Comentando os últimos acontecimentos na Síria, o Núncio Apostólico diz que, apesar de alguma apreensão, a recente mudança de regime é uma “quebra de esperança”
Da redação, com Vatican News
Enquanto a Síria inicia o novo ano sem seu presidente deposto, Bashar al-Assad, o cardeal Mario Zenari se sente cautelosamente otimista sobre o futuro do país após 50 anos de ditadura e 13 anos de uma sangrenta guerra civil.
Em entrevista ao Vatican News, o Núncio Apostólico Italiano disse que alguns desenvolvimentos recentes oferecem razões para esperança, embora, ele alertou, ainda não se saiba se as promessas da nova liderança serão seguidas por ações concretas.
Mistura de esperança e apreensão
Em 31 de dezembro, o novo homem forte da Síria, Ahmed al-Sharaa, também conhecido como Abu Mohammed al-Jolani, encontrou-se em Damasco com líderes cristãos no contexto de crescentes preocupações entre as minorias sírias buscando garantias do novo regime.
A delegação, que foi recebida no Palácio Presidencial, incluía frades franciscanos da Custódia da Terra Santa, bispos e padres católicos sírios e representantes de outras religiões cristãs.
Durante a reunião, o líder do grupo islâmico Hay’at Tahrir al-Sham (HTS) ofereceu garantias aos líderes cristãos de que a nova Síria será inclusiva, desejando-lhes um Feliz Natal e um Ano Novo pacífico.
“Este evento teria sido inimaginável há apenas três semanas, e os bispos e padres presentes na reunião saíram com um sentimento de esperança para o futuro da Síria”, disse o Cardeal Zenari, que, na semana passada, também se encontrou com o novo Ministro das Relações Exteriores, Asaad Hassan al-Shaibani, a seu convite.
“No nível de liderança, há um entendimento de alguns princípios e valores fundamentais”, explicou o Núncio. “No entanto”, ele acrescentou, “ainda não se sabe se as palavras se traduzirão em ações”.
Cristãos devem permanecer na Síria
Apesar de algum otimismo compartilhado, os medos persistem especialmente entre os cristãos, com alguns ainda considerando a emigração devido a experiências passadas de perseguição e incerteza.
Essa mistura de esperança e apreensão marcou essas celebrações de Natal na Síria. Diante dessa situação, o Cardeal Zenari enfatizou a importância de os cristãos permanecerem e contribuírem para a reconstrução do país: “Este não é o momento de deixar a Síria, mas sim o momento de os cristãos de fora do país retornarem”, disse ele. “Os cristãos receberam a oportunidade — pelo menos em palavras — de participar da reconstrução da nova Síria, promovendo valores como direitos humanos, liberdade e respeito por todos. É vital estar presente e ativo nessa reconstrução”, enfatizou.