Cidade de Bangassou foi controlada por rebeldes; bispo teme pelos idosos e crianças
Da redação, com AIS
A cidade de Bangassou, na República Centro-Africana, foi tomada por grupos rebeldes neste domingo, 3. Ao telefone com a Fundação AIS, D. Juan José Aguirre descreveu um ambiente de violência na cidade e afirmou que teme em especial a sorte dos mais velhos e das crianças.
“São inocentes, olhamo-los nos olhos e não sabem nada sobre rebeldes, mercenários, lutas pelo poder… Eles só ouvem os tiros e as explosões e ficam com muito medo.” Na conversa telefônica com Maria Lozano, na sede internacional da Fundação AIS na Alemanha, D. Aguirre disse que “houve crianças feridas por balas perdidas…”
A missão católica em Bangassou acolhe muitas crianças órfãs mas também abriga cerca de cinquenta idosos, em outra parte da cidade. D. Aguirre está preocupado com eles. Muitos têm problemas de demência. São, nas suas palavras, “os mais vulneráveis…”.
Apesar da violência que assaltou a cidade, o Bispo de Bangassou assegura que a Igreja continua presente junto ao povo em mais este episódio de violência no país africano. “Os nossos padres e irmãs continuam, cada um no seu lugar, dando tudo, vivendo juntamente com as pessoas estes momentos de ansiedade. Existem muitos traumas que precisam ser curados. O sofrimento de Cristo está por trás de cada um deles”, disse o prelado.
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Aparentemente, o ataque a Bangassou é uma resposta às eleições presidenciais que aconteceram no dia 27 de dezembro e que, segundo estes grupos, foram manipuladas pelo governo.
O próprio chefe do gabinete regional da missão de paz da ONU, a Minusca, referiu em declarações à agência France Press o assalto à cidade. “Eles estão em todo o lado”, disse Rosevel Pierre Louis, acrescentando que “as tropas governamentais” tinham “abandonado a sua posição” e estavam na base ocupada pelo grupo.
Apesar do controle, o bispo afirmou que nos últimos dias a cidade vive uma “uma calma tensa” com a presença, nos arredores, de um tanque da Missão das Nações Unidas, formada ali por soldados marroquinos. Portugal também está presente neste país, integrando com 243 militares a Minusca e uma força de missão de treino da União Europeia.
Ataques na região
Outras cidades também foram tomadas pelos grupos rebeldes. É o caso, por exemplo, de Bozoum. O padre carmelita Aurelio Gazzera, que esteve em Lisboa a convite da Fundação AIS em 2015 para a apresentação do relatório sobre a perseguição aos Cristãos, referiu, em mensagem publicada nas redes sociais, que o armazém local da Caritas tinha sido vandalizado por “homens armados do grupo rebelde 3R”. “Provavelmente estariam a procurar armas ou material valioso”, escreve o missionário, acrescentando que “dentro do armazém” havia de fato “algo muito precioso” que os rebeldes “não podem destruir ou roubar: o amor pelos pobres!”.
Esta não é a primeira vez que a cidade de Bangassou é palco de ataques violentos. Desde 2013, quando o então presidente Bozizé foi afastado do poder pelos Seleka, surgiram grupos de auto-defesa, os Anti-Balaka.
“Estávamos a trabalhar em tantos belos projetos de reconstrução do país”, explica o bispo de Bangassou. “Agora, teremos que recomeçar muitos deles …” À Fundação AIS D. Juan Aguirre disse esperar que os novos “donos e reis” que controlam a cidade não sejam cruéis para com a população, na sua esmagadora maioria muito pobre apesar da enorme riqueza em recursos minerais que se esconde no subsolo do país.
Diante da ameaça de guerra, o Bispo pede as orações dos cristãos pelo país: “Rezem pela paz, por nós e pelo meu povo.”