Catequese

A unidade é uma regra de vida, a uniformidade não, afirma Papa

Na Catequese desta quarta-feira, 13, Francisco afirma que ser católico não é uma denominação sociológica para gerar distinção; católico é um adjetivo que significa universal

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco durante Audiência Geral/ Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

“A liberdade cristã, fermento universal de libertação”. Este foi o tema da catequese do Papa Francisco desta quarta-feira, 13. A Audiência Geral aconteceu na Sala Paulo VI, no Vaticano, onde se reuniram milhares de fiéis.

Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta aos Gálatas, o Papa sublinhou que São Paulo considera o âmago da liberdade o fato de que, com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, homens e mulheres foram libertados da escravidão do pecado e da morte.

Com outras palavras, o Santo Padre explica: “Somos livres porque fomos libertados, libertados pela graça, não por pagamento, libertados pelo amor, que se torna a lei suprema e nova da vida cristã. O amor. Somos livres porque fomos libertados gratuitamente. Este é o ponto – chave”.

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Segundo o Pontífice, esta novidade de vida abre todos para acolherem cada povo e cultura e, ao mesmo tempo, abre cada povo e cultura a uma maior liberdade. Na verdade, prossegue o Papa, São Paulo diz que para aqueles que aderem a Cristo, já não importa se são judeus ou pagãos. Conta apenas “a fé que atua pela caridade”.

“Os detratores, fundamentalistas, que criticam a novidade evangélica, algo não apenas da nossa época, mas que tem uma longa história, Paulo responde com parrésia, dizendo: ‘Por acaso é aprovação dos homens que estou procurando, ou é aprovação de Deus? Ou estou procurando agradar aos homens? Se estivesse procurando agradar aos homens, eu já não seria servo de Cristo’. ‘Uma fé que não é fé, é mundanidade'”, acrescentou.

Liberdade

Francisco reflete que o pensamento de Paulo mostra-se de uma profundidade inspirada. Para ele, aceitar a fé significa renunciar não ao coração das culturas e tradições, mas apenas ao que pode impedir a novidade e a pureza do Evangelho.

A liberdade obtida pela morte e ressurreição do Senhor não entra em conflito com as culturas e tradições recebidas, mas introduz nelas, nas culturas, nas tradições, uma nova liberdade, uma novidade libertadora, a do Evangelho, disse o Santo Padre.

“Com efeito, a libertação obtida através do batismo permite-nos adquirir a plena dignidade de filhos de Deus, de modo que, enquanto permanecemos firmemente enxertados nas nossas raízes culturais, ao mesmo tempo que nos abrimos ao universalismo da fé, que entra em cada cultura, reconhece os seus germes de verdade presentes e desenvolve-os, levando à plenitude o bem neles contido”, comenta.

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Para o Pontífice, aceitar que homens e mulheres foram libertados por Cristo, a sua paixão, morte e ressurreição, é aceitar e levar a plenitude verdadeira às diferentes tradições de cada povo. A verdadeira plenitude.

Segundo o Pontífice, “no chamado à liberdade descobrimos o verdadeiro significado da inculturação do Evangelho, ou seja, que o Evangelho pega a cultura na qual vive a comunidade cristã e fala de Cristo com aquela cultura. O verdadeiro sentido desta inculturação é ser capaz de proclamar a Boa Nova de Cristo Salvador, respeitando o que é bom e verdadeiro nas culturas. Isto não é fácil! Há muitas tentações de impor o próprio modelo de vida como se fosse o mais evoluído e desejável”.

Erros na história da evangelização

“Quantos erros foram cometidos na história da evangelização ao querer impor apenas um modelo cultural, a uniformidade. A uniformidade como regra de vida não é cristão. A unidade sim, mas a uniformidade não. Por vezes, nem sequer renunciaram à violência a fim de fazer prevalecer o próprio ponto de vista. Pensemos nas guerras! Desta forma, a Igreja privou-se da riqueza de tantas expressões locais que têm em si as tradições culturais de povos inteiros. Mas isto é exatamente o oposto da liberdade cristã! Por exemplo, me lembro quando se estabeleceu a maneira de fazer apostolado na China com o pe. Ricci ou na índia com pe. De Nobili. Isto não é cristão. Sim, é cristão na cultura do povo”.

O Papa sublinha a necessidade de respeitar a origem cultural de cada pessoa, colocando-a num espaço de liberdade que não seja restringido por qualquer imposição ditada por uma única cultura predominante. De acordo com Francisco, este é o significado de “católicos”, de falar da Igreja católica:

“Não é uma denominação sociológica para nos distinguir dos outros cristãos; católico é um adjetivo que significa universal, a catolicidade, a universalidade, Igreja universal, ou seja, católica. Significa que a Igreja tem em si, na própria natureza, uma abertura a todos os povos e culturas de todos os tempos, pois Cristo nasceu, morreu e ressuscitou para todos”.

Evangelização atual

Por outro lado, a cultura está, pela sua natureza, em contínua transformação, afirma o Pontífice. Francisco convidou os fiéis a pensarem em como são chamados a proclamar o Evangelho neste momento histórico de grande mudança cultural, onde parece predominar a tecnologia cada vez mais avançada. “Se pretendêssemos falar da fé como se fazia nos séculos passados, correríamos o risco de já não sermos compreendidos pelas novas gerações”.

“A liberdade da fé cristã, a liberdade cristã”, conclui o Papa, “não indica uma visão estática da vida, uma visão estática da cultura, mas uma visão dinâmica, uma visão dinâmica também da tradição que cresce, mas com a mesma natureza”.

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