Papa recebeu, hoje, membros de associação que reúne pessoas com deficiência visual e convidou a ver com o coração, através dos olhos de Deus
Da Redação, com Vatican News
É preciso aprender a ver com o coração, o que significa ver o mundo e os irmãos através dos olhos de Deus. Essas foram palavras do Papa Francisco em audiência neste sábado, 19, com membros da Associação francesa Voir Ensemble (Ver juntos). O organismo reúne pessoas com deficiência visual que desejam caminhar juntos para viver em fraternidade a alegria do Evangelho.
O encontro de Jesus com o nascido cego, do Evangelho de João, foi o ponto de abertura da reflexão do Santo Padre em seu discurso. Francisco destacou que o olhar de Jesus precede, é um olhar que chama ao encontro, à ação, à ternura, à fraternidade. Jesus viu naquele homem um irmão que devia ser libertado. Já os discípulos ficaram parados com o olhar comum daquele tempo para com as pessoas com deficiências: nascidas no pecado, eram punidas por Deus, prisioneiras de um olhar de exclusão.
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“Em uma cultura de preconceito, Jesus rejeita radicalmente esta forma de ver. É por isso que ele afirma, diante dos discípulos, que ‘nem ele nem seus pais’ são a causa de seu mal. É uma palavra de libertação, aceitação e salvação”.
O Santo Padre constatou que, hoje, infelizmente, as pessoas estão acostumadas a perceber apenas o exterior das coisas, seu aspecto mais superficial. Mas ressaltou que, como ensina o Evangelho, a pessoa doente ou com deficiência, a partir de sua fragilidade e limitação, pode estar no coração do encontro com Jesus. E este é um encontro que se abre à vida e à fé, e que pode construir relações fraternas e solidárias na Igreja e na sociedade.
Não ficar indiferente diante do sofrimento
O segundo ponto destacado pelo Pontífice foi que Cristo faz para o cego “as obras de Deus”, dando-lhe visão. “O coração de Jesus não pode ficar indiferente diante do sofrimento”, disse o Papa aos presentes. “Ele nos convida a agir, imediatamente, para consolar, acalmar e curar as feridas de nossos irmãos e irmãs”.
Francisco repetiu o que já disse outras vezes em seu pontificado, que a Igreja é um hospital de campo. Há muitas pessoas feridas, precisando de uma mão estendida para curá-las.
Continuando sua reflexão sobre a ação de Jesus diante do cego, afirmou: “Este é o paradoxo: aquele cego, ao encontrar Aquele que é a Luz do mundo, torna-se capaz de ver, enquanto que aqueles que veem, apesar de encontrar Jesus, permanecem cegos, incapazes de ver. Este paradoxo, muitas vezes, percorre nossas próprias vidas e nossas formas de acreditar”.
Para ilustrar, o Papa citou Saint-Exupéry, que em seu livro O Pequeno Príncipe escreveu: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.
“Ver com o coração é ver o mundo e nossos irmãos e irmãs através dos olhos de Deus. Jesus nos convida a renovar nossa maneira de ver as pessoas e as coisas”.
Ver com o coração
Francisco explicou aos presentes que a fé não se reduz a uma série de crenças teóricas, tradições e costumes. Trata-se de um vínculo e um caminho seguindo Jesus, que renova a maneira de ver o mundo e os irmãos. E destacou que os cristãos não podem se contentar em ser iluminados, precisam também ser ‘testemunhas da luz’”.
“Somos chamados a testemunhar Jesus em nossas vidas, no estilo da acolhida e do amor fraterno”. E concluindo o discurso, encorajou todos a seguir “vendo juntos” – voir ensemble – com o coração, fazendo com que o carisma do Padre Yves Mollat dê frutos. “Deixem que Jesus venha até vocês, cure suas feridas e lhes ensine a ver com o coração”.