A Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, realiza, no Brasil, a campanha Setembro Amarelo em prevenção ao suicídio
Huanna Cruz
Da Redação
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), realiza, no Brasil, a campanha Setembro Amarelo com o objetivo de prevenir o suicídio. A iniciativa chega a seu oitavo ano, trazendo um novo mote: “A vida é a melhor escolha”. A campanha acontece durante todo o mês, mas o dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
Segundo a especialista em Psicologia Clínica, Terapia Cognitivo-Comportamental pela USP e Neuropsicóloga, Elaine Ribeiro dos Santos, a proposta desse tema trata especialmente dos limites e da dificuldade que ainda temos de abordar este assunto bem como de identificar pessoas que possuem este risco.
Leia também
.: Prevenção ao suicídio: apoio emocional e fé para vencer desesperança
.: Dia de Prevenção do Suicídio: abrir o coração a Jesus, pede o Papa
Para a especialista, quando alguém chega ao ponto de pensar em tirar sua vida ou efetivamente fazê-lo, muitos fatores podem estar envolvidos. Seus sentimentos e pensamentos podem estar muito restritivos, pessimistas e a pessoa tem dificuldade de compreender, sem distorção, o sentido de sua vida.
Para a psicóloga, uma das formas de ajudar as pessoas que se encontram em sofrimento é ouvir e acolher. Outra ajuda pode ser direcioná-las para o suporte em saúde mental em psicoterapia e psiquiatra que poderão agir no diagnóstico e no tratamento adequado. Muitas vezes, uma pessoa nesta situação tem uma dificuldade efetiva em dizer-se, em encontrar acolhimento e até vergonha de ser repreendida. Quem se encontra num processo depressivo, por exemplo, tem a falta de sentido e motivo como uma das primeiras coisas que se perde.
Segundo Elaine, o sentido da vida está muito relacionado àquilo que se pode fazer pelo outro, ao sair de si e encontrar propósitos concretos e realizáveis. É importante que a pessoa vá, aos poucos, sendo ajudada a coordenar atividades de sua vida que tenha deixado de fazer. Nesta hora, ter alguém por perto será de grande valia, pois muitas vezes a pessoa poderá se isolar.
Motivação para viver
Para a psicóloga Elaine, uma das coisas que afeta os motivos para viver é a pessoa estar desacreditada de si, com sua autoconfiança e autoestima muito abaladas. Para isso, é importante ir recuperando estas características perdidas, deixadas de lado ou até mesmo esquecidas. Não é uma tarefa fácil, mas, não precisa estar vinculada a grandes feitos ou legados gigantescos.
Muitas pessoas sofrem com estas comparações e metas que lhe são cobradas, portanto, um dos segredos é viver pouco a pouco. É preciso também rever aquilo que não se consegue ver de bom em si e começar com pequenos passos, como, por exemplo, melhorar a forma de alimentar-se, de estar sedentário demais, de estar com outras pessoas, de não deixar as atividades básicas da vida como o autocuidado.
Principais causas do suicídio
Segundo Elaine, as pessoas que são levadas ao suicídio podem ter mais de um fator que as leve a este momento. Não é apenas um motivo que leva a pessoa a tirar sua vida, mas se olhamos a sua história de vida, esta pessoa pode ter passado por perdas materiais, afetivas, sociais, no trabalho. Os transtornos mentais podem estar associados e favorecer o suicídio, tais como depressão, esquizofrenia, transtornos de personalidade e do humor bipolar e dependência de álcool e de outras drogas psicoativas. Outras doenças como câncer, HIV, doenças neurológicas, como esclerose múltipla, doença de Parkinson, doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico, podem ser predisponentes também.
Para a psicóloga, é importante lembrar que alteração do humor com frequência, pensamentos de desesperança que começam a ocupar a fala, melhoras e recaídas súbitas, comportamento de desapego com seus pertences, comportamentos irresponsáveis e perigosos (como o uso excessivo de álcool e drogas) e mudança na rotina são aspectos sobre os quais também devemos estar atentos para ajudar aqueles que estão à nossa volta.
Prevenção
O melhor método de prevenção é que cada vez mais as pessoas sejam conscientes da importância do acolhimento, principalmente que profissionais da saúde e da linha de frente – como professores, ministros religiosos e comunidades religiosas – entendam, acolham e direcionem.
Segundo Elaine, os serviços de saúde precisam ampliar seu atendimento para que sejam mais acessíveis à população. As empresas podem criar espaços de escuta e direcionamento desta população. Acolhimento, empatia e disponibilidade até mesmo para encaminhar esta pessoa a buscar ajuda são essenciais e por isso este assunto não pode ser ignorado ou tratado como fraqueza ou falta de vontade da pessoa.