ECONOMIA PÓS-PANDEMIA

Para cientista econômico, recuperação brasileira será lenta, mas virá

Comércio eletrônico é uma das vertentes que, se bem aproveitada, pode ser uma ótima válvula de escape, avalia cientista econômico

Thiago Coutinho, da redação

Para cientista econômico, a segunda metade do ano já trará mudanças no cenário econômico / Foto: romanakr por Pixabay

Quando, na primeira quinzena de março, as autoridades sanitárias chinesas e a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceram a pandemia causada pelo SARS-CoV-2, ou simplesmente Covid-19, a rotina do planeta todo simplesmente não foi mais a mesma.

Como a capacidade que o vírus tem de se espalhar é muito rápida, o único meio de detê-lo é o isolamento social. O expediente foi adotado por todos os países, em maior ou menor grau, dependendo da nação. Até o momento, os países mais atingidos foram a China, Estados Unidos, França e Espanha. No Brasil, infelizmente, os casos confirmados da doença e as mortes têm se multiplicado.

A rotina das pessoas mudou. Atividades simples como ir à missa ou ao supermercado são, até o instante, difícil de serem imaginadas sem cuidados até então inimagináveis, como o uso de máscaras. A economia mundial, obviamente, sentiu o golpe. “De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), deve acontecer uma recessão global neste ano, mas uma recuperação é esperada para 2021. A diretora-gerente da instituição, Kristalina Georgieva, disse que essa previsão de recuperação econômica no próximo ano depende do resultado das ações de contenção da pandemia e de uma redução do nível de incerteza”, explica José Augusto Paes Deccache, professor e mestre em ciências econômicas.

A economia brasileira tem uma peculiaridade: depende, intrinsicamente, da circulação de bens e serviços. Mas nenhuma dessas características está sendo posta em prática, pois o isolamento social é fundamental para que o vírus não se espalhe. Neste cenário, porém, uma boa notícia: inflação menor. “Se temos ou teremos uma redução dos padrões de comércio e de crescimento, há uma desaceleração dos preços, porque tem menos procura. É sempre a ideia de retornar para o gráfico de oferta e demanda: se eu tenho muita procura, o preço aumenta. Se eu tenho pouca procura, o preço diminui”, detalha Deccache.

Recuperação econômica

A situação econômica do mundo não vive seus melhores dias. O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, por exemplo, caiu 4,8% esta semana. É a maior queda do PIB estadunidense desde a Grande Recessão em 1929. No Brasil, o desemprego, que já não vinha diminuindo, também sente o impacto que o isolamento social impôs — ruim para a economia, mas é a solução mais segura para escapar da disseminação da doença, segundo as autoridades sanitárias.

A notícia boa, porém, é que isso também vai passar. “Precisamos lembrar que o consumo das famílias é o principal componente da demanda agregada, devido ao seu peso de 65% no PIB brasileiro. Sendo assim, a propensão a consumir foi ameaçada pela alta taxa de desemprego, que não deve diminuir no mesmo ritmo de recuperação econômica, devido ao grande número de pessoas que trabalham em meio período, home office ou aquelas que estão desalentadas”, explica o cientista econômico. “É por isso que o governo está fazendo uso de alguns programas para estimular o consumo, como a liberação de recursos do FGTS e o novo ciclo de expansão do crédito, que têm potencial para impulsionar o consumo no curto prazo. Acredito que a economia global se recuperará rapidamente na segunda metade de 2020, desde que o surto não se espalhe mais”, reitera.

A força do comércio virtual

Em tempos de pandemia, as compras realizadas em âmbito virtual cresceram exponencialmente. De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), há categorias como beleza, perfumaria e supermercados registraram aumento de 83% em suas vendas on-line. Os bens de consumo chegaram a conferir crescimento de 100% em suas vendas pela internet.

“Sim, as empresas passarão a investir mais em e-commerce”, concorda Deccache. “Diante de um cenário global inesperado, muitas empresas se reinventaram e passaram a oferecer seus produtos pela internet e o delivery [entrega em domicílio] passou a ser uma alternativa factível”.

Para o cientista econômico, este é o momento de empresários e comerciantes investirem no segmento, pois pode ser uma válvula de escape lucrativa em tempos de pandemia. “Quem melhor se adaptar sairá mais fortalecido”, adverte.

Ação coordenada

Muito se tem falado a respeito de como outros países sairão desta pandemia. Alguns especialistas acreditam que a pandemia serviu de alerta para que diversos setores da indústria não estejam centralizados em solo oriental. A produção de máscaras cirúrgicas, por exemplo, foi um exemplo disso, já que a demanda foi muito maior do que a produção chinesa pôde dar conta. Estaríamos, então, diante de uma nova revolução industrial neste sentido? Para Deccache, não é bem assim.

“Não vejo uma revolução industrial, vejo que precisaremos de uma ação coordenada do Governo Federal e dos Estados para tentar organizar a demanda e garantir que não faltem insumos”, detalha. “É possível fabricarmos em solo nacional e não ficarmos dependentes de outros países, principalmente a China”, finaliza.

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