Pós-pandemia

Educação Católica: unir esforços numa ampla aliança educacional

Congregação para a Educação Católica enviou carta à escolas e universidades

Da redação, com Vatican News

A Congregação para a Educação Católica enviou uma circular às escolas, universidades e instituições educacionais, intitulada “Colocar no centro a relação com a pessoa concreta e real”.

Assinada pelo prefeito do organismo vaticano, cardeal Giuseppe Versaldi, e pelo secretário, dom Angelo Vincenzo Zani, e publicada pelo jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, a carta enfatiza que a difusão da Covid-19 mudou profundamente a nossa existência e modo de viver.

“Nos vimos assustados e perdidos. Como os discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furiosa. Acrescentaram-se aos problemas de saúde, os problemas econômicos e sociais. Os sistemas educacionais em todo o mundo sofreram com a pandemia, tanto no âmbito escolar quanto acadêmico. Em todos os lugares, foram feitos esforços para garantir uma resposta rápida por meio de plataformas digitais de educação à distância, cuja eficácia foi condicionada por uma marcada disparidade de oportunidades educacionais e tecnológicas. Segundo alguns dados recentes fornecidos por agências internacionais, cerca de dez milhões de crianças não terão acesso à educação nos próximos anos, aumentando a lacuna educacional já existente.”

A isso se soma a situação dramática das escolas e universidades católicas que, sem o apoio econômico do Estado, correm o risco de fechar ou de redimensionamento radical. No entanto, as instituições educacionais católicas, escolas e universidades, tornaram-se fronteira avançada da preocupação educacional, colocando-se a serviço da comunidade eclesial e civil, garantindo um serviço público educacional e cultural em benefício de toda a comunidade.

Educação e relação

Neste contexto, infelizmente ainda sem controle em diferentes partes do mundo, surgiram alguns desafios. Primeiramente, o ensino à distância, embora necessário neste momento extremamente crítico, mostrou como o ambiente educacional composto por pessoas que se encontram, interagindo diretamente e “em presença”, não é simplesmente um contexto acessório à atividade educacional, mas a essência dessa relação de intercâmbio e diálogo entre professores e alunos, indispensável para a formação da pessoa e para uma compreensão crítica da realidade. Nas classes, nas salas de aula e nas oficinas crescemos juntos e construímos uma identidade de relação. Em todas as idades da vida, porém ainda mais na infância, na adolescência e no início da vida adulta, o processo de crescimento psicopedagógico não pode se realizar sem o encontro com os outros e a presença do outro faz nascer as condições necessárias para que a criatividade e a inclusão floresçam. No campo da pesquisa científica, da investigação acadêmica e da atividade didática, as relações interpessoais constituem o “lugar” onde a transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade emergem como critérios culturais fundamentais para conter os riscos de fragmentação e desintegração dos saberes, bem como para a abertura desses saberes à luz da Revelação.

Formação dos educadores

A ampla difusão e persistência da pandemia ao longo do tempo também criaram uma sensação generalizada de incerteza entre professores e educadores. A sua inestimável contribuição, que mudou profundamente ao longo dos anos, tanto do ponto de vista social quanto técnico, precisa ser apoiada através de uma sólida formação continuada que saiba ir ao encontro das necessidades dos tempos, sem perder a síntese entre fé, cultura e vida, que é a pedra angular peculiar da missão educacional implementada nas escolas e universidades católicas. Os professores têm tantas responsabilidades e seu compromisso deve cada vez mais se transformar em ação real, criativa e inclusiva. Graças a eles, alimenta-se um espírito de fraternidade e partilha não apenas com os alunos, mas também entre gerações, religiões e culturas, assim como entre o homem e o meio ambiente.

A pessoa no centro

Para que isso aconteça, é sempre necessário colocar no centro da ação educacional a relação com a pessoa concreta e entre as pessoas reais que formam a comunidade educacional; uma relação que não encontra casa suficiente na interação mediada por uma tela ou nas conexões impessoais da rede digital. A pessoa concreta e real é a alma dos processos educativos formais e informais, e uma fonte inexaurível de vida por sua natureza essencialmente relacional e comunitária, que implica sempre duas dimensões: vertical (aberta à comunhão com Deus) e horizontal (comunhão entre os homens). A educação católica, inspirada na visão cristã da realidade em todas as suas expressões, visa a formação integral da pessoa chamada a viver de maneira responsável uma vocação específica em solidariedade com outras pessoas.

Num mundo em que “tudo está intimamente relacionado”, sentimo-nos unidos na busca, segundo a antropologia cristã, de novos caminhos de formação que nos permitam crescer juntos usando os instrumentos relacionais que a tecnologia atual nos oferece, sobretudo abrindo-nos à insubstituível escuta sincera da voz do outro, dando tempo para uma reflexão e planejamento comuns, valorizando histórias pessoais e projetos compartilhados, os ensinamentos da história e a sabedoria das gerações passadas. Em tal processo de formação na relação e na cultura do encontro, a “casa comum” com todas as criaturas também encontra espaço e valor, pois as pessoas, assim como se formam para a lógica da comunhão e da solidariedade, já trabalham “para recuperar a serena harmonia com a criação”, e para configurar o mundo como “espaço de uma verdadeira fraternidade”.

Serviço como um fim

A situação atual evidenciou fortemente a necessidade de um pacto educacional cada vez mais comunitário e partilhado que, extraindo força do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja, contribua em sinergia generosa e aberta para a difusão de uma autêntica cultura de encontro. Por esta razão, as escolas e universidades católicas são chamadas a formar pessoas dispostas a se colocar a serviço da comunidade. No serviço, podemos experimentar que há mais alegria em dar do que em receber, e que o nosso não pode mais ser um tempo de indiferença, egoísmo e divisões: “O mundo inteiro está sofrendo e deve se unir para enfrentar a pandemia”, já que “o desafio que enfrentamos nos une a todos e não faz diferença de pessoas”. A formação a serviço da sociedade para a promoção do bem comum convida todos a “unirem esforços numa ampla aliança educacional para formar pessoas amadurecidas, capazes de superar a fragmentações contraposições e reconstruir o tecido de relações por uma humanidade mais fraterna”.

Trabalhar em rede

A evidência de que “a pandemia ressaltou quão vulneráveis e interligados somos”, convida as instituições educacionais, católicas e não-católicas, a contribuir na realização de uma aliança educacional que, como num movimento de equipe, tem o objetivo de “reencontrar o passo comum para reanimar o compromisso para e com as jovens gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e compreensão mútua”. Isso pode ser favorecido por uma rede de cooperação mais integrada, que se configura como um ponto de partida para estabelecer e partilhar alguns objetivos essenciais para os quais convergir, de forma criativa e concreta, modelos alternativos de convivência aos de uma sociedade massificada e individualista. Trata-se de uma responsabilidade ampla e aberta a todos aqueles que se preocupam com a construção de um projeto educacional a longo prazo renovado, baseado em demandas éticas e normativas partilhadas. Uma contribuição valiosa pode ser dada pela pastoral escolar e universitária e pelos cristãos presentes em todas as instituições educacionais.

Conclusão

A Congregação para a Educação Católica, como já expresso no comunicado de 14 de maio de 2020, renova sua proximidade e expressa seu profundo apreço a todas as comunidades educacionais das instituições escolares e universitárias católicas que, apesar da emergência de saúde, garantiram o desempenho de suas atividades para não interromper aquela cadeia educacional que está na base não só do desenvolvimento pessoal, mas também da vida social. Na perspectiva do planejamento escolar e acadêmico futuro, apesar das incertezas e preocupações, os responsáveis pela sociedade são chamados a dar maior importância à educação em todas as suas dimensões formais e informais, coordenando esforços para apoiar e garantir, nestes tempos difíceis, o compromisso educacional de todos.

É hora de olhar para frente com coragem e esperança. As instituições educacionais católicas têm em Cristo, Caminho, verdade e Vida, seu fundamento e uma fonte perene de “água viva” que revela o novo significado da existência e a transforma. Portanto, nos sustenta a convicção de que na educação reside a semente da esperança: uma esperança de paz e justiça.

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