanda energética e os principais desafios, teóricos e práticos, para a comunidade internacional. Por isso, o Santo Padre apontou a necessidade de uma estratégia global de longo prazo, que forneça segurança energética e a estabilidade econômica, protegendo a saúde do ambiente e o desenvolvimento humano integral. A resolução de problemas relacionadas à mudanças climáticas são compromissos apontados pelo Papa como específicos e importantes de serem resolvidos.
“Na Encíclica Laudato Si, apelei a todas as pessoas de boa vontade (ver nn. 31-64) para o cuidado do lar comum, e precisamente para uma transição energética (n. 165) que evite mudanças desastrosas, mudanças climáticas que poderiam comprometer o bem-estar e o futuro da família humana e seu lar comum. Neste contexto, é importante que, com seriedade e compromisso, prossigamos em direção a uma transição que aumente constantemente o uso de energia com alta eficiência e baixa taxa de poluição”, afirmou.
Sobre o acesso à energia nos países mais vulneráveis, o Papa reafirmou a ideia de uma diversificação das fontes de energia que acelerem o desenvolvimento sustentável de energias renováveis. “Se quisermos eliminar a pobreza e a fome, conforme exigido pelas metas de desenvolvimento sustentável da ONU, os bilhões de pessoas que não têm eletricidade hoje devem poder tê-la de maneira acessível. Mas, ao mesmo tempo, é bom que essa energia seja limpa, contendo o uso sistemático de combustíveis fósseis”, frisou.
Acordo de Paris
O Santo Padre relembrou a adoção de 196 países ao Acordo de Paris, realizado em dezembro de 2015, que limitava o crescimento do aquecimento global. Desde a data, Francisco salientou a ainda crescente taxa de emissões de CO 2 e concentrações atmosféricas devido aos gases de efeito estufa. “Isso é bastante perturbador”, opinou. O Pontífice prosseguiu reforçando o impacto ambiental sob as decisões econômicas e a necessidade de sempre ser considerado os custos humanos e ambientais de longo prazo, envolvendo instituições e comunidades nos processos de tomada de decisão.
“O progresso foi feito através de seus esforços. As empresas de petróleo e gás estão desenvolvendo abordagens mais aprofundadas para avaliar o risco climático e modificar seus planos de negócios. Isso é digno de louvor. Investidores globais estão revendo suas estratégias de investimento para levar em conta considerações ambientais. Novas abordagens para ‘finanças verdes’ estão surgindo. Certamente, houve progresso. Mas isso é suficiente? Nós nos viramos no tempo?”, questionou.
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Para Francisco não há avanço sem uma consciência crescente de que todo o ser humano pertence a uma única família ligada por laços de fraternidade e solidariedade. “Somente pensando e agindo com a constante atenção a essa unidade fundamental que supera todas as diferenças, somente cultivando um sentido de solidariedade universal e internacional, podemos realmente prosseguir resolutamente no caminho indicado”.
Por fim, o Papa exortou todos os executivos a contribuírem com duas grandes fragilidades do mundo atual: os pobres e o meio ambiente. “Convido vocês a serem o núcleo de um grupo de líderes que imagina a transição energética global de uma maneira que leve em conta todos os povos da Terra, bem como as futuras gerações e todas as espécies e ecossistemas. (…) Com gratidão, os abençoo e oro para que o Deus Todo-Poderoso conceda a cada um de vocês grande determinação e coragem para servir ao lar comum em uma forma renovada de cooperação”, concluiu.