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Pontificado de Bento XVI: “um humilde operário da vinha do Senhor”

Da eleição à emeritude, confira informações, dados e números sobre o pontificado de Bento XVI

Julia Beck
Da redação, com colaboração de Denise Claro e informações de agências

Foto: REUTERS/Tony Gentile

“Sou um humilde operário da vinha do Senhor.” Essas foram as primeiras palavras do Cardeal Joseph Ratzinger após ser eleito o 265º Papa da Igreja Católica. O anúncio e a aparição como Papa aconteceram no dia 19 de abril de 2005.

Cardeal Ratzinger sucedeu o Papa, agora santo, João Paulo II. Seu sucessor faleceu no dia 2 de abril após 26 anos, 5 meses e 17 dias de pontificado.

Os dois eram considerados amigos próximos, tanto que, em entrevista a uma TV polonesa em 2005, o novo Papa relembrou como nasceu a amizade com o então Cardeal Karol Józef Wojtyla, no conclave de 1978:

“Desde o início, senti uma grande simpatia, e, graças a Deus, sem eu merecer, o então cardeal me doou, desde o início, a sua amizade. Sou grato pela confiança que depositou em mim mesmo sem eu merecer. Sobretudo, vendo-o rezar, vi e não só compreendi, que era um homem de Deus.”

Ratzinger afirmou que, logo depois de sua eleição, João Paulo II o chamou diversas vezes em Roma para conversas e, por fim, o nomeou Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Bento XVI

A escolha do nome “Bento XVI” foi explicada por ele na Audiência Geral de 27 de abril de 2005. Então Pontífice, evidenciou a coragem de Bento XV (1914-1922) em tempos de guerra e o compromisso pela paz, mas admitiu ter se inspirado também em São Bento de Núrsia, copadroeiro da Europa, grande “Patriarca do monaquismo ocidental”.

Compromissos papais

Em agosto de 2005 (de 18 a 21), Bento XVI realizou a sua primeira viagem pontifícia para o seu país natal, a Alemanha. O Papa presidiu a 20ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na cidade de Colônia.

A visita do Santo Padre ao Brasil aconteceu de 9 a 14 de maio de 2007. O Pontífice se dirigiu ao país por ocasião da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe.

No Brasil, Bento XVI visitou as cidades de São Paulo, Aparecida e Guaratinguetá. Nesta viagem, presidiu a canonização de Frei Galvão, primeiro santo brasileiro. Em 23 de maio de 2007, o Papa dedicou a Catequese ao Brasil após a visita ao país.

A 23ª JMJ em Sydney, na Austrália, em 2008, também contou com a presença do Pontífice. Já no ano de 2011, estiveram entre os compromissos de Bento XVI a beatificação de São João Paulo II (no dia 1º de Maio) e a 26ª JMJ em Madrid, na Espanha (de 18 a 21 de Agosto de 2011).

Em 2012, o Santo Padre realizou, de 1º a 3 de junho, a Visita Pastoral pelo VII Encontro Mundial das Famílias, em Milão. Em 12 de dezembro, Bento XVI iniciou suas atividades no Twitter.

Renúncia

O ano de 2013 marcou para sempre a história e o pontificado de Bento XVI bem como toda a Igreja Católica. No dia 11 de fevereiro, o Santo Padre anunciou sua renúncia ao pontificado, justificada pela “avançada idade” (decisão inédita em quase 600 anos de história na Igreja).

No final daquele mês, no dia 28, Bento XVI deixou o palácio apostólico do Vaticano e passou a ser, então, Papa Emérito. Permaneceu durante algumas semanas na residência de Castel Gandolfo, antes de se mudar para o Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano.

Lá, viveu uma vida de contemplação e retiro, dando continuidade ao seu serviço à Igreja, mas de forma silenciosa, na oração. Sua emeritude durou aproximadamente 10 anos (seriam completos no dia 11 de fevereiro de 2023).

Relação com o Papa Francisco

Poucos dias depois do Conclave que elegeu Jorge Mario Bergoglio como o 266º Sucessor de Pedro, Papa Francisco iniciou a tradição de encontrar Bento XVI, a começar pela primeira visita histórica a Castel Gandolfo.

Em vista das festividades ou por ocasião do Consistório com os novos cardeais, Francisco nunca quis deixar de realizar esse gesto de proximidade e cortesia para o Papa Emérito.

Bento XVI e sua contribuição teologal para a Igreja

Papa Bento XVI esteve à frente da Igreja Católica durante 7 anos e 10 meses. Nestes quase 8 anos como Papa, Bento XVI realizou 348 catequeses, que contaram com a presença de aproximadamente 4,9 milhões de pessoas. O Pontífice escreveu três encíclicas: Deus caritas est, Spe salvi e Caritas in Veritate. São de autoria do Pontífice 67 cartas apostólicas.

Bento XVI escreveu quarto exortações apostólicas. A primeira foi publicada em 22 de fevereiro de 2007, a Sacramentum Caritatis (documento pós-sinodal sobre a Eucaristia fonte e ápice da vida e da missão da Igreja). A segunda foi divulgada em 30 de setembro de 2010: denominada Verbum Domini, a exortação apostólica pós-sinodal trata da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.

No ano seguinte, em 19 de novembro de 2011, foi publicada a exortação apostólica pós-sinodal Africae múnus. O texto é sobre a Igreja na África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. Por último, o Papa Bento XVI escreveu a exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, sobre a Igreja no Oriente Médio, comunhão e testemunho. Este documento foi publicado em 14 de setembro de 2012.

Casos de abusos

Em seu pontificado, agiu com determinação contra a chaga dos abusos sexuais cometidos por membros da igreja. Um tema doloroso a respeito do qual, desde os tempos de prefeito da Doutrina da Fé, tomou decisões importantes, como mudanças no grau de punição aos abusadores e no modo de proceder nas investigações.

No início de 2022, quando Bento já era Papa Emérito, foi divulgado um relatório sobre casos de abusos que aconteceram em uma diocese da Alemanha, entre 1945 e 2019, com registro de 497 vítimas na Arquidiocese de Munique e Freising. O relatório analisou, em particular, a gestão de sucessivos arcebispos de Munique, entre eles Joseph Ratzinger. O relatório também conteve o período em que Ratzinger estava à frente da Congregação para a Doutrina da Fé.

Após a divulgação, Bento XVI enviou uma carta aos fiéis de Munique, na Alemanha. Ele comentou o conteúdo do relatório sobre casos de abuso e de suposto acobertamento de padres que cometeram pedofilia na arquidiocese, inclusive no período em que era arcebispo. Reafirmou sua postura de intolerância diante dos casos. Bento XVI também pediu perdão e falou de sua dor pelas vítimas de abuso.

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Atividades papais

Foram canonizados por Bento XVI 44 santos em 10 cerimônias no Vaticano. O Papa alemão nomeou 90 cardeais, convocou cinco Sínodos dos Bispos, um Ano Paulino, um Ano Sacerdotal e um Ano da Fé. Ao todo, o Santo Padre realizou 24 viagens internacionais e 30 visitas em solo italiano. O Santo Padre participou ao todo de três Jornadas Mundiais da Juventude.

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