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Idosos: Cardeal Turkson pede solidariedade entre gerações

Casas de repousos para idosos registram 50% das mortes na Europa, e o Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral pede solidariedade dos mais jovens para com os idosos

Da redação, com Vatican News

Cardeal Peter Turkson, Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano / Foto: REUTERS – Stefano Rellandini

É nas estruturas para os idosos que se registam, na Europa, quase 50% das mortes causadas pelo novo coronavírus. Em janeiro, o Santo Padre recordou que “a velhice é um privilégio, não uma doença”. O Cardeal Peter Turkson, Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, pede que haja solidariedade entre as gerações.

Uma tragédia inimaginável. Foi assim que a definiu Hans Kluge, diretor regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Europa. No continente, metade das vítimas da pandemia do Covid-19 se registra em estruturas para idosos. Este número está, agora, próximo dos 50 mil. “Há uma necessidade urgente e imediata de repensar a forma como essas casas funcionam, hoje, e como funcionarão no futuro”, acrescentou Kluge, sublinhando que “as pessoas que trabalham nessas estruturas — muitas vezes com excesso de trabalho e sem proteção adequada – estão entre os heróis desta pandemia”. Todos, portanto, são novamente chamados a se questionar sobre a condição dos idosos, com especial referência aos locais e pessoas, e com quem passam os seus dias. A Igreja, desde sempre, é particularmente atenta a essas questões.

“Os jovens têm sempre responsabilidade para com os idosos”

A solidariedade entre as gerações é um dever em cada cultura e em cada povo, mas “os jovens nem sempre estão na comunidade ao serviço dos idosos, embora isso deva valer sempre, é uma tarefa que nunca pode faltar, porque se os jovens estão aqui é devido à presença dos idosos”. O cardeal Peter Turkson expressa este conceito várias vezes na entrevista ao Vatican News. O Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral recorda como, no passado, mesmo nas comunidades africanas, isso era mais perceptível do que hoje. A sua reflexão parte da própria natureza do homem, “uma criatura frágil e imperfeita”, cuja “fragilidade, no entanto”, assinala, “não implica necessariamente um elemento de negatividade”. Uma condição que também se manifesta no que “o homem é capaz de realizar, incluindo no que diz respeito aos cuidados e ao sistema de saúde”. “A tecnologia — salienta o prefeito — fez-nos sentir onipotentes, mas perante esta emergência pandêmica até os países mais ricos tiveram de lidar com coisas pequenas, como a falta de máscaras”.

Os idosos devem ser valorizados

O prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral coloca, então, a sua atenção sobre a própria essência da comunidade, “que se torna viva — diz — pela presença de alguém que sabe cuidar do outro”. Os idosos devem ser valorizados, disse, muitas vezes, o Papa Francisco”, sublinhou o cardeal, acrescentando que nunca deve faltar gratidão e solidariedade para com eles. “Não esqueçamos outra fragilidade: existem diversas ideologias”, disse o cardeal, “que influenciam a forma como vivemos a vida, que, de certo modo, limitam os nascimentos e criam assim situações em que os idosos têm sempre falta de jovens para cuidar deles”. Na maioria dos lares para idosos, não são os jovens, por assim dizer, que cuidam deles, ainda que isso seja um dever”.

Palavras e sentimentos

As palavras do cardeal Turkson nos encorajam, assim, a refletir sobre os termos utilizados. A casa, vamos tentar imaginá-la, é onde crescemos durante a infância, e é, certamente, aquela pequena parte do mundo onde construímos as nossas vidas. Há muitas pessoas que decidem transcorrer, a parte final da vida, numa estrutura, seja porque estão sozinhas ou simplesmente ansiosas por viver os últimos anos das suas vidas de uma forma comunitária. Outros, porém, não têm alternativa e, muitas vezes, mesmo contra os seus desejos, vivem em realidades que dificilmente podem se chamar “casas”. Isso não é para diminuir o precioso e louvável trabalho daqueles que, nessas estruturas, dedicam, diariamente, as suas energias aos idosos. Pelo contrário, não é raro estes trabalhadores serem as únicas (ou quase) referências — mesmo em nível emocional — para milhões de homens e mulheres em todos os cantos do mundo. A intenção, sim, é abrir uma reflexão mais ampla sobre o ser idoso no século XXI. O Papa Francisco disse isso há alguns meses: “Ser idoso é um privilégio”. A velhice não é uma doença”.

Os anciãos são testemunhas privilegiadas do amor de Deus

“A velhice não é uma doença, é um privilégio! A solidão pode ser uma doença, mas com caridade, proximidade e conforto espiritual podemos curá-la”. O Papa disse isso, em 31 de janeiro passado, encontrando, no Vaticano, os participantes do primeiro Congresso Internacional de Pastoral para Idosos, centrado no tema “A riqueza dos anos”. Quando se pensa nos idosos, observou Francisco, é preciso aprender a mudar os tempos verbais. “Não há apenas o passado, como se, para os idosos, só houvesse uma vida atrás deles e um arquivo bolorento”. “O Senhor — explicou o Papa — pode e quer escrever com eles também novas páginas, páginas de santidade, de serviço, de oração”. Também os idosos “são o presente e o amanhã da Igreja”. “O plano de salvação de Deus — disse novamente o Papa — é também realizado na pobreza de corpos fracos, estéreis e impotentes. Do ventre estéril de Sara e do corpo centenário de Abraão, nasceu o Povo eleito. De Isabel e do idoso Zacarias nasceu João Batista. O idoso, mesmo quando é fraco, pode tornar-se um instrumento da história da salvação”.

O mundo e a Europa

O número dramático divulgado, nesses dias, diz respeito, portanto, ao continente europeu, onde Kluge representa a OMS. Deve-se dizer que a Europa tem, hoje, a idade média mais elevada do mundo de cidadãos com 43 anos, dez a mais do que os 33 anos da América e da Oceania, à frente de 30% da Ásia (31 anos de idade) e até mesmo 25 anos além do continente africano (onde os cidadãos têm em média 18 anos de idade). Além disso, a esperança de vida na Europa — tal como foi reportado pela OMS em 2018 — ultrapassou, recentemente, a de outros continentes, embora o país que lidera essa classificação específica continue sendo o Japão, com 84 anos.

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