Colômbia vive processo de paz, mas existem cicatrizes profundas ainda mal curadas, diz bispo da presidência do Celam
Kelen Galvan
Da redação
A chegada do Papa Francisco à Colômbia, nesta quarta-feira, 6, está sendo muito esperada pelos colombianos. Após mais de 30 anos sem receber a visita de um Pontífice, o país se prepara para acolher o Santo Padre por cinco dias.
Segundo dados do Anuário Pontifício 2017 e do Anuário Estatístico Eclesial 2015, da Santa Sé, a Colômbia é o sétimo país na lista de maior número de católicos no mundo, com 45,3 milhões de fiéis.
“Certamente o povo colombiano vai receber com muito carinho esse papa latino-americano”, afirmou o segundo vice-presidente do Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (CELAM), Dom José Belisário, arcebispo de São Luís do Maranhão (MA)
O bispo, que já está na Colômbia para a visita de Francisco, destacou que nesta quinta-feira, 7, o Papa terá um encontro reservado com a direção do Celam. Ele acredita que o Santo Padre aproveitará a oportunidade para tocar em assuntos de muito interesse, não só para a Igreja na Colômbia, mas de todo o continente.
Processo de construção social
Dom Belisário conta que a Colômbia se parece um pouco com o Brasil, pois de um lado, é um país dinâmico com uma indústria e uma agricultura produtivas e modernas, mas por outro lado, é socialmente desigual, herdeira de uma história de colonialismo, de escravidão e de massacre dos habitantes originais.
Nesse sentido, ele espera que a visita do Papa Francisco “ajude a esse país irmão no processo da construção de uma sociedade pluralista e mais justa, onde haja lugar para todos”.
O bispo espera ainda que a viagem do Pontífice possa contribuir para a realidade que a Colômbia vive atualmente.
“A sociedade colombiana está muito polarizada. A guerrilha – ou melhor, as guerrilhas, no plural – e a repressão contra elas por parte das forças armadas deixaram cicatrizes profundas e ainda não bem curadas. Acho que, especialmente através de alguns gestos, essa visita do Papa ajudará a fechar essas chagas ainda abertas”.
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Reconciliação Nacional
Após mais de 50 anos de conflitos internos, a Colômbia vive hoje um processo de reconciliação nacional, com um acordo de paz já consumado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e outro em andamento com o Exército de Libertação Nacional.
O segundo vice-presidente do Celam lembra que, ao longo desses anos de conflito, a Igreja na Colômbia sempre marcou presença, também nas zonas conflagradas, e algumas vezes, passando por momentos delicados. “Não podemos nos esquecer que, para se chegar a esse acordo de paz que se está construindo, está sendo muito importante a intermediação da Igreja”.
Dom Belisário afirma ainda que o que está acontecendo na Colômbia serve de exemplo para todos. “Assim como os colombianos, nós, habitantes deste continente com tantas contradições e conflitos, temos que olhar para frente e esquecer as mágoas passadas. É preciso evitar polarizações desnecessárias e o perdão, as anistias são necessários. Sem perdão, não progrediremos na construção de uma sociedade mais justa e fraterna”, finalizou.