No mês em que se celebra o Natal, padre Mário explica o sentido cristão dessa data que marcou a história da humanidade
Padre Mário Marcelo Coelho, scj
Doutor em Teologia Moral
Natal do Senhor, a Palavra se encarnou e armou sua tenda entre nós
Na Antífona de Entrada da Missa da Meia Noite no Natal inicia-se com este canto: “Hoje desceu do Céu sobre nós a verdadeira paz”. Isto é o Natal! É o dia Santo em que brilha sobre nós a “grande luz” de Cristo mensageira de paz! No evangelho de São João (1,14) lemos que Deus veio morar no meio de nós, “E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade”. O impensável se torna realidade: Deus se faz gente como nós para revelar ao mundo o amor fiel que tem para conosco. Contudo, para reconhecê-Lo, para acolhê-Lo, é preciso fé, é preciso humildade, é preciso abertura.
O Natal é um convite a se alegrar, pois, em Jesus, Deus assume radicalmente o humano. Jesus é o ponto de encontro da humanidade com Deus. Deus se revelou plenamente a toda humanidade, tirou todos os véus que impediam Sua comunicação com a humanidade, falando-nos por meio do seu Filho que vive entre nós. No Natal do Senhor somos convidados a olharmos para a gruta de Belém, Deus desce até o ponto de se deitar numa manjedoura e, a primeira linguagem que Deus usa para revelar-se plenamente é a de uma criança como qualquer criança.
São Leão Magno, em uma homilia na noite de Natal, disse: “Hoje, o autor do mundo foi gerado do ventre de uma virgem: aquele que fez todas as coisas se fez filho de uma mulher que ele mesmo criou. Hoje o Verbo de Deus apareceu revestido de carne e, enquanto jamais foi visível aos olhos humanos, se torna, além de visível, palpável. Hoje os pastores escutaram da voz dos anjos que nasceu o Salvador, na substância do nosso corpo e nossa alma” (Sermo 26, In Nativitate Domini, 6,1: PL 54, 213).
No Natal do Senhor nós testemunhamos a ternura e o amor de Deus que está acima de nós, de nossos limites, nossas fraquezas, nossos pecados e que vem ao nosso encontro, que desce até nós, assume nossa condição humana para nos elevar à condição filhos e filhas de Deus. Como afirma o apóstolo São Paulo, “sendo ele (Jesus Cristo) de condição divina (…) esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7).
O Natal é a celebração do aniversário do nascimento de Jesus, porém, mais importante que isto, é a celebração de um Mistério que marcou e continua a marcar a história do homem: o próprio Deus veio habitar em meio a nós (cf. Jo 1,14), se fez um de nós; um Mistério que afeta nossa fé, nossa história e nossa existência. Ainda o Papa São Leão Magno, falando sobre o sentido profundo da Solenidade de Natal, afirma: “Alegremo-nos no Senhor, meus queridos, e abramos nossos corações para a mais pura alegria, porque o dia raiou para nós e isso significa a nova redenção, a antiga promessa, a felicidade eterna. Se renova para nós, realmente, o ciclo anual do alto mistério de nossa salvação, que, prometido no início e no final dos tempos, está destinado a não ter fim” (Sermo 22, In Nativitate Domini, 2,1: PL 54,193).
Amigos e amigas, na noite de Natal, vivam de forma intensa este momento de alegria e paz, alegrem-se porque Deus vive em nosso meio, que a troca de presentes e de saudações não perca seu profundo valor religioso, e a festa não seja obscurecida por aspectos exteriores e vazios do verdadeiro sentido da celebração. Em cada presente que trocamos recordemos que o maior presente já nos foi dado, Deus mesmo se faz presença, se faz dom; cada saudação se transforme numa celebração de paz, de perdão, de compromisso e de fraternidade. Não se esqueça das pessoas que mais precisam da nossa solidariedade e caridade fraterna, que os nossos corações se abram para a maravilhosa experiência de encontrarmos Deus em cada irmão e irmã e de modo particular nos mais pobres e excluídos de nossa sociedade. Este é o verdadeiro sentido sagrado e cristão do Natal do Senhor, que a nossa alegria não seja superficial, mas profunda.
Desejamos a todos vocês e as vossas famílias uma celebração de Natal realmente cristã, de modo que também todas as felicitações sejam expressões da alegria por saber que Deus está em nosso meio, próximo a nós e quer percorrer conosco o caminho da vida.