"Sem o sopro do Espírito Santo, a vocação cristã simplesmente não se explica, perde a sua seiva vital. O mistério da Igreja é todo animado pelo dinamismo do Espírito Santo, que é um dinamismo vocacional em sentido amplo e perene", disse Bento XVI na noite desta sexta-feira, 4, em visita ao Seminário Maior de Roma, em razão da Festa de Nossa Senhora da Confiança, Padroeira da instituição.
O Santo Padre fez uma lectio divina – método de leitura orante da Sagrada Escritura – a partir de um trecho da Carta de São Paulo aos Efésios (4, 3), destacando as dimensões pessoal, eclesial e trinitária da vocação. O Pontífice indicou a Virgem Maria como modelo por excelência de resposta ao chamado de Deus.
"Deus, o Senhor, chamou cada um de nós, cada um é chamado pelo próprio nome. Deus é tão grande que tem tempo para cada um de nós, conhece-me, conhece cada um de nós pelo nome, pessoalmente. Há um chamado pessoal para cada um de nós", enfatizou.
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O Pontífice salientou que a vida cristã começa com um chamado e permanece sempre uma resposta, até o fim. "E isso tanto na dimensão do crer, quanto na do agir: tanto a fé quanto o comportamento do cristão são correspondência à graça da vocação", explicou.
Nessa perspectiva, Bento XVI indicou que o comportamento dos cristãos é consequência de um dom recebido. "E, todavia, ainda que simplesmente realização do dom dado a nós, não se trata de um efeito automático, porque, com Deus, estamos sempre na realidade da liberdade. O Batismo, sabemo-lo, não produz automaticamente uma vida coerente: essa é fruto da vontade e do compromisso perseverante de colaborar com o dom, com a Graça recebida. E esse compromisso custa, tem um preço a pagar de parte da pessoa. Seguir Cristo significa compartilhar a sua Paixão, a sua Cruz, segui-lo até o fim".
Quatro elementos
O texto de São Paulo indica alguns elementos concretos da resposta que todo o cristão precisa dar a Cristo: "humildade", "docilidade", "magnanimidade", "suportando-vos uns aos outros no amor".
"Humildade é imitar a Deus que vem até mim, que é tão grande que se faz meu amigo, sofre por mim, morreu por mim. Essa é a humildade a se aprender, a humildade de Deus. Docilidade, porque, no Batismo, somos configurados a Cristo, portanto devemos configurar-nos a Cristo, encontrar esse espírito de sermos mansos, de convencer com o amor e com a bondade. Magnanimidade, quando damos a nós mesmos com tudo aquilo que possuímos. Suportando-vos no amor – uma missão de todo o dia suportar-se um ao outro na própria diferença, e exatamente suportando-nos com humildade, aprender o verdadeiro amor", elencou o Pontífice.
Segundo São Paulo, o Amor de Cristo é um Amor que liberta, que une os homens uns aos outros, e os une a Deus, não como uma corrente que prende as mãos, mas as deixa livres.
O Bispo de Roma também destacou que o chamado é individual, mas também eclesial. A Igreja, segunda Bento XVI, é vinculo, corpo que leva à Cristo:
"Nós estamos neste vínculo da paz que é a Igreja, é o grande vínculo que nos une com Cristo. Devemos também ter presente que é muito belo estar em uma companhia, caminhar em uma grande companhia de todos os séculos, ter amigos no Céu e na terra, e sentir a beleza deste corpo, sermos felizes porque o Senhor nos chamou em um corpo e nos deu amigos em todas as partes do mundo".
Por fim, Bento XVI explicou que a unidade da Igreja não é dada por um molde externo, "mas é o fruto de uma concórdia, de um comum compromisso de comportar-se como Jesus, na força do seu espírito".