Entrevista

Cardeal fala do auxílio das mulheres na formação dos sacerdotes

O jornal mensal L´Osservatore Romano, publicado on-line, neste sábado, 25, refletirá os diferentes aspectos do papel das mulheres na formação sacerdotal

Da Redação, com Vatican News

O prefeito da Congregação para os Bispos, cardeal Marc Ouellet, na edição de maio de “Donne Chiesa Mondo” (Mulheres Igreja Mundo) , a revista mensal do L´Osservatore Romano que será publicada on-line, neste sábado, 25, reflete os diferentes aspectos do papel das mulheres na formação sacerdotal, nas comunidades paroquiais e na vida da Igreja.

“Elas podem fazer parte da equipe de formadores, especialmente em discernir vocações” / Foto: Vatican Media

As mulheres, geralmente, representam uma presença numericamente majoritária entre os destinatários e colaboradores da ação pastoral do padre. O número 151 da Ratio fundamentalis de 2016 aponta que a presença feminina na trajetória do seminário tem seu próprio valor, também para reconhecer a complementaridade entre homem e mulher. Para o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, ainda há muito a ser feito. Em entrevista ao Vatican News, o cardeal explica de que modo as mulheres podem exercer o trabalho neste campo. A seguir, leia um trecho da entrevista.

Eminência, o senhor é a favor da presença de mulheres na formação de sacerdotes e no acompanhamento espiritual. De que modo isso pode acontecer?

Cardeal Marc Ouellet – Elas podem participar de várias maneiras: no ensino teológico, filosófico, no ensino da espiritualidade. Elas podem fazer parte da equipe de formadores, especialmente em discernir vocações. Nesse campo, precisamos da opinião das mulheres, de sua intuição, de sua capacidade de compreender o lado humano dos candidatos, de seu grau de maturidade emocional ou psicológica. Quanto ao acompanhamento espiritual, a mulher pode ajudar, é claro, mas acho que é melhor para um padre acompanhar um candidato ao sacerdócio. A mulher, no entanto, pode acompanhar a formação humana, um aspecto que, na minha opinião, não é suficientemente desenvolvido em seminários. É necessário avaliar o grau de liberdade dos candidatos, sua capacidade de ser coerente, estabelecer seu plano de vida e também sua identidade psicossocial e psicossexual.

A afetividade é um campo em que a formação sacerdotal parece carecer?

Cardeal Marc Ouellet – Acredito que a experiência de colaborar com as mulheres de modo paritário ajude o candidato a imaginar seu futuro ministério e como ele saberá respeitar e colaborar com as mulheres. Se não começarmos durante a formação, o padre corre o risco de viver seu relacionamento com as mulheres de maneira clerical.

Na Ratio fundamentalis de 2016, publicada pela Congregação para o Clero, propõe-se uma formação integral do sacerdote, capaz de unir a dimensão humana, espiritual, intelectual e pastoral. Nesse contexto, a presença das mulheres é “integrativa” ou “fundamental”?

Cardeal Marc Ouellet – Creio que este texto precisa de mais aberturas e desenvolvimentos. Ainda estamos em uma concepção clerical de formação que se esforça para progredir, mas permanecendo na continuidade do que foi feito. Há mais elementos sobre a formação humana, mas acredito que ainda falta muito no que diz respeito à integração das mulheres na formação.

Muitas vezes, ouvimos dizer que as mulheres devem receber posições de responsabilidade. Isso é certamente importante?

Cardeal Marc Ouellet – Sim. Exatamente. Em recente discurso que fiz numa plenária da Congregação para a Educação Católica, reconheci o valor criativo do proemio do documento do Santo Padre Veritatis gaudium (a constituição apostólica do Papa Francisco sobre as universidades e faculdades eclesiásticas de 29 de janeiro de 2018) para a renovação do ensino superior, mas apontei que falta a dimensão da problemática das mulheres e da resposta da Igreja. Não se trata apenas de promover mulheres, mas de as considerar parte integrante de toda a formação. Seria necessário que, em um texto dessa importância, que visse o futuro, houvesse pelo menos uma alusão a isso. Isso é indicativo de onde ainda estamos! Quando falei na plenária da Congregação para a Educação Católica, havia reitores das universidades romanas; havia várias mulheres, mas proporcionalmente uma em cada dez. Ainda há muito a ser feito no ensino superior nas universidades católicas. Revolução cultural significa uma mudança de mentalidade. Para retornar à formação sacerdotal, um sacerdote pode se preparar para pregar bem, para desempenhar adequadamente todas as funções, mas o cuidado pastoral é, acima de tudo, o cuidado das pessoas. E atenção às pessoas é uma qualidade naturalmente feminina. A sensibilidade da mulher para a pessoa conta menos para a função. O Papa Francisco, em toda a sua proposta pastoral, pede que levemos em consideração as pessoas, que nos perguntemos como fazemos para acompanhá-las a crescer. Até agora, preocupamo-nos, principalmente, com a ortodoxia, conhecendo bem a doutrina, ensinando-a bem. Mas todas aquelas pessoas pobres que precisam compreender … Como vamos acompanhá-las?

A predominância feminina entre os que participam ativamente da vida das comunidades paroquiais é reconhecida. De onde vem a ideia de que a Igreja é uma realidade dominada por homens? Talvez devido ao ministério ordenado ser reservado aos homens?

Cardeal Marc Ouellet- Obrigado por esta pergunta importante. A resposta é: porque o modelo é clerical. Se a mulher não tem poder funcional, ela não existe. Embora a função seja muito secundária, porque está a serviço do batismo, deve fazer com que a filiação divina viva no coração dos homens. Esta é a Igreja! E todo o resto, a proclamação da Palavra, o dom do sacramento, serve para tornar viva essa realidade essencial. O Papa Francisco diz isso adotando uma ideia de Hans Urs von Balthasar. Ele diz que, na Igreja, Maria é superior a Pedro, porque Maria representa o sacerdócio batismal em sua expressão máxima, ela é a mediadora do presente do Verbo Encarnado para o mundo. E, portanto, a forma da Igreja é feminina, porque a fé é a aceitação da Palavra, e há uma aceitação fundamental da graça que é feminina. Maria é o seu símbolo. É essa eclesiologia que chamo de “nupcial”, porque quando digo nupcial, coloco o amor no primeiro andar. Isso se aplica não apenas aos cônjuges, mas também à vida consagrada, à vida sacerdotal e ministerial, tudo é unificado nessa relação nupcial entre Cristo e a Igreja, que revela ao mundo o mistério de Deus, que é amor.

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