Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização explica temas da Carta Apostólica “Aperuit Illis” do Papa
Da redação, com Vatican News
“Temos necessidade de entrar em confidência constante com as Escrituras Sagradas, caso contrário o coração permanece frio e os olhos permanecem fechados, atingidos como somos por inúmeras formas de cegueira”. A afirmação é do presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, arcebispo Rino Fisichella, sobre a Carta Apostólica “Aperuit Illis” – que institui o terceiro Domingo do Tempo Comum como o Domingo da Palavra de Deus.
Íntegra
.: Carta Apostólica “Aperuit illis”
Na carta, o arcebispo destaca que o Papa Francisco explica como a leitura constante da Sagrada Escritura permite abrir os olhos de homens e mulheres para saírem “do individualismo”, sendo também o chave para levar à partilha e à solidariedade. Dom Fisichella ressaltou o “valor histórico” da iniciativa do Pontífice para o amadurecimento do povo cristão, definindo-a como “uma oportunidade pastoral” para revigorar o anúncio neste momento histórico cheio de desafios.
“Esta carta nasce porque o Papa recebeu tantos pedidos de pastores e leigos após o Jubileu da Misericórdia. Então, em sua Carta Apostólica ‘Misericordia et Misera’, na conclusão do Jubileu, ele havia acenado de que nas Igrejas, segundo a própria criatividade – porque muito já é feito a esse respeito – fosse instituído um domingo no qual a Palavra de Deus fosse colocada no centro do coração da vida da comunidade cristã, como sinal unitário e assim, dessa maneira, a força da Palavra de Deus para a comunidade poderia emergir ainda mais, mas também a responsabilidade que a comunidade sente de ter de tornar partícipe por meio de uma ação realmente evangelizadora”, contou o arcebispo.
Dom Fisichella reafirmou a importância dos católicos não esquecerem que em cada domingo se celebra o mistério da presença do Senhor ressuscitado. ” É verdade que todos os domingos escutamos a Palavra de Deus, mas isso não impede que em um domingo a Palavra de Deus possa estar em toda a Igreja, em todas as comunidades cristãs, proclamada com maior solenidade e pode haver uma reflexão particular acompanhada por sinais mais visíveis sobre a importância que essa Palavra tem para a Igreja”, suscitou.
Ecumenismo
Sobre o valor ecumênico do Domingo da Palavra de Deus, o arcebispo explicou: “O Papa escolheu celebrar este domingo no terceiro Domingo do Tempo Comum, quando todas as leituras que são proclamadas no Evangelho apresentam a figura de Jesus como anunciador do Reino de Deus. Não esqueçamos porém que isso ocorre também em um momento temporal em que se celebra, alguns dias antes, o Dia do Diálogo com os Judeus e em seguida é celebrada a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos”.
Amadurecimento do povo cristão
Dom Fisichella explicou como a Carta Apostólica do Santo Padre é uma espécie de semeadura para o amadurecimento do povo cristão: “O Papa apresenta três imagens bíblicas. A primeira é a de Emaús, que serve ao Papa para fazer as pessoas compreenderem como, por meio da Palavra do Senhor, Ele acompanha a vida de cada fiel, a vida da Igreja e, dessa maneira, queima o coração de cada um de nós quando essa Palavra é proclamada porque fala de Ele”.
O arcebispo prosseguiu: “Depois, há uma segunda imagem, que é o retorno do povo judeu após o exílio e a redescoberta dos livros da lei, portanto a proclamação que é feita: é o livro de Neemias que recorda esse momento histórico do povo judeu. O Papa usa essa imagem para indicar que a Palavra de Deus cria um povo e a Palavra de Deus faz com que as pessoas se sintam reunidas não apenas para ouvir a Palavra, mas também para vivê-la e que a palavra proclamada vivida traz a alegria. A terceira imagem é a do profeta Ezequiel, tirada do livro do Apocalipse, onde o Papa nos explica que a Palavra de Deus é doce, mas ao mesmo tempo é amarga porque às vezes não é acolhida, não é vivida ou é também rejeitada”.
Indicações aos padres e bispos
Além de indicações aos leigos sobre como viver o Domingo da Palavra de Deus, o Pontífice fez indicações também aos sacerdotes e bispos. Dom Fisichella reforça o que para o Santo Padre é fundamental: o valor da homilia. “Ele [Papa] nos diz que é uma ocasião pastoral que não deve ser perdida. A homilia requer que nós, sacerdotes, em primeiro lugar, sejamos chamados a um contato diário com aquela Palavra que depois devemos explicar e da qual o nosso povo tem o direito de ter uma explicação inteligente e coerente que toque a vida e as necessidades presentes em cada um”, aponta.
No entanto, o arcebispo afirma que o Francisco também recorda aos bispos para que celebrem a criação do Ministério da Leitura. O Papa vai além e diz que, em vista deste domingo, a partir dos próximos anos, é bom que o papel de um serviço extraordinário seja mais enfatizado, assim como existe o serviço extraordinário da Comunhão, que também possa haver um ministério e um mandato específico com o qual as pessoas se preparam primeiro para um contato mais imediato de estudo, de reflexão com a Palavra de Deus, e depois sejam também instituídos em um ministério extraordinário.
“Acredito que seja também uma provocação pastoral. Sabemos como isso acontece em nossas igrejas em que lê a primeira pessoa que achamos disponível. Mas esse não é o valor que deve ser dado à Palavra de Deus. A Palavra de Deus deve encontrar pessoas, mulheres, homens capazes de uma proclamação autêntica e na proclamação capaz também da inteligência do texto sagrado”, concluiu.