A memória litúrgica de São José Operário, que hoje celebramos, foi instituída por Pio XII, em 1955. Diante de 200 mil operários reunidos na Praça de São Pedro, em Roma, disse o Papa: “Neste 1º de maio, que o mundo do trabalho assumiu como festa própria, queremos reafirmar, em forma solene, a dignidade do trabalho a fim de que inspire, na vida social, as leis da equitativa repartição de direitos e deveres”.
Irmãs e irmãos, de modo eminente, nesta memória de São José Operário, se reconhece a dignidade do trabalho humano, como exercício benéfico de seu domínio sobre o mundo criado, serviço à comunidade, prolongamento da obra do Criador e contribuição humana no plano divino da salvação, como nos ensina o Concílio Ecumênico Vaticano II (cf. GS 34).
O episódio apresentado pelo evangelista Mateus, representa um ponto culminante do ministério de Jesus na Galiléia, e do total desprezo por ele experimentado por parte de seus conterrâneos. O questionamento dos nazarenos “de onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?” (Mateus 13,54) pode ser assim interpretada: “nós o conhecemos muito bem, e por isso nele não pode haver nada de extraordinário”.
No evangelho, São José é chamado de homem justo. O humilde artesão de Nazaré aponta para o Cristo Salvador, filho de Deus. O próprio Jesus quis ser um trabalhador manual, passando, certamente, grande parte de sua vida na oficina de seu pai adotivo. Ele é chamado de “filho do carpinteiro” (Mateus 13,55). Em sua pregação, Jesus ensina a apreciar o trabalho. Ele mesmo ‘se tornou semelhante a nós em tudo, passando a maior parte dos anos da vida sobre a terra junto de um banco de carpinteiro’ (LE 6), dedicando-se ao trabalho manual na oficina de José.
O trabalho dá ao ser humano o maravilhoso poder de participar da obra criadora de Deus e de aprimorá-la, desde que essa atividade possua de fato um autêntico valor humano. A consciência desse valor leva o trabalhador à justa reivindicação do respeito à sua dignidade e aos seus direitos. Por isso, a Igreja proclama o real valor do trabalho e se coloca ao lado dos que lutam por justiça e liberdade.
A Doutrina Social da Igreja afirma insistentemente que o trabalho tem prioridade em relação ao capital. O Papa João Paulo II reafirmou que “esse princípio diz respeito diretamente ao próprio processo de produção, relativamente ao qual o trabalho é sempre uma causa eficiente primária, enquanto o capital, sendo o conjunto dos meios de produção, permanece apenas um instrumento, ou causa instrumental. Este princípio é uma verdade evidente, que resulta de toda a experiência da história. Ele pertence ao patrimônio estável da doutrina da Igreja” (LE,12).
Sob o patrocínio de São José Operário, celebramos esta Eucaristia rendendo graças a Deus, ao término da 47ª Assembléia Geral da CNBB. Grande foi o trabalho que realizamos nestes dias. Longa foi a pauta e muitos foram os assuntos tratados. Mas, graças a Deus, somos recompensados pelos frutos que colhemos e depositamos neste altar. Foi em nome do Senhor Jesus que aqui estivemos reunidos e com ele, por ele e nele, agradecemos ao Pai, pelo Espírito Santo, estes dias que vivemos em comunhão fraterna e o serviço que realizamos em co-responsabilidade eclesial. Recomenda-nos o Apóstolo Paulo: “Tudo o que fizerdes por palavras ou ações, fazei-o em nome do Senhor Jesus, por ele dando graças a Deus, o Pai” (Colossenses 3,17).
Trazemos ao altar o pão e o vinho “frutos da terra, da videira e do trabalho humano” que apresentamos ao Senhor e para nós se vão tornar “pão da vida e vinho da salvação”. Ensina-nos a Constituição Pastoral Gaudium et Spes do Vaticano II, “a Eucaristia santifica o trabalho e os seus frutos, e nos indica que o verdadeiro objetivo de todo o trabalho humano é a construção do novo Reino” (cf. GS 39, 67).
Ao retornarmos ao nosso campo de ação pastoral e missionária, acompanhem-nos as palavras do Apóstolo: “Em tudo o que fizerdes, ponde vossa alma, como para o Senhor e não para os homens, sabendo que o Senhor vos recompensará como a seus herdeiros: é Cristo o Senhor a quem servis (Cl 3,23-24). Amém.
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