Padre Cleiton Gregório explica que, na Quaresma, cada batizado é convidado a assumir uma postura e um coração penitentes
Mauriceia Silva
Da Redação
Nesta Quarta-Feira de Cinzas, 22, tem início o tempo litúrgico da Quaresma, em preparação à Páscoa na tradição cristã. Este tempo de 40 dias é marcado por penitência e oração mais intensas, em que a Igreja convida os fiéis a se prepararem profundamente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
A participação na missa na Quarta-Feira de Cinzas tem grande significado litúrgico e espiritual. Segundo o Vigário paroquial da Paróquia Santa Maria em Baependi (MG), padre Cleiton Gregório Evaristo, as cinzas são uma realidade que se encontra já no antigo testamento.
“O próprio profeta Jeremias nos fala sobre esse sentido do arrependimento, do uso de sacos e principalmente de se espalhar cinzas no arrependimento sincero, no coração contrito para requerer de Deus e pedir o perdão pelos pecados cometidos.”
Padre Cleiton explica que, na Igreja Católica, por volta do ano 300, o uso das cinzas também entrou nas celebrações, mas principalmente também esta atitude de se declarar um pecador confesso. “Apenas no século sétimo é que a tradição das cinzas se espalhou dentro da Igreja e passou a ser vivida como uma prática sacramental, desse desejo intenso de arrependimento para se preparar também para viver bem a Quaresma e o tríduo pascal.”
Jejum, esmola, oração
A Quarta-Feira de Cinzas é um dia penitencial, um dia em que se deve abster de carne. O sacerdote explica que, toda sexta-feira da Quaresma, os fiéis são chamados a abdicar da carne e o horário das 15h recorda a Paixão de Cristo. “A Igreja nos oferece o jejum, não só do alimento, mas também daquilo que nós não temos muito costume de não resistir, daquilo que nos enfraquece.”
Também neste tempo se exercita a caridade, entendida como a esmola, que é obra de misericórdia de olhar para o necessitado. Outro ponto forte é a oração.
De que são feitas as cinzas?
Mas como são feitas as cinzas? Padre Cleiton explica que elas vêm dos ramos do Domingo de Ramos do ano anterior. “As cinzas são feitas dos ramos que foram guardados e queimados para que, dessas cinzas, se possa viver bem esse desejo intenso de arrependimento.”
Cada batizado é convidado a assumir uma postura e um coração penitentes no itinerário quaresmal. Sendo assim, pode haver um questionamento sobre qual seria a penitência adequada. Padre Cleiton explica que a contrição perfeita é aquela em que o batizado, o penitente, manifesta total arrependimento do pecado cometido e um desejo de se afastar da vida de pecado.
Por este motivo, a Igreja oferece exercícios e mortificações para ajudar a fortalecer o espírito e vencer as tentações da carne. “Aquilo que nós podemos ver em Romanos 8, quando então Paulo dizia que aqueles que vivem da carne buscam as coisas carnais, e aqueles que vivem do espírito buscam as coisas do Espírito”, comenta o sacerdote. E acrescenta: “Então, para que nós possamos demonstrar uma contrição perfeita, é também necessário mortificar a carne”.
A Reconciliação
O sacramento da Reconciliação é importante na vida de todo católico. O sacerdote recorda que, no Evangelho segundo Mateus, Jesus diz com toda clareza que o poder de perdoar os pecados foi dado aos apóstolos, em nome de Cristo. Os sucessores dos apóstolos são os bispos que mantêm essa sucessão apostólica.
O bispo, por sua vez, como não pode estar em todos os lugares da sua diocese, chamou os seus colaboradores que são os sacerdotes e deu a eles a autoridade também de confessar os pecados. “Por isso é necessária a confissão auricular, a confissão em que você procura o sacerdote e se confessa diretamente com ele”. Padre Cleiton ainda acrescenta: “A prática da confissão comunitária é para lugares com dificuldade do sacerdote atender, mas isso não pode se tornar uma tendência para nós.”
Campanha da Fraternidade
Padre Cleiton recorda que a caridade tudo tem haver com a Campanha da Fraternidade 2023, uma iniciativa da Igreja no Brasil no período quaresmal. O tema deste ano é “fraternidade e fome” e o lema é “dai-lhe vós mesmos de comer”, remetendo ao texto bíblico da multiplicação dos pães.
A partir daí, o padre afirma que é preciso olhar para a necessidade daqueles que estão ao redor, que estão nos hospitais, nos orfanatos, as famílias que passam necessidades, os idosos que estão sozinhos.
Experiências devocionais
A Quaresma é tempo propício para as mortificações, mas padre Cleiton afirma que, apesar de necessárias, elas não precisam ter exageros. “Hoje em dia não se vive mais o rigor exagerado que se vivia na idade média, e muitas vezes até sem sentido. Isso acontece quando a pessoa quer realizar práticas exteriores mas não interiores, que não demonstram a verdadeira conversão do coração.”
O sacerdote compara a penitência a um ramalhete de flores dado a Jesus e diz que é necessário ter um coração oblativo e buscar reparação. Cada batizado, ressalta o padre, precisa procurar a melhor maneira de viver a mortificação seja através da oração do santo terço, da leitura da Palavra, do jejum, indo à adoração no sacrário, fazendo momentos de vigília, dentre outras iniciativas. “São essas experiências devocionais que vão ajudando as pessoas a se colocarem junto do coração de Cristo, a se aproximarem mais do coração de Jesus,” conclui.