Especialista lembra que efeitos dos CFCs devem continuar por muitos anos na atmosfera, porém, com tendência de queda no decorrer dos anos
Kelen Galvan
Da redação
O Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio é comemorado neste sábado, 16, data em que foi assinado o Protocolo de Montreal em 1987. Este documento foi assinado por muitos países, incluindo o Brasil, e tinha como meta acabar com a produção e consumo das substâncias responsáveis pela destruição do ozônio.
Dados de satélite do Copernicus Climate Change Service, divulgados em agosto, indicam que nesta temporada, o buraco na camada de ozônio sob a Antártida está mais aberto do que o previsto. De forma esperada, o buraco começa a aumentar e deve atingir as suas maiores dimensões em outubro. Mas deve retroceder até dezembro.
O doutor em Geofísica Espacial e pesquisador do INPE, Plínio Carlos Alvalá, explica que a formação do buraco de ozônio depende em linhas gerais de três variáveis: presença de clorofluorcarbonos (CFCs), à dinâmica dos ventos na região Antártida – que formam o vórtex polar (ventos fortes que circundam a Antártida e aprisionam o ar nessa região)-, e as baixas temperaturas na estratosfera no período do inverno.
Plínio explica que quanto mais baixa a temperatura (menor que -78 ºC), mais destrutiva são as reações que atingem o ozônio na estratosfera.
“Durante o inverno no Hemisfério Sul, os CFCs e outros gases que destroem o ozônio ficam inertes e dependendo da temperatura ficam presos em cristais de gelo e outros compostos e todos eles presos dentro do vórtex polar. Quanto mais frio, mais cristais se formam e agregam os gases (formando nuvens). Quando temos o fim do inverno e início da primavera (agosto/setembro), os raios solares penetram na estratosfera e começa a liberar os gases que destroem o ozônio”.
O especialista esclarece que as reações que destroem o ozônio são muito mais rápidas que as da sua formação, o que deixa várias partes da estratosfera sem ozônio. “Esse mecanismo atua até que a energia que a radiação solar deposita na região seja suficiente para quebrar o vórtex polar e, assim, massas de ar com ozônio entram na região, o que ocorre em meados de dezembro”.
Buraco na Camada de Ozônio
O pesquisador recorda que foi no final da década de 1970 que foi observada a formação do buraco na Camada de Ozônio sob a Antártida. Posteriormente, verificou-se que os clorofluorcarbonos (CFCs) estavam contribuindo para a acelerada destruição da camada de ozônio.
Quando esses gases contendo cloro sobem para a estratosfera, eles também sofrem a ação da radiação solar e destroem as moléculas de ozônio. Isso porque o cloro reage com o ozônio, transformando-o em uma molécula de monóxido de cloro e gás oxigênio.
Plínio afirma que atualmente não há mais o uso de CFCs, porém eles ainda causam seus efeitos. “Os CFCs e outros halocarbonos, como são chamados os compostos contendo cloro e bromo, tem uma vida média na atmosfera (na troposfera) que pode chegar a mais de 100 anos. Assim, muito do que foi emitido, ainda será transportado para a estratosfera e seguir reagindo e levando a formação do buraco de ozônio”, explica.
Entenda melhor
O ozônio (O3) é um dos gases que compõe a atmosfera e cerca de 90% de suas moléculas se concentram na estratosfera (uma das camadas da atmosfera) entre 10 e 50 km de altitude. Nessa região, ele tem um pico de concentração que é denominado Camada de Ozônio. Este é o único gás capaz de filtrar a radiação ultravioleta, nociva aos seres vivos.
O gás Ozônio é produzido naturalmente por reações fotoquímicas. A radiação solar quebra as moléculas de oxigênio (O2) e libera átomos desse elemento (O). Esses átomos se unem às moléculas de oxigênio e formam o ozônio (O3).
Curiosidade e preservação
O doutor em geofísica espacial destaca que, até o momento, a maior área de buraco de ozônio ocorreu em 2006, com 27 milhões de km2. “Já tivemos buraco de ozônio com grandes áreas, porém seus efeitos na atmosfera são muito inferiores aos do aquecimento global. Sim, ocorre um aumento da radiação ultravioleta na área sob influência do buraco, mas são áreas de muito baixa densidade demográfica”.
As previsões são de que, por volta do ano 2060, a camada de Ozônio volte ao que era no ano de 1980.
“Enquanto isso, vamos observar essa grande variabilidade no fenômeno, mas com tendência de queda no decorrer dos anos. O Brasil aderiu ao protocolo de Montreal e hoje não se tem refrigeração utilizando CFCs. Embora muito raro, ainda existem produtos a bases de halocarbonos, assim nossa contribuição seria a sua não utilização, a não ser em casos emergenciais”.