Setembro amarelo

Prevenção ao suicídio: apoio emocional e fé para vencer desesperança

No Dia Mundial de Prevenção ao suicídio, psicóloga dá dicas de como identificar sinais e saber ajudar; padre destaca que a fé ajuda a manter saúde emocional

Kelen Galvan
Da redação

A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, segundo a OMS / Foto: Anemone123 por Pixabay

Nesta quinta-feira, 10, celebra-se o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O problema é uma das principais causas de morte no mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio por ano, segundo relatório de 2016. E a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio.

Com a pandemia do novo coronavírus, que exigiu medidas de distanciamento e isolamento social desde o mês de março no Brasil, o aumento no número de suicídios preocupa. Uma pesquisa do hospital psiquiátrico e de saúde comportamental – Pine Rest Christian Mental Health Services – divulgada em julho nos Estados Unidos, revelou um aumento de 32% de suicídios durante a quarentena.

Alguns pesquisadores apontam que a pandemia têm aumentado a dor das pessoas, a ansiedade, a solidão e os medos. “O ser humano é um ser social, e esse ficar sozinho em casa gera uma angústia, uma dor e tem gerado ansiedade”, destaca o doutor em Teologia Moral, padre Mário Marcelo Coelho, SCJ.

Elaine Ribeiro, psicóloga clínica e neuropsicóloga / Foto: Arquivo Pessoal

A psicóloga clínica e neuropsicóloga, Elaine Ribeiro, explica que a depressão é um fator que pode desencadear essa prática, porque ela ativa a desesperança e, nessa condição, a afetividade da pessoa está muito alterada.

“A depressão precisa ser bem diferenciada da tristeza, porque, geralmente, há questões comprometidas, como a autoestima, o desempenho na tarefa cotidiana. A pessoa não consegue se animar e tem sintomas corporais, e essa ideia de suicídio acaba sendo bastante comum”, explica.

Setembro Amarelo

Todo o mês de setembro é dedicado à prevenção do suicídio, nomeado como – “Setembro Amarelo”. Padre Mário afirma que esta é uma iniciativa importante porque desperta nas pessoas a importância de falar deste problema dentro de casa, de conversar e saber “ler os sinais”. “Nunca podemos subestimar a capacidade de uma pessoa de suicidar-se”, afirma.

“Existe um tabu muito grande de não se falar de suicídio, porque poderia instigar as pessoas a praticá-lo, mas é o contrário. Nós devemos sim conversar sobre isso de uma forma harmoniosa, serena, sem juízos e julgamentos”, indica o sacerdote.

É o que defende a psicóloga. Ela afirma que, em família, é preciso ter o diálogo muito aberto e observar os comportamentos das pessoas com quem se convive.

“Às vezes, as condutas vão mudando, as falas de preocupação com sua própria morte ou a falta de esperança. Pensar também que se começa a surgir muitas falas como ‘vou desaparecer’, ‘vou deixar vocês em paz’, ‘eu queria dormir e não acordar mais’, ‘é inútil essa vida’, ou se um dos membros da família começa a ficar muito isolado é importante ser observado e conversado em família”, exemplifica.

Prevenção

Elaine Ribeiro destaca que os estudos mostram que não existe uma prevenção ao suicídio em si, mas um olhar sobre as condições de sofrimento humano que são passíveis de melhora. “As ações preventivas dizem de que a gente possa ter uma atenção à saúde mental”.

Ela explica que ainda hoje as pessoas têm vergonha de falar sobre isso e expressar essas questões. “Alguns mitos a gente precisa quebrar, de que é uma decisão individual, quando, na verdade, há um sofrimento e um desejo de alívio daquele sofrimento e a pessoa chega a este ponto. Outro mito que precisa ser quebrado é achar que a pessoa deprimida não tem forças para isso. No sentido de ajudar aquele que vive essas questões emocionais que podem levar ao suicídio”.

A psicóloga aponta que, ao perceber que uma pessoa tem essas falas que indicam um desejo de tirar a vida, é preciso encontrar um momento adequado para conversar com ela. “[Conversar] em um lugar particular, esteja disposto a ouvir, mas do que dizer ‘olha, Deus não aprovaria’ e colocar regras para aquela pessoa, esteja atento ao que ela está te dizendo naquele momento”.

Ela indica também que, se houver necessidade, acompanhar ou direcionar essa pessoa para um acompanhamento em saúde mental, para a psiquiatria ou psicologia, e se essa pessoa estiver em risco, não a deixar sozinha.

“É muito importante que ela receba esta ajuda de conversar, de acompanhar, de ter um direcionamento profissional e de proteger essa pessoa”, enfatiza.

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Como ajudar

A psicóloga explica que é preciso identificar se a pessoa tem os sintomas característicos, como humor deprimido, sentimento de vazio, falta de energia, perda de interesse pelas coisas que fazia cotidianamente, durando pelo menos três a quatro semanas, ou seja, não é a tristeza simplesmente, o que é normal e todos sentem.

Também quanto às alterações de sono, do humor – que pode passar por uma irritabilidade, um falta de paciência, alteração do apetite para mais ou para menos, momentos de ansiedade, ideias de culpa, de inutilidade, sentir-se um peso para as pessoas, e não conseguir dar conta da própria vida, ela precisa receber um acompanhamento.

“Muitas vezes, medicamentos e psicoterápico, para que ela trabalhe o que têm vivido e tenha uma melhora neste quadro emocional”.

Elaine destaca ainda que quando se percebe que a pessoa tem este risco, é preciso perguntar sobre suas ideias, o que ela tem pensado, para conseguir ajudar. “Ouvir com atenção e sem julgamento, porque, nesse momento, ela requer o acolhimento, e conduzir essa pessoa para ajuda profissional. Não adie. Não deixe para depois”.

Onde está Deus?

Padre Mário Marcelo Coelho, SCJ, doutor em Teologia Moral / Foto: Arquivo Pessoal

Padre Mário lembra que algumas pesquisas falam que a depressão é a grande doença do século XXI, mas indica que as pessoas que cultivam a fé conseguem conviver melhor com todos esses desafios.

“Às vezes, as pessoas perguntam: ‘onde está Deus em meio a tanta dor e sofrimento?’. Deus está conosco. Ele sente a nossa dor. Ele sente compaixão”, afirma padre Mário.

O sacerdote destaca que a fé dá uma resposta que vem da esperança cristã fundamentada na Ressurreição de Jesus. “O ser humano tem direito à esperança. É uma esperança viva, que vem de Deus. Não é um mero otimismo ou um encorajamento, mas é um dom do céu”.

Ele explica que essa esperança, que Deus suscita em nós pela ressurreição de Jesus, dá a certeza de que “tudo terminará bem, que vai passar e que Deus não abandona os seus filhos”.

Padre Mário explica que essa esperança move o cristão ao encontro do outro. “Uma pastoral samaritana, que vai ao encontro do outro, que suscita a esperança e cura as feridas. O cristão não é um profeta do medo, do desespero, o cristão é o profeta da esperança”.

Fé ajuda a manter saúde emocional

A espiritualidade é uma ótima aliada para vencer os desafios que a vida apresenta, como tristeza, depressão, angústias, afirma o doutor em teologia moral. Ele explica que a fé é capaz de ajudar as pessoas a manterem sua saúde emocional, quando elas buscam a esperança em Deus.

“Quanto mais acreditamos e confiamos em Deus, sempre esperamos alcançar a nossa alegria e felicidade Nele. E isso ao mesmo tempo nos dá força, nos faz olhar para frente e enfrentar os desafios (…) Deus nos traz força e nos dá a graça, de cada dia, para enfrentarmos os desafios”, destaca.

O sacerdote explica que a fé pode ser entendida como presença de Deus que suscita em nós uma esperança teologal: “Uma virtude que Deus coloca em nosso coração e suscita no ser humano esta esperança que o sustenta no caminho, e o faz olhar para frente. É o Deus da promessa que suscita um povo da esperança”.

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Onde buscar ajuda

O Brasil dispõe de um serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio, o Centro de Valorização da Vida (CVV), que ajuda pessoas com pensamentos suicidas através do número 188, ou atendimentos por e-mail, chat e presenciais.

Também a Igreja Católica busca auxiliar de várias formas, com as pastorais de acolhida, os grupos de ajuda (como dos dependentes químicos), grupos de oração e nos atendimentos com os padres. “Uma forma importantíssima são os atendimentos que os padres fazem. As pessoas buscam os padres para conversar sobre suas tristezas, angústia, depressão”, destaca padre Mário.

O sacerdote deixa como sugestão que as paróquias tivessem seus grupos de apoio para essas pessoas, com psicólogos, psiquiatras cristãos e outros que estivessem preparados para escutar e pudessem ajudar as pessoas neste momento.

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