Biógrafo e secretário pessoal do Papa emérito comentam aspectos da personalidade e vida pessoal de Bento XVI
Da redação, com colaboração de Lizia Costa
Nesta sexta-feira, 11, completam-se 9 anos do dia em que o então Papa Bento XVI anunciou sua renúncia como Papa. Eleito Sucessor de Pedro em 19 de abril de 2005, o Cardeal Joseph Ratzinger foi o 265º Papa da Igreja Católica.
O Papado de Bento XVI durou aproximadamente 8 anos. Em 11 de fevereiro de 2013, apresentou sua renúncia que foi efetivada em 28 de fevereiro do mesmo ano. Tornou-se Papa Emérito e passou a morar no Mosteiro Mater Ecclesia, onde se dedica à reflexão e à oração pela Igreja.
Em entrevista à nossa correspondente em Roma, Lizia Costa, em dezembro passado, o secretário pessoal do Papa emérito, Dom Georg Gänswein, afirmou que Bento é uma combinação de “inteligência extraordinária” e “humildade também extraordinária”. “E esta combinação não foi entendida por muitos, e alguns momentos até mesmo apresentada de modo errado”.
Segundo Gänswein, quem conhece a pessoa de Joseph Ratzinger, ou conhece a sua obra como professor, cardeal e Papa, sabe muito bem que esta junção de humildade e inteligência deu frutos extraordinários que talvez só mesmo no futuro serão vistos.
“O Papa emérito tem uma paz interior que o permite até mesmo enfrentar situações muito difíceis, pessoais ou institucionais. Ele não busca aplausos. O que conta na vida de Joseph Ratzinger é a relação com Cristo, e é esta relação que deu a ele esta paz da qual falei, a paz de alma e de coração”, concluiu.
Início da vida na Igreja
Atualmente com 94 anos, Joseph Ratzinger nasceu no dia 16 de abril de 1927 em Marktl an Inn, uma pequena cidade da região da Baviera, Alemanha. Em 29 de junho de 1951, foi ordenado sacerdote.
Participou, ainda jovem, do Concílio Vaticano II (1963-1965) como assessor teológico de seu bispo. Depois, viveu intensamente sua vida na Alemanha como bispo e cardeal. Foi eleito como um dos únicos sacerdotes da Academia de Ciências do Vaticano.
Durante 25 anos, foi Prefeito da “Sagrada Congregação da Doutrina da Fé” do Vaticano, braço direito do Papa João Paulo II, seu grande amigo.
Papado
Logo que assumiu o pontificado, Bento XVI iniciou sua luta contra o que chamou de “ditadura do relativismo” – a qual nega toda verdade e ensina que cada um faz a sua.
O Papa escreveu três encíclicas fundamentais: Deus caritas est, Spes salvi e Caritas in veritate. Abriu um diálogo profundo com os intelectuais, especialmente os ateus. Com o Programa “Pátio dos Gentios”, buscava quebrar a mentira de que entre a ciência e a fé haja uma dicotomia.
Escreveu também uma imensa quantidade de obras: sua obra bibliográfica chega aos 600 títulos, entre livros e documentos eclesiásticos. A série “Jesus de Nazaré”, escrita durante o seu pontificado, se destaca. Ela mostra a realidade histórica de Jesus e a coincidência do Cristo da fé com o da História.
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Biografia
No lançamento do livro “Minha Vida”, que contém a biografia completa de Joseph Ratzinger, Peter Seewald comentou a profundidade desta que se tornou uma missão.
“A sensação fundamental que experimentei ao escrever esta biografia foi o maravilhar-me. Foi um encanto acompanhar uma biografia de quase 100 anos. Através desta biografia não segui apenas o desenrolar da história, mas também o desenvolver de todas as questões fundamentais que nasceram com a fé. Pude entender melhor o que é a fé cristã”, diz o biógrafo.
Seewald ressaltou que a vida de Ratzinger não é linear. Algo que não se contempla tanto, mas que é preciso dizer, é que a vida de Ratzinger é muito marcada pela dor, revelou.
O biógrafo reforçou que, apesar da dor, o alemão se tornou um homem que jamais perdeu a esperança, nunca perdeu o bom humor. “Aquele bom humor que todos que estão ao redor dele percebem rapidamente, porque ele expande”.
“Não se pode dizer que uma biografia de Ratzinger esteja concluída. Sempre existirão novas facetas para analisar, ou lados, episódios que podem ser novamente contemplados”, contou.