Quarenta anos se passaram desde a publicação da Encíclica Populorum Progressio de Paulo VI, mas a humanidade ainda sofre com a falta de justiça, paz e de solidariedade. As proféticas palavras de Papa Montini parecem ter caído no vazio da sociedade moderna. Esta foi a reflexão central do Congresso promovido em Roma pelo Pontificio Conselho para a Justiça e Paz, que contou com a presença de cerca de 300 participantes provenientes de 80 países que discutiram os temas propostos pela Encíclica.
Segundo o arcebispo de Ranchi, na Índia, Cardeal Telesphore Placidus Toppo, "Paulo VI foi profético. Tinha razão quando dizia: 'o desenvolvimento é um outro nome da paz'. Sem desenvolvimento não pode acontecer a paz. Esta mensagem foi acolhida por João Paulo II que costumava repetir: 'não pode existir paz sem a justiça, e a justiça não pode acontecer sem a caridade'".
Combater a miséria e lutar contra a injustiça, este foi o apelo de Paulo VI através de sua Enciclica. O Pontifice afirmava que melhorar as condições de vida, o progresso humano e espiritual dos marginalizados, é contribuir para o bem de toda a humanidade. Um apelo que mesmo após 40 anos sofre com a indiferença de muitos.
As estatísticas revelam o quadro atual da má divisão de rendas e desiquilíbrio social causados pela indiferença das grandes nações:
17% da populaçao mundial consome 80% dos recursos do planeta
83% da populaçao divide os restantes 20%
Os congressistas recordaram que o progresso muitas vezes pode trazer uma concepção puramente econômica do homem, com parâmetros de proveito e leis de mercado, sem respeitar a dignidade a qual todos tem direito.
Para o presidente do Pontifício Conselho para a Justiça e Paz, Cardeal Renato Raffaele Martino, "estamos ainda distantes daquela real e concreta globalização da solidariedade tanto desejada por João Paulo II. Com este Congresso há 40 anos da Populorum Progressio nos ajuda a ver aquilo que fizemos e aquilo que ainda não realizamos. Mas não nos desesperamos, pois a Esperança dará os seus frutos".