Avaliação da ONU aponta que 2 milhões de pessoas são vítimas de tráfico humano, destinadas às mais diversas mazelas: trabalho forçado e prostituição são as principais
Thiago Coutinho
Da redação
Instituído em 2013 por uma Assembleia Geral das Nações Unidas, este 30 de julho recorda o Dia de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Estimativas da ONU apontam que, anualmente, 2 milhões de pessoas são vítimas deste crime. Outra pesquisa, realizada pelo Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime (UNODC), mostrou que a cada 10 vítimas de tráfico no mundo, cinco são mulheres e duas são meninas — as vítimas potenciais deste crime. Muitas vezes, são destinadas à exploração sexual ou ao trabalho forçado.
No último dia 19 de julho, realizou-se em Viena a terceira reunião suplementar sobre o tema da proteção das vítimas do tráfico. Na ocasião, fez-se presente a Missão Permanente da Santa Sé, que reiterou o apelo em prol da defesa da vida e da prevenção ao tráfico. “Devem ser feitos todos os esforços para que as crianças vítimas possam viver e se recuperar em paz no seu ambiente familiar”.
No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) conta com uma Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH). Liderada por Dom Evaristo Pascoal Spengler, a Comissão aponta que, somente em 2019, foram encontradas 1.050 pessoas em situação análoga à escravidão.
Infelizmente, para a sociedade, o trabalho escravo muitas vezes ainda é invisível. Segundo a comissão da CNBB, falta fiscalização, a situação de pobreza extrema potencializa este quadro, além da precarização das condições de trabalho.
“Não podemos nos acostumar com esse crime como sendo algo normal. Não é normal. Assim como no passado não foi normal a escravidão dos negros, o nazismo, e toda forma de exploração humana. Qualquer pessoa que saiba que outra pessoa vive em uma situação degradante, tem que denunciar. Isto é ser cristão”, declara Dom Evaristo.
Medidas enérgicas
A Cáritas Internacional, entidade que se dedica ao cuidado dos mais carentes, também alerta para esta situação de tráfico humano, especialmente após o conflito na Ucrânia. Assim como a ONU já detectou, a Cáritas afirmou que mais de 70% das vítimas são mulheres e crianças. “São necessárias ações drásticas para deter esse fenômeno da escravidão moderna e há a necessidade de fortalecer as medidas de combate a esse crime, incluindo políticas e regulamentações mais rigorosas em todos os níveis”, disse a Cáritas por ocasião da data deste ano.
Aloysius John, secretário-geral da Cáritas Internacional, alertou para o fato de que o tráfico humano encontrou na Internet uma maneira de propagação que tornou o crime maior e mais fácil de ser cometido. Segundo dados da Secours Catholique-Caritas France, cerca de 62% da prostituição passa pela Internet para conectar as vítimas, ou seus compradores, aos clientes. “Assim, o tráfico de pessoas é facilitado pelo acesso a novas tecnologias e isso não deve ser tolerado”, alertou John.