Grupo de risco

Em casa devido à pandemia, idoso diz: "prevenção é uma forma de amor"

Idoso de 89 anos fala sobre cuidados adotados pela família para preservá-lo do contágio do novo coronavírus; psicóloga explica dificuldade dos idosos em viverem o isolamento social

Julia Beck
Da redação

José Penido, de 89 anos, está seguindo a recomendação da OMS e do Ministério da Saúde e permanece em casa durante a pandemia de coronavíris/ Foto: Arquivo Pessoal – José Penido

O aposentado de 89 anos José Sebastião Penido completa, nesta terça-feira, 24, onze dias sem sair de casa. A medida adotada pelo idoso e sua família está em sintonia com a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). No Brasil, a doença já soma 1891 infectados e 34 mortos, de acordo com dados divulgados na tarde desta segunda-feira, 23, pelo Ministério da Saúde.

Pertencente ao grupo da população que é mais suscetível ou vulnerável ao Covid-19 (idosos, diabéticos, hipertensos, quem tem insuficiência renal crônica, quem tem doença respiratória crônica e quem tem doença cardiovascular), no início Penido apresentou resistência ao pedido dos cinco filhos para que ficasse mais recluso.

“Meu pai custou a entender que não podia sair de casa, ir à missa. Ele resistiu demais. Tivemos que ser muito firmes com ele. Foi doloroso, difícil. No primeiro dia chorei, mas depois ele foi procurando soluções, alternativas, aí descobriu que podia assistir missa pelos meios de comunicação, descobriu os horários das missas na Canção Nova e foi se adequando”, conta uma das filhas do aposentado, a psicóloga Maria Tereza Penido Ferreira.

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A psicóloga Yasmin Valério/ Foto: Arquivo Pessoal – Yasmin

A psicóloga Yasmin Valério explica que a dificuldade dos idosos em se adaptarem a este cenário se deve ao fato de já terem uma rotina estabelecida e valorizarem a autonomia que têm em suas atividades. Para ela, é fundamental que os idosos usufruam com qualidade desse tempo difícil.

Promoção de atividades físicas adaptadas, alimentação saudável, leitura de livros, incentivo a filmes com conteúdos alegres, além de espaço para a liberdade de expressão e criação são algumas dicas dadas pela psicóloga às famílias com membros que possuem mais de 60 anos.

“Tendo em vista que a população idosa se encontra como grupo de risco, é fundamental o papel da família para que a qualidade de vida nesse momento seja assegurada, já que a saúde é uma dimensão muito importante para a qualidade de vida dessa população e que pode ser afetada profundamente nesse momento com a deterioração física e mental”, completou a psicóloga.

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Maria Tereza conta que o pai tem ocupado o tempo fazendo várias atividades. “Todo dia ele publica em uma rede social o santo do dia, conversa com os amigos, também aqueles que moram no exterior, resolve as coisas dele de banco pela internet e faz atividades físicas no quintal. Ele tem 89 anos, mas está plenamente ativo, vê jornal, lê notícias, acompanha tudo pela internet. Ele está muito consciente. Agora ele está no momento em que agradece a gente pela nossa insistência, porque enquanto todos estavam se movimentando, ele já estava quietinho”, revela.

Rotina de cuidados

José Penido conta que toda a família já tem colocado em prática medidas para preservar sua saúde. “Minhas filhas trabalham e moram na mesma cidade que eu. Elas estão me dando assistência. Quando minhas filhas me visitam, não entram em casa, me veem do lado de fora e mandam um beijo. Estão aí para o que eu precisar”.

Ao visitar seu pai, José Penido, Maria Tereza mantém uma distância segura/ Foto: Arquivo Pessoal – Maria Tereza

O aposentado prosseguiu: “Minha nora, meu filho mais novo e meu netinho moram comigo. Nós somos beijoqueiros, gostamos de abraçar, mas tudo isso ficou de lado. Almoço com eles e tenho meus talheres separados, meu prato e meu copo separados também. Estamos sem neura, mas tomando todos os cuidados possíveis e com muita esperança, confiando em Deus”.

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Casada com Euro José Ferreira, de 61 anos, Maria Tereza também está tomando os mesmos cuidados com o marido que, além de estar na faixa etária de risco, também é hipertenso: “As medidas que adotamos aqui em casa são: sempre que chegamos tiramos nossos sapatos e a roupa na parte externa, entramos em casa e já tomamos banho. Todas as vezes que preciso sair, faço sempre esse procedimento”.

Prevenção é uma forma de amor

/ Arte: Agência Senado

“Eu acho que a prevenção é uma forma de amor. Quem ama cuida”, declara José Penido. O aposentado aconselha outros idosos a aceitarem a ajuda de filhos, familiares e amigos. “De preferência, não saia para nada. É muito importante cuidar da sua vida e da sua saúde”.

Para a filha de José Penido, Maria Tereza, o cuidado com o pai vai além da gratidão. “Se estamos aqui, somos felizes, é graças aos nossos pais, nossa criação, a dedicação que tiveram e o sacrifício que fizeram. Então, não é só por gratidão, mas é por entender que eles são vitais, imprescindíveis na nossa vida. Amamos muito meu pai e o que nós pudermos fazer para mantê-lo saudável e feliz, nós faremos, independente do sacrifício”.

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Maria Tereza esclarece que a prevenção é o melhor caminho sempre e para tudo. “Ela é mais barata, nos poupa do sofrimento, mas exige disciplina, comprometimento, amor e carinho. É um caminho que não gera culpa. Ficamos muito conscientes de que fazemos tudo que podemos e que está ao nosso alcance”.

Segundo a filha de Penido, neste momento é preciso ser muito carinhoso e firme com o idoso, o tratando com respeito e mantendo a atenção em todas as orientações recebidas. “Temos que ser mais teimosos que o idoso. Essa obrigação de mantê-lo dentro de casa é um gesto de amor e responsabilidade”.

A psicóloga Yasmin destaca que nesse momento é preciso se colocar no lugar da pessoa idosa e ver que ela também contribui de alguma forma com sua sabedoria e suas experiências. “É preciso escutá-la e colocar as medidas necessárias para mantê-la segura e sadia de forma cautelosa. O momento necessita de esforços de toda a população”.

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