Planície de Ur, no Iraque

Papa em encontro inter-religioso: extremismo e violência traem a religião

Encontro inter-religioso na Planície de Ur foi neste sábado; não se pode calar quando o terrorismo abusa da religião, disse o Papa

Da Redação, com Boletim da Santa Sé 

Papa Francisco discursa durante o encontro inter-religioso na Planície de Ur, no Iraque / Foto: REUTERS/Thaier al-Sudani

Transformar instrumentos do ódio em instrumentos de paz. Com este apelo, o Papa Francisco participou neste sábado, 6, do encontro inter-religioso na Planície de Ur. Esse era um dos eventos mais aguardados em sua viagem ao Iraque, de 5 a 8 de março.

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O encontro reuniu em oração judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras religiões. Na Bíblia, este local é indicado como o local de nascimento de Abraão, patriarca das religiões monoteístas.

“Este lugar abençoado faz-nos pensar nas origens, nos primórdios da obra de Deus, no nascimento das nossas religiões. Aqui, onde viveu o nosso pai Abraão, temos a impressão de regressar a casa”, disse Francisco logo no início de seu discurso.

O Santo Padre destacou que os crentes são chamados a testemunhar a bondade de Deus em um mundo que, muitas vezes, se esquece d’Ele ou oferece Sua imagem distorcida. Francisco frisou que a ofensa mais blasfema é profanar o nome de Deus odiando o irmão.

“Hostilidade, extremismo e violência não nascem dum ânimo religioso: são traições da religião. E nós, crentes, não podemos ficar calados quando o terrorismo abusa da religião. Antes, cabe a nós dissipar com clareza os mal-entendidos”, afirmou.

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Apelo por liberdade de consciência e religiosa

Encontro inter-religioso na Planície de Ur, no Iraque / Foto: Vatican Media

Francisco recordou em seu discurso as comunidades étnicas e religiosas vítimas do terrorismo, da guerra e da violência. De modo particular, a comunidade yazidi, que sofreu com a morte de muitos de seus membros, bem como com sequestros, escravidão e conversões forçadas.

Neste ponto de sua fala, deixou um apelo em prol da liberdade religiosa. “Hoje, rezamos por todas as vítimas de tais sofrimentos, por quantos ainda estão dispersos e sequestrados para que regressem brevemente às suas casas. E rezamos para que, em toda a parte, se respeitem e reconheçam a liberdade de consciência e a liberdade religiosa: são direitos fundamentais, porque tornam o homem livre para contemplar o Céu para o qual foi criado”.

A destruição causada pelo terrorismo

O Pontífice recordou ainda a destruição do patrimônio religioso quando o terrorismo invadiu o norte do Iraque. Igrejas, mosteiros e lugares de culto de várias comunidades sofreram com essa ação.

Mas neste cenário, o Papa frisou que “brilharam as estrelas”. Aqui, mencionou os jovens voluntários muçulmanos de Mossul, que ajudaram a refazer igrejas e mosteiros. Também os cristãos e muçulmanos que hoje restauram conjuntamente mesquitas e igrejas. “Que o grande patriarca nos ajude a tornar oásis de paz e de encontro para todos os lugares sagrados de cada um”.

Caminhar sobre a terra

Os olhos de Abraão erguidos para o céu o encorajaram a caminhar sobre a terra, disse o Papa. Abraão teve um “caminho em saída” que implicou sacrifícios, mas, renunciando à sua família, tornou-se pai de uma família de povos, recordou. E isso fala também aos fiéis de hoje.

“No caminho, somos chamados a deixar aqueles vínculos e apegos que, fechando-nos no nosso grupo, impedem-nos de acolher o amor ilimitado de Deus e ver os outros como irmãos. É verdade! Precisamos sair de nós mesmos, porque temos necessidade uns dos outros”.

O caminho que o céu aponta para o percurso do homem é o caminho de paz, frisou o Papa. E para isso é preciso remar juntos na mesma direção. “É indigno que, enquanto todos somos provados pela crise pandêmica, e especialmente aqui onde os conflitos causaram tanta miséria, alguém pense avidamente nos seus negócios”.

Esperança

Já encerrando seu discurso, Francisco pontuou que quem segue os caminhos de Deus não pode ser contra ninguém. Não pode justificar qualquer forma de imposição, opressão e prevaricação, não pode se comportar de modo agressivo. E o pai Abraão encoraja os homens, ele que teve esperança para além do que se podia esperar.

“Cabe a nós, a humanidade de hoje e principalmente os crentes das diferentes religiões, transformar os instrumentos do ódio em instrumentos de paz”, disse o Papa.

Ele também frisou o dever de instar fortemente contra a proliferação de armas, pelos mais descartados do planeta, pela proteção da casa comum, pelo valor da vida. “Cabe a nós ter a coragem de levantar os olhos e olhar as estrelas, as estrelas que viu o nosso pai Abraão, as estrelas da promessa”.

“Nós, irmãos e irmãs de diversas religiões, encontramo-nos aqui, em casa, e a partir daqui, juntos, queremos empenhar-nos para que se realize o sonho de Deus: que a família humana se torne hospitaleira e acolhedora para com todos os seus filhos; que, olhando o mesmo céu, caminhe em paz sobre a mesma terra”, concluiu.

Ao final do encontro, todos fizeram uma oração conjunta.  

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