Dia do Padre

Padre conta sua vivência de pastor em meio à pandemia

Dia de São João Maria Vianney, padroeiro dos sacerdotes, é comemorado nesta terça-feira, 4, e, por isso, é Dia do Padre

Denise Claro
Da redação

Dia do Padre é comemorado em 4 de agosto, memória de São João Maria Vianney./ Foto: Arquivo Pessoal

Nesta terça-feira, 4, a Igreja celebra o Dia de São João Maria Vianney, santo conhecido como o Cura D’Ars, patrono de todos os padres. Por esse motivo, também no dia 4 de agosto é comemorado o Dia do Padre.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que o sacramento da Ordem “confere um dom do Espírito Santo, o qual permite exercer um poder sagrado, que só pode vir do próprio Cristo por meio de sua Igreja”. Pela ordenação, o sacerdote age na pessoa de Cristo, Cabeça da Igreja, e o exercício dessa autoridade deve ser medido pelo modelo de Jesus, que, por amor, se fez o último e servo de todos (CIC 1538 e 1551). A vocação sacerdotal é, portanto, uma vocação de serviço, de doação e de entrega. Em nome de Jesus, o padre se coloca a serviço da comunidade cristã.

Padre Odirlei Fernandes é da Diocese de Lorena (SP)./ Foto: Arquivo Pessoal

Padre Odirlei Fernandes é padre há dez anos na Diocese de Lorena (SP), e atua na Paróquia Nossa Senhora das Graças. Para ele, ser padre é corresponder a um chamado de Deus. Ele conta que teve uma juventude muito sadia, sonhava em casar-se e ser pai. Ao longo de sua vida, foi percebendo que tudo o que havia pedido a Deus (emprego, faculdade, namorada), Este lhe havia concedido. Então, cheio de gratidão a Deus e querendo retribuir tudo o que havia recebido, tomou uma decisão.

“Perguntei para Deus: ‘O que o Senhor quer de mim?’ E quando eu fiz essa pergunta, Ele fez o convite no meu coração: ‘Você é meu. Então, larga tudo e me segue, porque você é meu.’ Então, pedi a Deus que colocasse este desejo no meu coração, de ser aquilo que Ele queria. Ser padre, então, para mim, é viver a vontade de Deus para a minha vida. E hoje sou muito feliz e realizado.”

Pandemia

Desde o início da pandemia de coronavírus, em março, paróquias e dioceses tiveram que se adaptar, encontrando formas criativas de chegar próximo dos fiéis. Para os sacerdotes, em sua maioria, foi um desafio. Padre Odirlei sentiu isso na pele. Ele conta que nunca havia transmitido uma missa pelas redes sociais, e que foi uma novidade.

“Tive que dar as caras e fazer acontecer, levar o Evangelho e entrar na casa das pessoas, dos meus paroquianos de forma diferente, através das lives, dos momentos marianos, de oração.”

O sacerdote conta que foi uma mudança repentina, visto que está na paróquia há apenas cinco meses. “Foi de repente. Fazia um trabalho com os paroquianos e, de repente, eu me vi no virtual. Uma realidade desafiadora, supernova, mas que rendeu muitos frutos. Pensei que o foco seriam os meus paroquianos, mas quando a gente viu, havia pessoas do Pará, do sul, e até do Texas, da Austrália, participando, mandando mensagens pedindo oração, agradecendo pelas palavras. Extrapolou os limites territoriais da paróquia. A internet possibilitou o anúncio do Evangelho, esse abraço virtual a outras pessoas. Fiquei bem feliz com essa forma dinâmica e criativa de evangelizar neste tempo de pandemia.”

Segundo o balanço desta segunda-feira, 3, no mundo, já se somam mais de 17 milhões de casos confirmados de pessoas infectadas com o coronavírus. Somente no Brasil, são mais de 2 milhões. O último boletim da Comissão Nacional de Presbíteros registrou 415 casos de padres com covid-19 somente no país.

Padre Odirlei comenta também o drama e as dificuldades de um pastor em meio a essa situação de pandemia. A partir dos chamados dos paroquianos, que ora ligavam para comunicar um nascimento de um filho, por exemplo, ora ligavam para falar sobre o falecimento de alguém pela covid-19, o sacerdote precisava ter clareza de como agir.

“Tenho procurado me alegrar com aqueles que estão se alegrando neste tempo, e chorar com aqueles que estão chorando. Ser um com cada pessoa.”

“É um misto de sentimentos, algo bem conflituoso. Você quer se doar, quer ser até mesmo mártir diante das súplicas e dos pedidos dos que apresentam suas necessidades, mas precisa ter sabedoria. Em muitos momentos, não soube o que fazer, se acolhia a família para batizar, se fazia a encomendação de um corpo, se ficava… É muita vida envolvida, tenho pedido sabedoria  e discernimento para que eu possa tomar as decisões certas, nas horas certas, do jeito certo, para preservar a minha vida e a vida do outro. Ao mesmo tempo, eu sou chamado a dar a minha vida em favor do outro. Tenho procurado me alegrar com aqueles que estão se alegrando neste tempo, e chorar com aqueles que estão chorando. Ser um com cada pessoa.”

Retomada

Na Diocese de Lorena, a presença dos fiéis nas missas foi liberada desde o último domingo, 2. A medida comporta todas as normas de segurança, como distanciamento, uso de máscara, álcool em gel e controle do número de pessoas. Na paróquia de padre Odirlei, 30% da capacidade total da Igreja significa que, em cada missa, são 50 fiéis a participar.

“Em todas as missas, foi um momento muito forte para os fiéis e para mim também, por poder vê-los bem, saudáveis, encontrá-los através do olhar mesmo. No olhar de ternura, pude transmitir o meu olhar de pai, de pastor às minhas ovelhas. Foi muito gratificante e muito bonito ver os paroquianos dentro da Igreja. Rezo para que essa pandemia acabe, para que as vacinas que estão sendo produzidas sejam, de fato, eficazes, na cura e no tratamento do coronavírus, para que as ovelhas possam ‘voltar para casa’, para o lugar delas.”

Padre Odirlei diz que a lembrança do santo padroeiro dos sacerdotes ajudou-o a seguir em frente e a enfrentar também este momento difícil como padre e pastor. 

“São João Maria Vianney é para mim um grande exemplo, um grande modelo de sacerdote, por tudo aquilo que ele passou. É um modelo que me ajuda a, todos os dias, renovar meu sim e gastar a minha vida em favor do povo de Deus. Doar-me em favor do outro, do pobre, daqueles que mais precisam e sofrem, para que o Reino de Deus aconteça. Porque assim como ele, eu quero, cada vez mais, consumir-me e configurar-me a Jesus Cristo, o Sumo e Eterno Sacerdote.

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