Mariana Venâncio, assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, comenta a importância do estudo da Palavra neste Domingo da Palavra de Deus, data instituída pelo Papa Francisco em 2019
Thiago Coutinho
Da redação
Neste domingo, 21, a Igreja celebra o quinto Domingo da Palavra de Deus, data instituída pelo Papa Francisco em 30 de setembro de 2019. Este ano, a data atenderá pelo tema “Permanecei na minha Palavra” (Jo 8,31), tirada do Evangelho de João. Às 9h30 (horário de Roma) e às 5h30 (horário de Brasília), o Santo Padre presidirá a celebração eucarística na Basílica de São Pedro.
A partir de uma Carta Apostólica sob a forma do Motu Proporio Aperuit illis, em setembro de 2019 o Santo Padre instituiu que “III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus” — o documento foi publicado no dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de São Jerônimo.
“No Brasil, recomendamos que as comunidades utilizem o subsídio fornecido pelo Dicastério para a Evangelização, que está disponível, inclusive, em língua portuguesa”, explica Mariana Venâncio, assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. “O material traz várias opções para celebrar a data: há roteiros de preparação para a celebração eucarística, há um roteiro de adoração com a Palavra, há propostas de lectio divina e meditações a partir das catequeses do Papa Francisco”.
Ignorância das Escrituras
O Domingo da Palavra foi instituído no dia em que a Igreja recorda a memória litúrgica de São Jerônimo, considerado santo e doutor da Igreja, tradutor do Livro Sagrado em latim. E um pensamento é atribuído a ele: “A ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo”.
“A fala de São Jerônimo tem grande atualidade”, atesta Mariana. “Mas é sempre importante entender essa ignorância não somente em perspectiva acadêmica ou intelectual, mas na dimensão da falta de intimidade com a Palavra e, principalmente, de espiritualidade bíblica”, acrescenta.
Para a assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, é a partir das Escrituras que os fiéis podem arregimentar o conhecimento em Cristo de maneira plena. “É a oração com a Palavra de Deus, em comunhão com a Igreja, que abre o entendimento do fiel ao conhecimento de Cristo. Mesmo aqueles e aquelas que, em nossas comunidades, não tiveram acesso ao estudo ou à pesquisa teológica, quando comprometidos com a leitura comunitária da Palavra — que é sempre um modo orante de leitura — crescem numa espiritualidade tal que o Senhor se lhes faz um amigo, aquele que diz Palavras de vida eterna”, pondera.
Verbum Domini
Na Exortação Apostólica Verbum Domini, Bento XVI nos diz que a Palavra deve ser acolhida em três âmbitos: estudo, oração e missão. O mundo contemporâneo, porém, pode trazer dificuldades para os fiéis terem tempo de meditar estes três importantes aspectos da Igreja.
“É possível — e inclusive necessário — que tudo isso seja vivido no cotidiano das nossas agendas cheias”, observa Mariana. “Nossos compromissos são momentos de anúncio, o silêncio entre uma atividade e outra é tempo para rezar com a Palavra; os momentos de descanso podem ser dedicados à leitura da Escritura. Antes de tudo, porém, é importante que todos nós tenhamos a consciência de que a leitura bíblica autêntica, aquela que de fato nos faz crescer na escuta de Deus, é a leitura que se faz na comunidade”, reitera.
A leitura em comunidade, segundo a assessora, propiciará um crescimento mais amplo e completo. “A própria participação nas celebrações litúrgicas é momento de aprendizado da Palavra (nas homilias), de oração com a Escritura e de anúncio — porque a comunhão que se vive é já o testemunho da Palavra meditada, que é uma forma de anúncio”, afirma.
Este costume, ainda segundo Mariana, pode ser complementado da seguinte maneira: participação nas formações que a comunidade oferece; buscando formações de qualidade que se oferecem em faculdades, centros de formação teológica e também pelos meios digitais; no hábito de praticar a lectio divina e no anúncio diário que fazemos nos meios em que frequentamos: entre os amigos, no trabalho, na família.
Jubileu 2025 e o Concílio Ecumênico Vaticano II
Tendo em vista o Jubileu de 2025, o Santo Padre pediu aos fiéis que relessem as quatro constituições do Concílio Ecumênico Vaticano II. “A retomada do Concílio Vaticano II é importante porque oferece direções seguras para o agir cristão e, particularmente, para a forma como compreendemos a Escritura”, diz Mariana. “A Dei Verbum, por exemplo, é um breve — mas denso — texto que ensina sobre em que dimensão a revelação de Deus a nós se comunica pela Escritura. Ela nos ajuda a compreender o valor de uma interpretação que não é feita sem critérios, mas que, sobretudo, é fiel à interpretação do Magistério”.
Esta fidelidade à interpretação do Magistério, como afirma Mariana, leva a interpretação textuais sem fundamentalismo. “Formas fundamentalistas de ler o texto às vezes nos levam para caminhos totalmente distintos daqueles que o texto pretendia indicar e, por isso, nos distanciam da escuta do Deus que se revela e convida à comunhão com o Filho”, alerta.
A assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB pede que os fiéis revisitem esses documentos, “cujos tesouros ainda estão, em alguns aspectos, inexplorados”, finaliza.