''O PAPA BOM''

Igreja celebra São João XXIII, Papa que convocou Concílio Vaticano II

Padres recordam exemplo de abertura ao Espírito Santo e diálogo ecumênico deixado por Roncalli, que dizia “não é concebível ser cristão sem ser missionário”

Laura Lo Monaco
Da Redação

São João XXIII

Nesta sexta-feira, 11, a Igreja Católica celebra a memória de São João XXIII, conhecido como “Papa Bom” ou “Papa da Bondade”. Apesar de curto, seu pontificado entre 1958 e 1963 foi marcado por diversas contribuições à Igreja, com destaque para a convocação do Concílio Ecumênico Vaticano II. 

Padre Alexandre Boratti Favretto / Foto: arquivo pessoal

João XXIII foi canonizado em 27 de abril de 2014 pelo Papa Francisco. De acordo com o diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e membro da Diocese de Limeira (SP), padre Alexandre Boratti Favretto, o que fez o Papa João XXIII ser santo é o elemento comum todos os santos: o desejo de imitar Jesus Cristo, que passa pela vivência das virtudes cristãs, sobretudo a da humildade. “Ele não quis um concílio centrado na sua pessoa”, declara.

Em 1959, João XXIII criou uma comissão preparatória e enviou cartas para bispos, religiosos, professores, para que eles definissem os temas importantes a serem tratados no Concílio: o encaminhamento precisava ser dado à Igreja naquele tempo segundo a condução do Espírito Santo. “O que o fez santo, certamente, é a expressão dessa virtude de humildade na consulta ao mundo sobre aquilo que o concílio deveria tratar”, afirma padre Alexandre. 

Quem foi São João XXIII?

Padre Douglas Alves Fontes / Foto: arquivo pessoal

Angelo Giuseppe Roncalli nasceu no dia 25 de novembro de 1881 em Sotto il Monte, na província de Bérgamo, na Itália. Aos 23 anos, foi ordenado sacerdote na Igreja de Santa Maria de Monte Santo, em Roma, e sua primeira Missa foi celebrada na Basílica de São Pedro. O assessor da Comissão para Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e membro do clero da Diocese de Niterói (RJ), padre Douglas Alves Fontes, relata que Roncalli iniciou sua caminhada como padre na diocese de Bérgamo, onde foi secretário do bispo e professor do seminário. “Depois desse tempo exercendo seu ministério sacerdotal na sua própria região, ele foi nomeado bispo e atuou por cerca de 30 anos como diplomata, trabalhando como visitador apostólico na Bulgária, na Grécia e na Turquia”, afirma.  

Padre Alexandre sublinha que a Bulgária é um país conhecido pelo diálogo ecumênico e inter-religioso bastante desenvolvido. “Roncalli bebeu dessa boa relação entre as religiões e, de certo modo, isso marcou a sua vida, porque ele foi um grande incentivador do diálogo ecumênico e inter-religioso, como se vê no Concílio”, observa. 

Roncalli recebeu a ordenação episcopal em 19 de março de 1925, em Roma. A caridade e a solicitude sempre foram presentes no trabalho pastoral de Ângelo Roncalli: a cada visita, a cada discurso, a cada celebração eucarística, ele se entregava a Jesus crucificado e consolidava a sua confiança Nele, suportando em silêncio as incompreensões de seu trabalho apostólico. Em 28 de outubro de 1958, foi eleito Papa, sucedendo Pio XII.

Concílio Vaticano II 

Padre Douglas explica que o Concílio Ecumênico Vaticano II foi aberto em 1962 e concluído em 1965, e que o então Papa João XXIII o convocou com o desejo de fazer com que a Igreja pudesse, atenta aos sinais dos tempos, responder às inúmeras questões que surgiam, questionando a própria Igreja sobre sua missão. “O Concílio foi na verdade um impulso claro do Espírito Santo movendo São João XXIII para que pudesse fazer com que a Igreja se tornasse cada vez mais mãe e mestra como ele próprio havia declarado em uma de suas encíclicas”, salienta

Papa João XXIII durante Concílio Vaticano II / Foto: Reprodução Vatican News

O Concílio refletiu sobre vários temas, situações e realidades próprias da Igreja. “O ponto central foi a própria liturgia renovada, fruto de todo o movimento pré-conciliar, e que foi então oficializado dentro do Concílio como essa nova expressão de celebrar a mesma fé celebrada da Igreja, porém de uma maneira um pouco diferente, numa linguagem que fosse mais compreensível para os contemporâneos”, afirma o assessor. “Este evento não marcou ruptura com o passado”, acrescenta, “mas soube valorizar o patrimônio da inteira tradição eclesial para orientar os fiéis na resposta aos desafios da nossa época”. 

Reflexão sobre a identidade e missão da Igreja 

Uma das contribuições deste evento foi a reflexão sobre a própria definição de Igreja. Padre Alexandre recorda o documento Ad Petri Cathedram, que se propôs a três objetivos: diálogo com o mundo, incremento pastoral e renovação dos costumes. “Portanto, o Concílio realiza uma mudança de perspectiva, não só na maneira como a Igreja se portar no mundo, mas na própria maneira de ser Igreja”, aponta. 

O Vaticano II é considerado um divisor de águas no que se refere ao próprio ser da Igreja. “É a primeira vez que nós vemos a própria Igreja se dando uma definição dogmática, se definindo como mistério, sacramento de Jesus Cristo, povo de Deus e comunhão, se vendo a partir da dinâmica trinitária”, afirma o diretor. Desta visão decorrem muitos aspectos, como a pastoralidade, uma vez que “a doutrina é pensada não só no nível teórico, mas também no prático, no missionário”. 

“Primavera da Igreja”

O Concílio é conhecido pela expressão “Primavera na Igreja” e isto se deve a uma palavra de São João Paulo II. Ele descreve que, graças ao sopro do Espírito Santo, o Vaticano II lançou as bases de uma nova primavera da Igreja, “um despertar esperançoso da missão da Igreja, que desejava dialogar e dar respostas aos homens do século XX diante de tantas questões com as quais eles enfrentavam e, por consequência, a própria Igreja enfrentava”, afirma padre Alexandre. 

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Por outro lado, há também pessoas que questionam a validade do Concílio Vaticano II. De acordo com padre Douglas, não reconhecer este evento é não reconhecer a autoridade da Igreja e, de certa maneira, separar-se dela. “Tudo aquilo que o Concílio refletiu e discerniu foi feito com autoridade dos padres conciliares convocados sob a ação do Espírito Santo e sob a autoridade daquele que preside o colégio universal dos bispos que é o sucessor de Pedro”, cita. Além disso, reitera que “não é apenas negar o Concílio como evento eclesial mas é negar também a autoridade do Papa que presidia este Concílio”, finaliza.

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