Tristeza

Campo de refugiados em Moria: religiosas brasileiras relatam experiência

No mês passado, scalabrinianas conheceram de perto a situação do campo de refugiados em Moria, que sofreu um incêndio nesta quarta-feira

Da Redação, com Vatican News

Campo de refugiados em Moria; milhares de pessoas, entre elas crianças e jovens, ficaram desabrigados após incêndio / Foto: Reprodução Reuters

A situação já era desesperadora antes, agora é impossível imaginar como estão: este é o depoimento da Irmã Clarice Barp, scalabriniana, que, no mês de agosto, viveu uma experiência missionária no campo de refugiados que nesta quarta-feira, 9, pegou fogo em Moria, na ilha grega de Lesbos.

Criado para abrigar pouco mais de duas mil pessoas, até ontem contava cerca de 13 mil requerentes de asilo. Agora o campo foi evacuado e os migrantes estão à espera de serem transferidos. O campo chegou a receber a visita do Papa Francisco em 2016. 

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Irmã Clarice declara-se chocada com as imagens. “É chocante ver as imagens do campo de Moria, em Lesbos, onde nós missionárias scalabrinianas, juntamente com a comunidade de Santo Egídio, estivemos no mês de agosto conhecendo, convivendo e aprendendo junto aos refugiados. É grande a dor e a tristeza de ver arder o campo. São nossos amigos e conhecidos que não mais de 15 dias estávamos com eles, compartilhando o nosso tempo na escola da paz, na escola de inglês. Almoçamos e jantamos juntos, brincamos com as crianças e rezamos com eles. Agora, o incêndio destruiu tudo o que eles tinham – e já tinham pouco. Mas era um pequeno telhado, onde se protegiam do sol, da chuva, do frio.”

A religiosa relata que, no dia 30 de agosto, último dia que estiveram no campo, jantaram com os voluntários e naquela ocasião houve um incêndio. Um jovem explicou que eram comuns episódios do gênero por parte de grupos que não querem a presença dos refugiados na ilha.

“A insegurança, a instabilidade, a violência e a precariedade predominam no campo”, afirma ainda a missionária. Porém, “mais triste e dolorido é ver a indiferença da União Europeia em resolver a situação”.

A maioria dos migrantes é constituída por afegãos, iraquianos e sírios que fugiram da guerra e “na Europa são recebidos desta forma: encerrados num campo com todo tipo de limitação e escassez de recursos tão básicos, como a água, a comida, a saúde, a educação”. “É necessário e urgente uma solução humana e digna para essas pessoas.”

Outra missionária que esteve presente em Moria é a Irmã Marlene Vieira, que descreveu um cenário desolador antes mesmo do incêndio, um verdadeiro purgatório onde é difícil imaginar o futuro. Entre lixo, fezes e ratos, os jovens – 40% dos moradores do campo – lutam contra o ócio.

“Tantos jovens, migrantes, na idade entre 16 e 18 anos, cheios de energia e força, buscam uma nova terra, uma nova Europa, mas estão ali naquele campo sem fazer nada. Falar do presente num lugar que parece o purgatório, não é possível imaginar o futuro. São pessoas que poderiam dar tanto, mas estão ali à espera de uma nova terra prometida”. 

Já a Ir. Rosa Zanchin relata uma das experiências que mais a impressionou: a montanha de pertences abandonados que os migrantes utilizaram na travessia. “Nessa montanha a gente percebe o sonho de muitas pessoas que morre, que acaba, o sonho de uma pessoa que deixa de viver. Isto nos deixa muito tristes, mas Deus é a esperança”. 

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