Pregação do Advento

Que a Igreja seja casa de todos, comunhão não é uniformidade, diz padre

Padre Roberto Pasolini conduziu a segunda pregação do Advento no Vaticano com foco no tema “Reconstruir a Casa do Senhor. Uma Igreja sem contraposições”

Da Redação, com Vatican News

O padre Roberto Pasolini aparece sentado, falando ao microfone, com as vestes habituais marrons dos frades capuchinhos

Padre Roberto Pasolini durante segunda pregação do Advento / Foto: Reprodução Vatican News

Como oferecer ao mundo uma comunhão crível que não seja, genericamente, fraternidade? Esse foi um dos pontos de reflexão da segunda de três meditações do Advento no Vaticano. As pregações são conduzidas pelo pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini, na Sala Paulo VI.

As meditações do Advento neste ano têm como tema “Aguardando e apressando a vinda do dia de Deus”. Nesta sexta-feira, 12, o centro da reflexão proposta ao Papa Leão XIV e aos seus colaboradores da Cúria Romana foi “Reconstruir a Casa do Senhor. Uma Igreja sem contraposições”.

Leia também
.: Pregação no Vaticano: no Advento, a Igreja reacende a esperança

Unidade x uniformidade

Padre Pasolini articulou sua reflexão em torno de três imagens: a Torre de Babel, o Pentecostes e a reconstrução do Templo de Jerusalém. A primeira imagem — a de uma cidade fortificada e uma torre imponente — é o emblema de uma família humana que, após o dilúvio, busca exorcizar “o medo da dispersão”. Mas tal projeto esconde “uma lógica mortal”, já que a unidade é buscada “não pela reconciliação das diferenças, mas pela uniformidade”.

“É o sonho de um mundo onde ninguém é diferente, ninguém corre risco, tudo é previsível”, observou o sacerdote. Tanto que a torre é construída não com pedras irregulares, mas com tijolos idênticos entre eles. O resultado é, sim, a unanimidade, mas uma unanimidade aparente e ilusória, porque “é alcançada ao custo da eliminação das vozes individuais”.

Leia também
.: A unidade é uma regra de vida, a uniformidade não, afirmou Papa Francisco

A partir daí, o pensamento do pregador voltou-se para os tempos modernos e contemporâneos, nomeadamente, para os totalitarismos do século XX que impuseram o “pensamento único”, silenciando e perseguindo a dissidência. “Cada vez que a unidade é construída suprimindo as diferenças o resultado não é a comunhão, mas a morte”, observou.

O Papa Leão XIV, com suas habituais vestes brancas e cruz peitoral, aparece sentado ao lado de outros homens, membros da cúria romana

Papa Leão XIV e seus colaboradores da Cúria Romana acompanham pregação do Advento / Foto: Reprodução Vatican News

Também hoje, na era das redes sociais e da inteligência artificial, os riscos da padronização não faltam, pontuou padre Pasolini. Pelo contrário, surgem em novas formas, plataformas que visam o consenso rápido e reduzem a complexidade humana. Uma tentação que não poupa nem a Igreja, observou o capuchinho.

A importância da diferença e a imagem de Pentecostes

Padre Pasolini também explicou que um mundo construído sobre a utopia de cópias idênticas é a antítese da criação, já que Deus cria separando, distinguindo, diferenciando: a luz das trevas, as águas da terra, o dia da noite.
Nesse sentido, rejeitar a diferença significa inverter o impulso criador em busca de uma falsa segurança que é, na verdade, “uma rejeição da liberdade”. A confusão de línguas com que Deus responde à Torre de Babel, portanto, não é uma punição, mas sim “uma cura”, enfatizou o pregador da Casa Pontifícia. Deus restitui a dignidade às singularidades, dando novamente à humanidade o bem mais precioso, ou seja, a possibilidade de não sermos todos iguais. Porque “não existe comunhão sem diferença”.

A segunda imagem utilizada pelo sacerdote foi a de Pentecostes, o emblema da comunhão apesar da ausência de uniformidade. Os apóstolos falam a sua própria língua e os ouvintes a compreendem na sua, porque “a diversidade permanece, mas não divide”.

Templo de Jerusalém: necessidade de renovação da Igreja

O frade capuchinho ilustrou, então, a terceira imagem: o Templo de Jerusalém, destruído e reconstruído muitas vezes. Cada reconstrução, explicou ele, nunca pode ser um caminho linear e tudo isso é um precioso compêndio para compreender a necessidade de renovação da Igreja, bem encarnada por São Francisco de Assis.

A Igreja, de fato, é chamada a permitir-se ser continuamente reconstruída, permanecendo fiel a si mesma e, ao mesmo tempo, continuando a “colocar-se a serviço do mundo”. Assim, a renovação eclesial é “a atitude ordinária” da Igreja fiel ao mandato apostólico, acrescentou padre Pasolini. A Igreja que se renova, frisou, é aquela capaz de “acolher a diversidade” e capaz de “um combate espiritual autêntico”, livre dos “atalhos de puro conservadorismo e de inovação acrítica”.

O Concílio Vaticano II e a “Primavera do Espírito”

Uma última reflexão do padre Pasolini foi dedicada ao Concílio Vaticano II. Sessenta anos após, a grande assembleia, frequentemente descrita como a “primavera do Espírito”, emergem tanto um declínio das práticas e das estruturas históricas da vida cristã quanto um novo fermento do Espírito. Este é evidenciado, por exemplo, pela centralidade da Palavra de Deus, por um laicato mais livre e mais missionário e por um caminho sinodal que se tornou uma forma necessária.

O declínio, explicou o pregador, torna-se decadência se a Igreja perde a “consciência da própria natureza sacramental e se percebe como uma organização social”, reduzindo a fé à ética, a liturgia à performance e a vida cristã a moralismo. Em vez disso, para além de posições ideológicas, como o tradicionalismo e o progressismo, o declínio pode se tornar “um tempo de graça” no momento em que a Igreja retorna “ao coração do Evangelho”, distanciando-se de estratégias humanas, de contraposições que dividem e tornam estéril cada diálogo, bem como de soluções imediatas e fáceis.

Em última análise, concluiu o padre Pasolini, a Igreja não é algo a ser edificado segundo critérios humanos, mas é um dom a ser recebido, protegido e servido com gestos humildes, dia após dia. Ele concluiu a reflexão rezando para que “o povo dos fiéis possa sempre progredir na construção da Jerusalém celeste”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo
Skip to content