Santo do Dia

Padres: pensamentos de São Tomás de Aquino são valiosos para a Igreja

No dia em que a Igreja celebra São Tomás de Aquino, sacerdotes comentam obras e principais pensamentos do santo

Julia Beck
Da redação

São Tomás de Aquino /Foto: Reprodução Canção Nova

São Tomás de Aquino é celebrado neste sábado, 28, pela Igreja Católica. Conhecido por seu magistério eclesial, os estudos e pensamentos deste santo foram e ainda são recomendados amplamente pelos Papas, indica o professor de filosofia e teologia do Centro Universitário Academia (UniAcademia) e vigário paroquial na Catedral Metropolitana de Juiz de Fora (MG), padre Elílio de Faria Matos Júnior.

O sacerdote recorda São Paulo VI ao sublinhar que a Igreja confirmou a doutrina de São Tomás de Aquino e serve-se dela como de um instrumento de grande eficácia a ponto de a incluir no âmbito do seu próprio Magistério (Carta apostólica “Lumen Ecclesiae”).

Ainda de acordo com o presbítero, o Concílio Vaticano II pede que o santo seja tido como guia nos estudos eclesiásticos. Isto porque a expressão teórica do Evangelho alcançou em São Tomás de Aquino um nível muito alto de excelência, tanto pela profundidade da exposição, quanto pela fidelidade.

“É nesse sentido que São Tomás expressa bem o pensamento católico. O pensamento do santo doutor vive nos seus escritos e nos seus intérpretes. Há muito material, o que mostra que a verdade católica é de uma riqueza infinita, e sua expressão não encontra limites”, ressalta.

Fé e razão

Padre Anderson Luiz de Sousa /Foto: Arquivo Pessoal

O reitor do Seminário de filosofia e teologia da Diocese de Lorena – Maria, mãe dos sacerdotes, padre Anderson Luiz de Sousa, destaca que a base do pensamento de São Tomás de Aquino é a união entre fé e razão. “Ele bebeu da fonte clássica da filosofia e isso fez com que ele estabelecesse uma relação da lógica aristotélica com a fé cristã, ou seja, ele criou uma ponte entre a filosofia e a teologia”.

O sacerdote diz que o santo compreendeu que a razão é uma realidade humana também criada por Deus. “Quando a razão é bem utilizada, ela consegue aproximar uma pessoa da fé”, explica.

Padre Elílio relembra que o santo procurou fazer ver que as interrogações e os conhecimentos da razão não se contrapõem ao Evangelho que a Igreja guarda e anuncia. “O mesmo Deus que criou a razão é também o autor do Evangelho. Fé e razão se fecundam, se ajudam e se complementam”.

São Tomás de Aquino e a Eucaristia

São Tomás de Aquino tinha a Eucaristia como o grande sacramento da salvação, comenta padre Elílio. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, o presbítero frisa que acontece a transubstanciação, um evento real que é captado pelo olhar da fé e que São Tomas procurou explicar de modo aprofundado em seus textos.

Segundo o sacerdote, o Santo Doutor, além de grande pensador, tinha também uma veia poética. “A pedido do Papa Urbano IV, que estabeleceu a festa de Corpus Christi em 1264, compôs hinos eucarísticos muito belos e profundos, como o Adoro te devote, que, escrito originariamente em latim, foi traduzido em diversas línguas”, acrescenta.

Escritos

Padre Anderson frisa que no século XIII a Igreja percebeu que precisava formar melhor os seus líderes, sobretudo os seus sacerdotes. “Foi quando surgiram as Universidades Cristãs. São Tomás de Aquino, um grande líder deste tempo, lecionou em muitas dessas universidades”.

O santo escreveu muito e se valeu de diversos gêneros. Padre Elílio destaca entre as obras maiores: Summa theologiae, Summa contra gentiles, Quaestiones disputatae de veritate, Compendium theologiae, De ente et essentia, entre outros.

A Summa theologiae (Suma teológica) é obra mais conhecida e divulgada do santo, definem os dois sacerdotes. Trata-se de uma obra incompleta, à qual se acrescentou depois da morte do santo o supplementum.

“A sua estrutura é a do movimento exitus – reditus (saída e retorno). A primeira parte fala do Deus Uno e Trino, Princípio de todas as coisas, e das criaturas que promanam dele pelo ato criador; a segunda parte trata da vida ética, pela qual o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, dispõe-se a retornar ao Princípio; a terceira e última parte trata de Cristo, Verbo feito homem, como meio pelo qual o homem cumpre seu retorno a Deus e recebe a graça de participar da vida divina”, sintetiza padre Elílio.

Título de Doutor da Igreja

Padre Elílio de Faria Matos Júnior /Foto: Arquivo Pessoal

Sobre o título de Doutor da Igreja atribuído a São Tomás de Aquino, padre Elílio destaca que segundo o Papa Bento XIV (1740-1758), há três critérios para que se receba o título de Doutor da Igreja: a doutrina eminente, a santidade de vida e a eleição pelo Papa ou pelo Concílio Ecumênico. O título só pode ser conferido depois da morte, após a aprovação da Igreja.

“O fiel que, passando pelo processo de canonização, destaca-se por iluminar a vida da Igreja com a sua sabedoria ou o seu conhecimento de caráter teológico ou espiritual pode receber o título de Doutor da Igreja”, explica o sacerdote.

Padre Anderson lembra que o santo também é padroeiro das Universidades.

Marcando sacerdócios

Padre Elílio afirma que São Tomás de Aquino o marcou profundamente. “Desde os inícios de meus estudos filosóficos, aproximei-me dele, e, à medida que conhecia o seu pensamento, era tomado de grande maravilhamento”, comenta.

O sacerdote revela que sempre buscou uma “fé esclarecida”, de modo que o estilo de São Tomás de Aquino, por valorizar o conúbio de fé e razão, o ajudou imensamente.

 “De São Tomás sempre trago o que considero a sua grande originalidade: a intuição da perfeição intensiva do ser (esse). O ser é o ato de todos os atos e a perfeição de todas as perfeições, ensinou o Santo Doutor. Deus é o Ser puro, ao passo que as criaturas têm o ser participado de Deus. A dignidade do homem, dotado de intelecto e de vontade, está no fato de poder acolher o ser e amá-lo – o homem é capax entis -; em virtude da sua abertura ao ser em geral, é capaz de acolher a Deus e amá-lo, de participar da sua Luz e de sua Bem-aventurança eterna”.

Com São Tomás de Aquino, padre Anderson revela que aprendeu que o teólogo deve estudar a revelação de Deus à luz do próprio Deus, pois Deus é o princípio e o fim de tudo. Outra frase que o sacerdote destaca como fundamental em seu ministério é a seguinte:

“Três coisas são necessárias para a salvação do homem: saber o que deve crer, o que deve querer e o que deve fazer. Crer em Deus Pai, querer a vida eterna e fazer o bem.”

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