Cuidando da vida

Setembro Amarelo: falar é o melhor meio para lidar com a dor, indica padre

Especialista em prevenção ao suicídio, padre Lício Vale, traz indicações para a manutenção do equilíbrio e valorização da vida 

Jéssica Marçal
Da Redação

A dor, quando nos permitimos experenciá-la, se dissolve e passa, destaca padre Lício / Foto: Wesley Almeida

“Agir salva vidas”. É com este tema que a campanha Setembro Amarelo vem mobilizar a sociedade, neste ano de 2021, para prevenir o suicídio. Realizada desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina, a campanha se estende durante todo o mês, mas tem o 10 de setembro como data principal e mundial.

“Os porquês para o suicídio são tão diversificados quanto são as causas para o sofrimento humano, e o que não é motivo para o sofrimento de um, pode ser motivo suficiente para outro”. A observação é do padre Lício Vale, especializado em Prevenção ao Suicídio pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele também é pesquisador sobre luto e valorização à vida e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio (ABEPS).

O ponto comum às pessoas que estão em comportamento suicida, segundo padre Lício, é a dor insuportável na alma, algo com o qual não sabem como lidar. “O suicida não quer morrer, e sim acabar com a sua dor”, enfatiza.

Falar é a melhor solução

O sofrimento muitas vezes parece algo impossível de suportar. Nessas situações, saber dar sentido também às dificuldades já é um auxílio. O especialista destaca que isso pode ajudar a encarar as situações difíceis e despertar possibilidades de ressignificação, buscando um novo sentido para suportar a dor.

“A melhor forma de lidar com a dor e o sofrimento é expressando-a. Falar é a melhor solução!

“A melhor forma de lidar com a dor e o sofrimento é expressando-a. Falar é a melhor solução! A dor é uma ferida que precisa de atenção para ser curada. Passar por ela e superá-la significa encarar os nossos sofrimentos e sentimentos, de modo honesto e aberto, expressando-os e aceitando-os, por quanto tempo for preciso, até que a ferida se cure”.

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Padre Lício pontua que o problema é que, na maioria das vezes, as pessoas têm medo que a dor as derrube se tomarem conhecimento dela. “A verdade é que a dor, quando nos permitimos experienciá-la, se dissolve e passa. A dor não expressa é a dor que dura indefinidamente”.

Valorização da vida

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo. No Brasil, os casos passam de 13 mil por ano, podendo ser bem maiores em decorrência das subnotificações.

Para além de dados, que são alarmantes e preocupam, o mês de conscientização é também uma oportunidade para propor, sobretudo, a valorização da vida.

“Quando falamos de valorização da vida, penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, e de melhorar a qualidade de vida do próximo”, afirma o pesquisador. E ele dá algumas orientações para isso. Confira abaixo:

Mente suicida e os porquês silenciados

Padre Lício Vale / Foto: Divulgação

Com atuação profunda por meio de palestras sobre esse tema, padre Lício também é autor de livros na área. O lançamento é a obra “Mente Suicida – respostas aos porquês silenciados”.

“Mente suicida é uma mente inquieta, confusa, com alterações de humor, cansada, insatisfeita, que está em comportamento suicida, sofrendo, com dor de alma, pensando e/ou buscando exterminar sua dor na extinção da própria vida. Melhor dizendo, é uma mente que precisa de atenção e auxílio na gestão de emoções e controle de pensamentos”, afirma o autor.

Ele lembra que o suicídio é um assunto tabu – não se fala de suicídio – então existem muitas perguntas. “Elas são silenciadas porque as pessoas têm medo de fazê-las e serem julgadas”, observa.

Quando perguntado sobre o que pode ajudar uma mente suicida a enxergar que, apesar de tudo, a vida vale a pena, padre Lício traz uma citação do neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankel, pai da Logoterapia: “Quem tem um porque enfrenta qualquer como”.

“A proposta de sentido do cristianismo consiste num olhar profundo sobre nós mesmos para curarmos nossa subjetividade dos exageros e colocá-la naquele movimento em direção ao cuidado do outro. Não vivemos para nós mesmos, nossa vida alcança seu ápice quando descobrimos a dádiva do outro”, finaliza.

“Não vivemos para nós mesmos, nossa vida alcança seu ápice quando descobrimos a dádiva do outro”

Mantendo o equilíbrio

A vida é feita de várias dimensões – família, trabalho, espiritualidade, lazer – e o equilíbrio entre elas é fundamental para o bem-estar. Contudo, nem sempre é fácil estabelecer esse equilíbrio. Padre Lício frisa que não existe uma receita pronta, mas apresenta 10 dicas que podem ajudar a manter o equilíbrio físico e mental. Veja abaixo:

 

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