Biografia

Estudos e dedicação à Igreja marcaram a vida de Bento XVI

Biografia do 265º Papa da Igreja Católica reafirma o porquê do Pontífice ser considerado um dos maiores teólogos da atualidade

Julia Beck
Da redação, com colaboração de Denise Claro e informações de agências

Foto: REUTERS/Osservatore Romano-Arturo Mari

Considerado um dos maiores teólogos da Igreja Católica, Papa Bento XVI teve uma vida marcada por grandes obras, acontecimentos e feitos. Nascido em um Sábado Santo, no dia 16 de abril de 1927, e batizado no mesmo dia, Joseph Ratzinger era de família simples e natural de Markt, Diocese de Passau, na Alemanha.

O pai de Ratzinger era membro da polícia rural e sua mãe era cozinheira em hotéis. Seus avós, agricultores e artesãos. Aos cinco anos de idade, mudou-se com a família para Auschau am Inn. Em 1937, mais uma mudança, agora para Hufschlag, nos subúrbios da cidade do Traunstein, onde Joseph passou a maior parte da sua adolescência e recebeu sua formação cristã, humana e cultural.

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Foi em Traunstein que Ratzinger iniciou seus estudos no Ginásio de Línguas Clássicas, onde aprendeu latim e grego. Em 1939, aos 12 anos de idade, o futuro Papa entrou para o seminário, dando o primeiro passo na sua carreira eclesiástica.

Serviço militar

No ano de 1943, aos 16 anos, Joseph Ratzinger entrou no serviço militar. Em novembro de 1944 passou pelo treinamento básico na infantaria alemã, mas devido ao seu estado de saúde, foi liberado de boa parte dos rigores próprios da vida militar.

Na primavera de 1945, enquanto se aproximam as forças aliadas, Ratzinger deixou o exército e retornou à sua casa em Traunstein. Quando finalmente chegou o exército americano até sua cidade, Joseph foi identificado como soldado alemão e enviado a um campo de prisioneiros de guerra. Em 19 de junho de 1945, ele foi liberado e retornou para casa

Seminário e ordenação sacerdotal

Em novembro de 1945, Joseph e seu irmão mais velho, Georg, retornaram ao seminário. Em 1947, Ratzinger ingressou no Herzogliches Georgianum, um instituto teológico ligado à Universidade do Munique.

Em 29 de junho de 1951, Josef e seu irmão Georg foram ordenados sacerdotes pelo Cardeal Faulhaber na catedral de Freising, na Festa dos Santos Pedro e Paulo.

Academia

De 1952 até 1959, o jovem padre alemão foi membro da Faculdade da Escola Superior de Filosofia e Teologia, em Freising. Em 1953, doutorou-se em teologia com a tese “Povo e Casa de Deus na Doutrina da Igreja de Santo Agostinho sobre a Igreja”.

Passados quatro anos, sob a direção do conhecido professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, Ratzinger conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação sobre “A teologia da história em São Boaventura”.

Em abril de 1959, o sacerdote tornou-se professor principal da Teologia Fundamental na Universidade de Bonn. De 1962 a 1965, assistiu às quatro sessões do Concílio Vaticano II em qualidade de perito, como conselheiro teológico principal do Cardeal Frings de Colônia.

Em 1963, foi para a Universidade de Münster e, em dezembro daquele mesmo ano, perdeu sua mãe. Em 1966, foi nomeado professor de teologia dogmática na universidade de Tübingen.

A partir de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Ratisbona, na qual ocupou também o cargo de vice-reitor. Logo foi nomeado Decano e Vice-presidente. Nesse mesmo ano, também foi nomeado Conselheiro Teológico dos Bispos Alemães.

Ordenação episcopal

A intensa atividade científica levou Joseph Ratzinger a desempenhar importantes cargos a serviço da Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.

Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI o nomeou arcebispo de München e Freising. Foi convencido por seu confessor a aceitar o cargo e escolheu como seu lema episcopal “Cooperadores da verdade”.

Entrada para o Colégio Cardinalício e participação de conclaves

Foi consagrado, em 28 de maio, pelo bispo de Würzburg, Josef Stange. Em junho desse mesmo ano, foi criado cardeal presbítero pelo Papa Paulo VI e recebeu o título de S. Maria Consolatrice ao Tiburtino. No mesmo ano, também assistiu à IV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, no Vaticano.

Ainda em 1977, Paulo VI tornou Ratzinger cardeal do título presbiteral de “Santa Maria da Consolação no Tiburtino”, no Consistório de 27 de junho.

Em 1978, Joseph participou do Conclave celebrado de 25 a 26 de agosto, o qual elegeu João Paulo I. Este nomeou-o seu enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional, que teve lugar em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro. No mês de outubro daquele mesmo ano participou também do Conclave que elegeu João Paulo II.

Atividades

Em 1980, Ratzinger foi relator na V Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tinha como tema “Missão da família cristã no mundo contemporâneo”, e Presidente Delegado da VI Assembleia Geral Ordinária, celebrada em 1983, sobre “A reconciliação e a penitência na missão da Igreja”.

Em 1981, Papa João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional. Um ano depois, Cardeal Ratzinger renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de München e Freising.

Foi Presidente da Comissão encarregada da preparação do Catecismo da Igreja Católica. Após seis anos de trabalho (1986-1992), apresentou-o ao Santo Padre.

Em novembro de 1998, Papa João Paulo II aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio Cardinalício. No dia 30 de novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano. Com este cargo, foi-lhe atribuída também a sede suburbicária de Óstia.

Em 3 de janeiro de 1999, foi como enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha. Desde 13 de novembro de 2000, era Membro Honorário da Academia Pontifícia das Ciências.

Cúria Romana

Na Cúria Romana, Joseph Ratzinger foi membro do Conselho da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados; das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização dos Povos e para a Educação Católica.

O cardeal também foi membro do Conselho da Secretaria de Estado para o Clero, e para as Causas dos Santos; dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e para a Cultura; do Tribunal Supremo da Signatura Apostólica; e das Comissões Pontifícias para a América Latina, “Ecclesia Dei”, para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canônico, e para a revisão do Código de Direito Canônico Oriental.

Reconhecimento

Ratzinger recebeu numerosos doutoramentos “honoris causa” pelo College of St. Thomas, em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), em 1984; pela Universidade Católica de Eichstätt, em 1987; pela Universidade Católica de Lima, em 1986; pela Universidade Católica de Lublin, em 1988.

O purpurado também recebeu o título Doutor Honoris Causa pela Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), em 1998; pela Livre Universidade Maria Santíssima Assunta (LUMSA, Roma), em 1999; e pela Faculdade de Teologia da Universidade de Wroclaw (Polonia) no ano 2000.

Papa da Igreja

Em 19 de abril de 2005, após a morte do Papa João Paulo II, o então Cardeal Josef Ratzinger foi eleito o 265º Papa, com a idade de 78 anos e três dias

Em maio de 2007, Bento XVI visitou o Brasil, entre os dias 9 e 13, para dar início à 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida, no interior de São Paulo. Na ocasião, o Pontífice canonizou Frei Galvão, tornando-o Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil.

Em 11 de fevereiro de 2013, Papa Bento XVI anunciou sua renúncia. O pontificado de Bento XVI terminou oficialmente no dia 28 de fevereiro de 2013. A partir disso, o Papa Emérito permaneceu em Castel Gandolfo até terminarem as obras de reforma no Mosteiro Mater Eclesiae, no Vaticano.

Em 2 de maio de 2013, Bento XVI ingressou no Mosteiro, onde dedicou-se à reflexão e oração pela Igreja. Na nova residência, contava com o suporte de seu secretário particular, Dom Georg Gänswein, e quatro leigas consagradas da comunidade “Memores Domini”.

Em 23 de março de 2013 aconteceu o primeiro e histórico encontro entre Bento XVI e Papa Francisco.

Aparições públicas após a emeritude

Em 27 de abril de 2014, o Papa Emérito participou da cerimônia de canonização de São João Paulo II e São João XXIII, na Praça São Pedro. Em setembro do mesmo ano, a convite de Francisco, Bento XVI voltou à Praça São Pedro, onde participou do encontro com a terceira idade. Já em outubro, concelebrou com o Papa Francisco o rito de beatificação do Papa Paulo VI.

Em fevereiro do ano seguinte, o Papa Emérito voltou à Basílica de São Pedro, onde participou do consistório no qual Francisco criou 20 novos cardeais. Em dezembro, Bento XVI passou a Porta Santa da Misericórdia da Basílica de São Pedro, aberta pelo Papa Francisco para o Jubileu.

No ano de 2016, o Papa Emérito celebrou seus 65 anos de vida sacerdotal com Papa Francisco e Colégio Cardinalício.

Em junho de 2020, durante a pandemia da Covid-19, Bento XVI encontrou-se com Georg, seu irmão também sacerdote, que estava doente. Em julho daquele mesmo ano, Georg faleceu aos 96 anos.

Com a saúde já debilitada pela idade, o Papa Emérito faleceu aos 95 anos neste sábado, 31, no Mosteiro Mosteiro Mater Eclesiae, no Vaticano.

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